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Tony Ramos fala sobre a vilania de Zé Maria em “A Regra do Jogo”

Os tipos românticos e heróicos fixaram o ator no imaginário do público, mas ele lembra que não é a primeira vez que faz um papel diferente desse padrão

atualizado

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Zé Paulo Cardeal/Divulgação TV Globo
1 de 1 Zé Paulo Cardeal/Divulgação TV Globo - Foto: null

A esta altura do campeonato, quem assiste à nove “A Regra do Jogo”, na TV Globo, já sabe que Zé Maria, personagem de Tony Ramos, de mocinho não tem nada. No início da novela, Zé Maria até enganou por algum tempo como um trabalhador esforçado, marido zeloso de Djanira (Cássia Kiss) e pai amoroso de Juliano (Cauã Reymond), o que fazia dele um homem acima de qualquer suspeita e, portanto, acusado injustamente de criminoso.

Mas a farsa do personagem não se sustentou e ele se revelou para o público um assassino, membro de uma facção e participante de uma chacina. No último sábado, o Zé Maria foi uma das peças de de um jogo de cena em que a mulher Djanira foi morta com um tiro no peito. Com vários personagens no recinto, entre mocinhos e bandidos, o próprio Zé Maria é um dos suspeitos.

Ao longo de 51 anos de carreira de TV, além de cinema e teatro, Tony Ramos, 67 anos, colecionou também papéis cheios de nuances, sejam com personalidades não totalmente más, mas com desvios de caráter, sejam esculpidos pela mais pura vilania. Agora, o ator vive o que já pode ser considerado o maior vilão de sua trajetória. Ele fala sobre essa experiência:

Zé Maria é o maior vilão no seu rol de personagens?
Sem dúvida. Sempre fiz tipos mais românticos, heróicos, pelo menos na memória popular. Mas fiz tipos que eram de uma vilania torta, aquele homem que usava de subterfúgios para conseguir subir a escala social. Isso fiz, por exemplo, na segunda versão da novela “Selva de Pedra” (1986). Fiz, em “Rainha da Sucata” (1990), um quatrocentão falido que fingia amor por uma mulher muito rica que era emergente. Você vai pegar um homem absolutamente enlouquecido, em fúria, porque surpreende a mulher em atos libidinosos, com dois homens ao mesmo tempo, em “Torre de Babel” (98). Ali, ele mata a mulher com uma pá. Acho que a experimentação junto ao público, de alguma forma, leva-o a entender a trajetória de um artista.

Nos bastidores com Cauã Reymond, que interpreta seu filho na trama *João Miguel Júnior/Divulgação TV Globo*
Nos bastidores com Cauã Reymond, que interpreta seu filho na trama *João Miguel Júnior/Divulgação TV Globo*

Mas, para o espectador, no começo, ficava a dúvida se Zé Maria era vilão ou um fugitivo tentando provar a inocência. Então, esse vilão já era desenhado desde a época do convite?
Eu sabia desde dezembro. O João (Emanuel Carneiro, autor da novela) me contou: esse é um homem que tenta provar sua inocência perante seu filho. Porque, na verdade, o grande amor da vida dele é o filho. Ele não quer, em nenhum momento, que esse rapaz se torne um bandido como ele é. É um sentimento contraditório de um assassino frio. Aí, li muito, ele me deu alguns trabalhos, o departamento de pesquisa nosso mostrou algumas coisas, pesquisas mundiais sobre como funciona a cabeça de certos psicopatas. Tem uma série deles. Tem aquele que fica na dualidade entre o “profissionalismo” do assassinato, do crime, e uma defesa dos entes mais queridos dele. Claro que é um homem perigosíssimo, doente. O Zé Maria era um trabalhador, até que ele começou a servir ao crime. Essa parte ainda não está explicada e é para o final da novela.

Perguntaram se você tinha medo de rejeição desse personagem e você respondeu que não tem mais idade para isso…
Todos temos de ter respeito ao próximo. Agora, não posso, em nenhum momento, ficar me ligando em opiniões divididas. Quando eu disse que não tenho mais idade para isso, é que não tenho de ficar olhando tudo isso. Quando você me pergunta sobre Twitter, seguir alguém, não tenho isso na minha vida. Não tenho Facebook, Instagram, estou livre dessas dependências todas.

E por que você não tem?
Porque não tenho a menor curiosidade de saber da vida dos outros. A internet foi feita, para mim, para pesquisa — adoro ver coisas de turismo. E vivo muito bem com isso. Ainda sou de um bom livro, de jornais na minha mão. Me guio pelo respeito ao espectador. Faço o melhor possível, trabalho uma média de 11 horas por dia. Não tenho problemas com opiniões contrárias. Quando fiz propaganda de carne, diziam: “não esperava isso de você”. Mas por que não? Comercial de remédio podia, de bebida alcoólica podia? Não faço propaganda disso. Conduzo minha carreira de maneira muito transparente.

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