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Reprise de O Clone no Viva: inovações e delírios marcaram época

Trama de Gloria Perez foi recheada de bordões inesquecíveis e consolidou a carreira de grandes atores das novelas brasileiras

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TV Globo/Divulgação
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1 de 1 Giovanna-Antonelli-Globo - Foto: TV Globo/Divulgação

Criar um ser à imagem e semelhança de outro era algo saído ou da Bíblia ou do universo da ficção científica até meados dos anos 1990, quando surgiu a ovelha Dolly. Mas se teve alguém que ensinou mais aos brasileiros sobre o assunto, este alguém é Gloria Perez. Foi em 2001 que um dos maiores sucessos dela tomou a telinha. Em O Clone, ousada empreitada da Globo no horário das oito (é, na época ainda era novela das oito), tecnologia, medicina e uma clássica história de amor são os ingredientes principais.

A trama volta ao ar nesta segunda (09/12/2019) no canal a cabo Viva, de segunda a sábado, às 23h (com reexibição às 13h30 no dia seguinte e maratona com os capítulos da semana nas noites de domingo). Dedicamos este espaço para relembrar os momentos inesquecíveis do folhetim, já considerado um novo clássico à medida que entramos na terceira década do século 21.

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Trama

Como em uma boa novela das antigas à la O Sheik de Agadir, um cenário exótico, do outro lado do mundo, dá o tom em O Clone. Jade, uma muçulmana, sai do Rio rumo ao Marrocos depois da morte da mãe. Lá ela se apaixona por Lucas, filho de um rico empresário carioca em visita ao país. O relacionamento, obviamente proibido ou então não seria novela, acaba abruptamente – Lucas volta para o Brasil e Jade se casa com Said. O casal lutará por anos para ficarem juntos novamente.

Clássico, não é mesmo? Até aí nada de novo no front. Só que, nesse ínterim, o irmão gêmeo do mocinho morre. Cabe a um médico visionário, o misterioso Doutor Albieri, clonar o falecido. Tempos mais tarde, adivinhem? A reprodução genética de Murilo Benício será a responsável pela formação de um inusitado triângulo amoroso.

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Gloria Perez

O ousado tema da clonagem foi apenas um dos muitos assuntos inovadores que Gloria Perez abordou em suas incursões televisivas. Sem medo de polêmicas, ela já havia falado sobre a quimbanda em Carmem (1987), na Manchete, barriga de aluguel na novela de mesmo nome (1990), transplante de coração em De Corpo e Alma (1992), além da internet, ainda um grande mistério para os brasileiros, em Explode Coração (1995).

Na trama de 2001, Gloria também explorou outras marcas registradas dela. A primeira é o fascínio por terras e culturas distantes, nesse caso o Marrocos e as tradições muçulmanas. A outra é a responsabilidade social. Um dos casos mais marcantes da novela é a personagem Mel, menina de família rica que se envolve com drogas pesadas, interpretada por Débora Falabella.

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Delírios

Para tudo isso funcionar, é preciso, nas palavras da própria autora, voar. O que não impede a demora em telespectadores mais críticos a engolirem certas coisas. Vamos aos fatos. Ou aos delírios. Se hoje a tecnologia permite que um Will Smith de 50 anos contracene com ele mesmo aos 18, em 2001 tudo era muito diferente. Mas ok, não custava também escalar outros atores para uma primeira fase passada nos anos 1980!

Giovanna Antonelli, a Jade, nasceu em 1976. Se em 2001 a atriz tinha 25 anos, a personagem já deveria ter no mínimo 36 (já que se envolveu com o clone do amado 18 anos depois do romance).

Murilo Benício, pai de Débora Falabella na trama, é apenas sete anos mais velho do que ela. Haja maquiagem! E o que dizer para os simples mortais, como nós, que passamos até duas horas num simples engarrafamento, que seremos capaz de chegar ao Marrocos a jato? A ponte aérea Rio-Fez realizava a façanha em pouquíssimo tempo.

Revelados

Vinda poucos anos antes da Manchete, onde havia feito Tocaia Grande e Xica da Silva, a ex-Angelicat Giovanna Antonelli ganhou destaque no ano anterior em terreno global. A prostituta Capitu de Laços de Família (2000) ganhou o público. Em O Clone foi alçada a protagonista e grande estrela do horário das oito. Seu par, Murilo Benício, teve trajetória semelhante. Coadjuvante até então, interpretou nada menos do que três papéis de uma só vez. Desde então consolidou a carreira. Tanto que agora, em pleno 2019, ele é onipresente na telinha (com as reprises de Por Amor e Avenida Brasil, além de Amor de Mãe, atualmente exibida na Globo, onde vive Raul).

Débora Falabella, filha de Benício na trama e ex do ator na vida real, também vingou. Thiago Fragoso, do mesmo núcleo de Débora, idem – mais recentemente foi o bom moço Patrick em O Outro Lado do Paraíso.

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Saudades

Assim como qualquer produção reprisada, poderemos assistir trabalhos de grandes nomes da dramaturgia que, como diria Miguel Falabella, “subiram para o andar de cima”. São eles Perry Salles, Mara Manzan, Sebastião Vasconcelos, Guilherme Karan e Ruth de Souza.

Bordões

O Clone segue um modelo consolidado das novelas: núcleo principal, quase sempre com gente rica, outros acessórios, classe média, e o de humor, este normalmente localizado nas periferias ou bairros menos abastados da trama. É nesse último que se concentram os melhores bordões, aquelas frases feitas repetidas à exaustão durante a trama.

Nesse quesito, ninguém barra Dona Jura, a dona do boteco, tipo mãezona, mas pavio curto – quando o bicho pegava, vinha ela com uma criação da própria Solange Couto, “né brinquedo, não”. Outra expressão também tornou-se um “must”. Mara Manzan, ao partir para o megapopular Piscinão de Ramos, novidade na época, mandava sempre aquele “cada mergulho é um flash”.

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foto-o-clone-dona-jura-solange-couto

No núcleo marroquino da novela, as expressões estrangeiras também comeram solto. Pecado virou haraam, todo mundo queria evitar “arder no mármore do inferno”, tio Abdul sempre dizia que se você deixasse o camelo botar a cabeça para dentro da tenda, ele montava em você, e até hoje, posso apostar, alguém vai soltar um “Insh’Allah, muito ouro” quando o assunto for o desejo de ganhar dinheiro.

Moda

Numa era pré-discussões sobre apropriação cultural, o estilo marroquino foi copiado sem dó e pegou de vez. A personagem Jade era a modelo. O olho tipo gatinha, as correntes e as tatuagens temporárias ganharam lojas, revistas de moda e as barracas de camelô do país.

Talvez tenha sido aí que Giovanna Antonelli começou a ser uma das mais influentes criadoras de tendências da Globo, isso muito antes do Instagram e da Vivi Guedes. Do case de celular (lembram do soco inglês da delegada Helô de Salve Jorge?) à cor das unhas (as de Em Família bombaram e a atriz lançou sua própria linha), o que a atriz mostra, vira sensação.

Aos fãs de novelas antigas e reprises, mais uma boa notícia. Em breve o Viva reprisará Ti Ti Ti, a original, direto da década de 1980.

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