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Crítica: O Mecanismo, série Netflix, transforma Lava Jato em thriller

Produção criada pelo diretor José Padilha e pela roteirista Elena Soarez usa força-tarefa para narrar drama policial com tons de suspense

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Pedro Saad/Netflix/Divulgação
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1 de 1 selton mello OMecanismo_101_Unit_01840R - Foto: Pedro Saad/Netflix/Divulgação

Todo episódio de O Mecanismo, série da Netflix sobre a Lava Jato e com estreia na plataforma nesta sexta (23/3), começa com um aviso informando ao espectador que tudo foi baseado livremente no mundo real. Nomes, situações e locais foram trocados para “efeito dramático”. O presente texto considera os três primeiros capítulos da produção, disponibilizados para os jornalistas antes do lançamento.

É a maneira que o diretor José Padilha (Tropa de Elite, Narcos) e a roteirista Elena Soarez (Casa de Areia, Eu Tu Eles, Xingu), autora dos oito capítulos da primeira temporada, encontraram para dramatizar a história da força-tarefa que investiga negócios escusos envolvendo políticos, empresas estatais e empreiteiras.

Três protagonistas concentram as ações em meio à multidão de personagens que habitam a trama. O delegado da Polícia Federal Marco Ruffo (Selton Mello) nutre obsessão em dar um fim à carreira do doleiro Roberto Ibrahim (Enrique Diaz). Aos pouquinhos, Verena Cardoni (Caroline Abras), sucessora e pupila de Ruffo na central da PF em Curitiba, assume as rédeas da investigação e da narrativa (incluindo a sempre grave narração em off).

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Já no primeiro episódio, desenha-se o discurso principal da série: a corrupção é um câncer que precisa ser extirpado e ninguém tenta curar essa doença impunemente. Até o espectador mais desatento consegue ligar os pontos entre dramaturgia e realidade – Polícia Federativa é a Polícia Federal, Miller & Brecht, a Odebrecht, e por aí vai.

Rigo (Otto Jr.) representa o juiz Sérgio Moro, Janete (Sura Berditchevsky) incorpora a ex-presidente Dilma Rousseff, Ibrahim encarna Alberto Youssef, e Arthur Kohl vive o Lula “de mentira” – vale lembrar que o mesmo ator interpretou José Serra em Real: O Plano por Trás da História (2017). Um cara a cara cartunesco do alto escalão que povoou o noticiário nos últimos anos.

Thriller envolve, mas se perde nas obviedades
“Descobri o que fode a vida de todos os brasileiros”, anuncia Ruffo. “Deus não existe e não é brasileiro, e o tempo não volta”, reclama Cardoni. “No Brasil, as pessoas pensam que ser policial é subir favela e trocar tiro com traficante. Isso não é ser policial. Isso é ser policial burro”, reflete o personagem de Mello.

O Mecanismo coleciona frases de efeito ditas com veemência e articula dois objetivos bem claros: internacionalizar a Lava Jato por meio de diálogos e passagens explicativas (afinal, a Netflix opera em 190 países) e canalizar a resignação, a revolta e a sede de justiça do brasileiro comum diante do nefasto circo de horrores político-econômicos de todo santo – maldito, melhor dizendo – dia.

Por mais que Elena Soarez tenha escrito todos os roteiros, é a visão pessimista e um tanto reducionista de Padilha (diretor do piloto) que se impõe na história. Nem chega a ser o maior dos problemas a defesa do diretor de um Estado policialesco. Como thriller político, a série supera com folga o filme Polícia Federal: A Lei É Para Todos (2017), sobre o mesmo tema. Missão fácil, convenhamos.

Há um tantinho de sátira, que parece escondida em rarefeitas cenas espirituosas – “vamos comigo, que a gente vai desfazer essa merda”, repete Ruffo no piloto –, mas a série jamais perde a oportunidade de soar óbvia e meramente derivativa do real.

Nada mais conveniente que Ibrahim recebendo uma grana de Ricardo Brecht (Emílio Orciollo Netto), o Marcelo Odebrecht na trama, ao som de Bichos Escrotos, hit dos Titãs. O Mecanismo envolve e cumpre as expectativas de qualquer thriller mediano. Mas não vai muito além de uma radiografia estanque de um país doente.

Avaliação: Regular

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