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O crítico de teatro Sábato Magaldi morre, aos 89 anos, em São Paulo

Também pesquisador, professor e jornalista, Magaldi escreveu obras fundamentais para o estudo do teatro brasileiro e em especial para a compreensão da obra de Nelson Rodrigues

atualizado

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Arquivo Pessoal
Sábato-Magaldi-
1 de 1 Sábato-Magaldi- - Foto: Arquivo Pessoal

Internado desde 2 de julho no Hospital Samaritano, em São Paulo, o crítico e estudioso do teatro Sábado Magaldi morreu na noite de quinta-feira (14/7), aos 89 anos. Ele enfrentava problemas pulmonares, mas a causa da morte não foi divulgada.

Mineiro de Belo Horizonte, Magaldi formou-se em direito, em 1949, mas nunca chegou a exercer a profissão. Estreou como jornalista no “Diário Carioca”!, em 1950, e se tornaria também professor. Foi um dos primeiros professores da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (Eca-USP). Deu aulas Universidade de Paris III (Sorbonne Nouvelle) e de Provence.

No jornalismo, foi pioneiro também no texto especializado em teatro. Entre 1956 e 1988, Sábato Magaldi escreveu também para os jornais “O Estado de S. Paulo” e “Jornal da Tarde”. Por meio de suas críticas, teve papel fundamental na compreensão da obra de Nélson Rodrigues, que ele dividiu em peças psicológicas, peças míticas e tragédias cariocas.

Nesta entrevista para o programa “Agenda”, da Rede Minas, a mulher de Magaldi, a escritora Edla Van Steen, dá um interessante depoimento sobre a relação do marido com Nelson e com outros dramaturgos:

Desvendando Nelson Rodrigues
O livro “Teatro de Obsessão”, dedicado à obra do dramaturgo, lança olhares completamente novos sobre as peças de Nelson. Nunca antes, na história do teatro brasileiro, Nelson Rodrigues fora visto de tal maneira, sendo quase sempre reduzido a um dramaturgo vulgar, sem vínculos com a tradição teatral erudita.

Um deles chama a atenção, por exemplo, para a antológica montagem de “O Eterno Retorno” (1981) por Antunes Filho e o Grupo Macunaíma, feita sob o impacto da leitura do historiador e mitólogo romeno Mircea Eliade: a emergência de uma nova vida após o caos, o aniquilamento, a destruição do núcleo familiar.

Ao analisar “Os Sete Gatinhos”, por exemplo, Magaldi estabelece uma conexão inaudita entre Nelson Rodrigues e “Édipo Rei”, de Sófocles, ao destacar o sacrifício do patriarca — ritualístico, em sua essência — para que a unidade familiar seja preservada.

Classificada entre as “tragédias cariocas” do autor por Magaldi, “Os Sete Gatinhos” era tratada até então como um manual de perversões sexuais. Eram, enfim, desprezados a dimensão psicológica e o conteúdo mítico da peça.

Estudos críticos sobre o teatro brasileiro
Sábato Magaldi também se debruçou com o mesmo afinco sobre as obras de Oduvaldo Vianna Filho, Plínio Marcos e Oswald de Andrade. E escreveu ainda obras essenciais para o estudo da arte teatral brasileira, a exemplo de “Panorama do Teatro Brasileiro” (1962, reeditado em 2001) e “Moderna Dramaturgia Brasileira” (1998).

Sua contribuição, no entanto, não se esgota aí. Em seu apartamento em São Paulo, onde morava com a mulher,Edla Van Steen, o crítico e estudioso deixou um acervo inédito, que inclui cerca de 50 cadernos de anotações pessoais. Sua vontade, no entanto, é que o material só seja publicado 30 anos após sua morte.

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