Análise: três razões para não ir ao festival Cena Contemporânea

No próximo dia 20 de agosto, começa a 20ª edição da mostra. Eis aqui os motivos para evitar o evento

Diego Ponce de Leon
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Não vá ao Cena Contemporânea. A 20ª edição do maior festival de teatro do Distrito Federal começa na próxima terça-feira (20/08/2019), mas, desconfio, não merece sua atenção. Se você não for do rolê do teatro, trata-se de um dos maiores eventos de artes cênicas do país e um marco da identidade brasiliense, movimentando a cena candanga de forma única. Ao meu ver, são muitos os motivos para NÃO ir ao festival. Listo os principais logo abaixo.

Ressalto ainda – apesar de o título já deixar claro ao exibir “análise” – que o conteúdo aqui relatado não representa, necessariamente, a visão do Metrópoles sobre o Cena Contemporânea. É o meu olhar e por ele respondo. Caso insista no desvario de ir ao festival, confira a programação completa. Mas te convido a terminar a leitura antes de qualquer ato impensado e inconsequente. O Cena pode te transformar, em definitivo. Que não seja por falta de aviso prévio.

Eis meus motivos:

Mamata

Segundo consta, artista só tira a bunda do sofá se for na base da mamata (ou seria mamada?). Se não rolar dinheiro público, ouvi dizer, não seria possível produzir arte. E grana para a cultura? Faça-me o favor! Onde já se viu investir em algo que interfere no social, gera dignidade, impede o ócio juvenil, traz propósito, emprega, reflete a sociedade, diverte, amplia horizontes, inibe a depressão senil e combate a criminalidade? Não com meus impostos!

Dito isso, deve haver algo de errado com os artistas envolvidos no Cena. Nesta 20ª edição, não há Rouanet, não há FAC (Fundo de Apoio à Cultura), LIC (Lei de Incentivo à Cultura) ou qualquer estímulo público. Ou seja, não devem ser artistas e estão tentando nos enganar.

Rede Esgoto

Não podemos nos render à hegemonia da Rede Globo de televisão. A abertura do Cena ficou a cargo justamente da global Andréa Beltrão (foto em destaque), conhecida por vários trabalhos televisivos, como Tapas & Beijos e A Grande Família. Um despautério! Claramente, uma subversiva.

Mesmo sendo uma das melhores, mais premiadas e celebradas atrizes do país, revivendo de forma inacreditável a história de Antígona (joga no Google), não podemos nos submeter à ideologia da família Marinho. Não rola de dar moral à emissora que emprega gente rebelde como Laura Cardoso e Fernanda Montenegro, que tão pouco fizeram pelo país. Essa história de única brasileira indicada ao Oscar de melhor atriz é fake news. Tem brasileira indicada ao Oscar dia sim, dia não.

Expansão do conhecimento

Assim como você, eu também tenho orgulho de conversar apenas com quem pensa exatamente igual a mim. Tenho tempo somente para quem concorda com minhas ideias. Não respeito, de forma alguma, quem me contraria. E, me contaram, esse tal de teatro nos convida a repensar certas posturas, a amadurecer algumas questões, a refletir sobre a realidade.

Dizem até, vejam só, que um único espetáculo pode ser capaz de expandir meu conhecimento, estimular o senso crítico e me tirar da zona de conforto. Imagina um festival inteiro?! Aqui não! Isso só pode ser coisa de psicodelia e – como bom cidadão modelo que sou – não posso me misturar com quem pensa diferente. Vai que pega!

Bônus: Pátria Amada Brasil

Ironia acima de tudo, sarcasmo acima de todos.

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