Streaming supera audiência da TV por assinatura e vira preferência nacional

Pela 1ª vez na história, os canais on demand tiveram mais Ibope que as TVs fechadas: especialistas apontam mudança de perfil do público

Luiz Prisco ,
Guilherme Simmer
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O processo de mudança no hábito de consumo dos brasileiros parece ter se acelerado com a pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus. Dados do Ibope mostram que pela primeira vez o streaming superou a TV por assinatura na disputa pela audiência.

Segundo levantamento do Ibope, revelado pela coluna de Ricardo Feltrin, em maio, a audiência geral do streaming foi de 6,9 pontos, representando 14,7% do share na média nacional – a medição leva em conta apenas o conteúdo visto pela televisão, entre 7h e 0h, celulares e tablets não foram aferidos.

O share mede a participação do conteúdo no universo de televisores ligados. Os dados do Ibope mostram que 14,7 de cada 100 TVs do Brasil estavam vendo streaming no horário analisado.

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Em comparação, a audiência dos canais de televisão, nos mesmos horários e regiões, foi de 6,7 pontos, representando 14,1% do share. Cada ponto vale 250 mil domicílios.

Mariana Mói, professora de Cinema e Audiovisual do Centro Universitário Una, entende que os dados refletem uma alteração de perfil do público brasileiro.

“É uma mudança comportamental no público. Os programas são voltados, em sua maioria, para um público mais jovem, que quer essa demanda livre e não deseja ficar preso a uma grade de programação”, avalia a especialista.

Gilson Schwartz, professor especializado em economia do audiovisual da Universidade de São Paulo (USP), entende que, o momento de isolamento social, aumenta o consumo via streaming e consolida a tendência.

“Creio que se trata realmente de mudança de paradigma em termos de modelos de distribuição de conteúdo, acesso à informação e organização da vida de cada um. A pandemia acelera o processo, mas ele já vinha ganhando força e vai crescer”, analisa.

Crise das fechadas

O mercado de TV por assinatura tem enfrentado quedas de procura. Desde 2014, o número de assinaturas tem diminuído progressivamente, de acordo com dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). A série histórica começou em janeiro de 2012.

Os números coletados juntos à Anatel indicam que, em novembro de 2014, as assinaturas tiveram seu pico, atingindo 19.842.737 acessos. Em abril de 2020, no entanto, o relatório traz o dado de 15.323.317 – em números brutos, são 4.519.420 assinatura a menos, representando queda de 22,7%.

Para Mariana Mói, a questão econômica joga a favor do streaming e atrapalha a TV fechada.

“O serviços de streaming têm entrado com um preço bem abaixo da TV paga. Para se assinar o pacote oferecido pelas operadoras, gasta-se muito mais do que cobrado pela Netflix e Amazon, por exemplo. A parcela anual deles custa um mês do sistema tradicional”, avalia a professora.

O poder da Netflix

A Netflix é, atualmente, o serviço mais popular do Brasil – em 2019, a própria empresa informava ter 10 milhões de assinantes no país. Número que aumento durante a pandemia de coronavírus: como revelou balaço da companhia divulgado aos acionistas.

Boa parte dessa popularidade da Netflix é gerada por conteúdos que fazem sucesso. Séries como Stranger Things ou La Casa de Papel viraram verdadeiros hits, assim como alguns filmes. Entre os longas, o serviço apostou nos premiados Roma e O Irlândes e em blockbusters, como o recente Resgate.

“Por ter esse perfil, que traz maior diversidade e possibilita ao público produzir sua própria programação, o streaming atinge um público mais jovem, que está acostumado com o multitelas. Aos poucos, esses serviços alcançam mais espaço e ultrapassam a TV paga”, conclui Mariana Mói.

Além da Netflix, operam, atualmente, no Brasil a Amazon Prime Video, o Apple TV+, HBO Go, Telecine Play, Globoplay e outros.

Outro fato que ajuda a explicar o sucesso do streaming são as lives: transmitidas pelo YouTube, via de regra, os shows on-line conseguem grande audiência. Shows, como os de Marília Mendonça, Jorge & Mateus e Gusttavo Lima, quebraram recordes de visualização simultânea.

A força da TV aberta

Apesar da consolidação do streaming no Brasil, os canais abertos, que são acessados gratuitamente, ainda configuram a principal forma de entretenimento no país.

Das 7h à 0h, segundo dados do Kantar Ibope, 60% dos aparelhos do pais estão sintonizados em canais abertos: Globo, Bandeirantes, Record, RedeTV! e SBT, principalmente.

A Globo, a maior emissora do pais, representa mais de 30% desses aparelhos, seguida pelas suas concorrentes.

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