metropoles.com

Com pegada social, quadrinhos viralizam na internet em defesa de minorias

As HQs usam as redes sociais para remodelar sua característica de engajamento social, que data desde o século 19

atualizado

Compartilhar notícia

Marvel Comics/Divulgação
homem de ferro hq quadrinhos marvel
1 de 1 homem de ferro hq quadrinhos marvel - Foto: Marvel Comics/Divulgação

O mês de junho está sendo marcado por uma onda de protestos do movimento Black Lives Matter (Vidas Negras Importam em tradução livre), que se iniciou nos Estados Unidos, após a morte do segurança George Floyd, e se espalhou por vários países. No Brasil o movimento também lembrou dos vários casos de violência policial contra pessoas pretas, como o recente assassinato do menino João Pedro, de 14 anos. Tudo isso tem servido como um prato cheio para a arte, mas uma, em especial, se mostra sensível aos temas sociais há algum tempo: os quadrinhos

A série queridinha do Brasil, A Turma da Mônica, por exemplo, sempre pregou a inclusão de pessoas com deficiência – e tem ampliado o debate com novos personagens. Outra saga famosa, essa em âmbito internacional, é a luta de Capitão America contra os vilões da Hydra e ativamente contra o nazismo – famosas durante a época da 2º Guerra Mundial. Em uma das capas de suas aventuras, publicadas em 1941, o herói aparece dando um soco em Adolf Hitler.

Capitão América
Capitão América dá soco em Hitler na primeira edição da revista, publicada em 1941.

O ilustrador Leandro Assis, um dos responsáveis pela série de tirinhas Os Santos em parceria a co-roteirista Triscila Oliveira, afirma que, em sua opinião, o mundo dos quadrinhos da mais liberdade para os criadores entrarem em pautas de movimentos sociais. Seu projeto, por exemplo, nasceu de tirinhas críticas ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e se consolidou em fazer um retrato da parcela da população que elegeu o atual chefe do Executivo.

Atualmente, Assis desenvolve a série Confinada, mostrando as desigualdades explicitadas pela pandemia. Para ele, são vários os motivos que levam o quadrinho a ter uma abertura maior para discussões sociais, com uma prevalência da questão financeira.  “Quanto mais dinheiro envolvido na produção de algo, maior a necessidade de retorno. Então as produtoras e canais vão acabar optando por entretenimento, comédia. Já os quadrinhos tem uma liberdade maior. Ainda mais se for on-line. Por isso acho que encontramos mais HQs engajadas”, analisa.

Leandro tem encontrado boa recepção de público. “Tem sido ótimo. Alguns privilegiados e/ou conservadores que criticam. Mas são pouquíssimos diante do total de leitores. O problema é que eles podem ser ‘barulhentos’ e às vezes conseguem censurar alguma tira”.

Historiador e apresentador do programa Quadrinhos da rádio Utopia, Edson Wilson enxerga outras vantagens competitivas nos quadrinhos. “Primeiro lugar, o público. O alcance das revistas se torna maior e acaba atingindo um grupo de leitores mais heterogêneo. Em segundo, está a facilidade de produção. Enquanto estamos nestes dias tensos e presos, alguns artistas se encontram em plena atividade criativa, diferentemente do cinema e da televisão”, compara.

Ciro Inácio Marcondes, doutor em Comunicação e professor da Universidade Católica de Brasília (UCB), atua como editor do site especializado em crítica de quadrinhos Raiolaser. Segundo o especialista, cinema e HQs sempre se engajaram em discussões políticas, cada um usando as ferramentas do próprio meio.

“Você tem vários movimentos cinematográficos que são explicitamente políticos, com engajamento forte sócio-político como o neo-realismo do Cinema Novo no Brasil ou Dogma, no cinema dinamarquês dos anos 1990.  A crítica social no quadrinho, igualmente, não uma coisa é nova. É muito antiga, vem desde o século 19, e com muita força”, relembra.

 

Ver essa foto no Instagram

 

Maria Firmina dos Reis encontrou na literatura uma forma de expressão artística e principalmente política. É a primeira autora negra e abolicionista de toda América Latina! Em 1859 publicou o romance Úrsula, assinando com o pseudônimo A Maranhense. O romance entre a personagem que dá título ao livro e o Tancredo, dois jovens brancos, é o plano de fundo para falar do cotidiano da escravidão e exploração, em especial através dos escravizados Túlio e Suzana. Maria Firmina dos Reis morreu em 1917, cega e pobre. Não aceitamos, porém, que seu nome seja esquecido. Maria Firmina dos Reis, PRESENTE! Messias Martins @literanegra EDIT: Existe uma outra edição desse livro, da @editorataverna, com ilustrações lindas da Gabriela Pires – @_gbrlpires – Outra hora faço um post aqui para mostrar.

Uma publicação compartilhada por Leandro Assis (@leandro_assis_ilustra) em

 

Web, militância e representatividade

O alcance dos quadrinhos e HQs foi potencializado pela internet e mídias sociais, abrindo espaço para as discussões ali existentes alcançarem novos públicos. “A recepção é a melhor possível, milhares se identificam tanto com a opressão que sofrem quanto seus locais de privilégios. Nesse formato [digital], o público de todas as idades assimila de forma imediata a mensagem de pautas urgentes, como a luta antimachismo e antirracista”, pontua a cyberativista Triscila Oliveira – outra mente criativa por trás de Os Santos.

Mesmo sendo uma forma bem vista pelo pelos internautas e por muitos artistas, Triscila teme que a desigualdade social atrapalhe um pouco a discussão. “A internet é fundamental, no entanto, sabemos que falamos apenas com fatia pequena da população brasileira que tem acesso às redes”, pondera.  Segundo a A Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua – Tecnologia da Informação e Comunicação, divulgada pelo IBGE em abril deste ano, 46 milhões de brasileiros ainda não possuem acesso à internet.

Leandro Assis não sabe dizer até onde os quadrinhos podem ajudar na mudança, mas ele acredita que a arte fomenta o debate. “Acho que é importante no conjunto: quanto mais pessoas falarem sobre esses assuntos, mais forte fica o discurso”, considera o ilustrador.

 

Ver essa foto no Instagram

 

Dica de Leitura 4 “Mulheres, Raça e Classe” @soulanja #feminismonegro #feminismo #racismo #dicadeleitura #leitura

Uma publicação compartilhada por Leandro Assis (@leandro_assis_ilustra) em

Edson, entretanto, considera o uso da cultura pop no movimento algo essencial. “Os movimentos sociais brigam por igualdade, o que para muitos é um exagero. Toda forma de levar o discurso ao público é valida”, conclui.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comEntretenimento

Você quer ficar por dentro das notícias de entretenimento mais importantes e receber notificações em tempo real?