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Da maior importância: projeto Flores em Vida faz merecida homenagem a mestres do samba

Na segunda (21/9), Monarco encheu de luz e vida o teatro do CCBB

atualizado

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Gabriela de Almeida/Metrópoles
Gabriela de Almeida/Metrópoles
1 de 1 Gabriela de Almeida/Metrópoles - Foto: Gabriela de Almeida/Metrópoles

“Se vivo fosse” é como o jornalismo costuma anunciar que uma grande figura completaria mais uma primavera se ainda estivesse neste mundo de estações. É um clichê, eu concordo, mas a expressão vem normalmente atrelada a uma série de homenagens essenciais para manter firme a memória dos que já não estão mais entre nós.

Tenho todo o respeito do mundo por todas essas manifestações. Elas são ainda mais válidas quando nos damos conta da fraca memória dos tempos atuais. Lembranças se esvaem no primeiro snap postado. Vinte e quatro horas depois, nossas vidas já estão nas nuvens digitais.

Bem, Monarco vivo está. E foi justa, merecida e belíssima a homenagem em vida feita a ele pelo grupo Adora-Roda na segunda (21/9), como parte da série Flores em Vida. O projeto, inaugurado com Dona Ivone Lara, chega ao fim na próxima segunda (28/9) com show de Nelson Sargento.

Velho conhecido do público, Monarco dispensa apresentações, mas ainda há muito a se conhecer do cantor e compositor carioca. Integrante da Velha Guarda da Portela, Hildemar Diniz, como foi batizado, teve a sorte de conviver com Cartola, Nelson Cavaquinho, Roberto Ribeiro, Paulo da Portela e Alcides Malandro Histórico. Bebeu na fonte e seguiu um caminho glorioso na história do samba.

No palco do CCBB, Breno Alves conduziu a homenagem apresentando Monarco através das suas experiências, utilizando-se de músicas para ilustrar determinado período da vida do sambista. No canto do palco, Muha Bazila pincelava as formas do carioca. Foi assim até o grande homenageado entrar em cena. Tímido, Monarco agradeceu a iniciativa idealizada por Breno Alves e Tito Silva. Lembrou, ainda, que havia recebido homenagem semelhante há alguns no Teatro Opinião, quando recebeu flores das mãos de Dona Ivone Lara e Nelson Cavaquinho, autor da canção que emprestou um verso para o nome do projeto.

Monarco lembrou do seu primeiro sucesso radiofônico, “Tudo menos meu amor”, gravada por Martinho da Vila. “Ela estava guardada no fundo do baú, eu já não esperava que fosse acontecer mais nada. Meu amigos me pediam paciência, aí de repente o Martinho gravou e ela caiu no gosto do povo. Todos começaram a me tratar com mais carinho, inclusive os intérpretes e as gravadoras”, lembrou o compositor.

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Compartilhar das memórias de Monarco é um privilégio. Quantos de nós não gostaríamos de ter tido a oportunidade de saber da boca do Cartola quais foram as suas inspirações? Emocionado pela ocasião, o carioca ficou com a voz estremecida quando um grupo de crianças lhe entregou um buquê de rosas. “São flores em vida. Não sei o que dizer”, balbuciou o sambista. Posicionado com o pandeiro em mãos, Breno Alves não segurou as lágrimas.

Aos 82 anos e dotado de muita vivacidade, Monarco entoou seus clássicos “Coração em Desalinho, “Vai Vadiar” e “Falsa Alegria” e contou de quando conheceu Cartola e soube que, assim como ele, o autor de “As Rosas Não Falam” e “Tive Sim”, também não tinha um vasto histórico escolar. “Meus pais se separaram e minha mãe criou seis filhos sozinha. Como eu poderia compor sem ter frequentado uma escola? Acredito que foi uma dádiva de Deus. Cartola me contou que ele também não tinha estudo. Vocês conseguem imaginar alguém sem escolaridade escrever os versos de ‘O Mundo É Um Moinho’? É divino”, contou ao público, já entregue à emoção do momento.

Estar ao lado de ótimos músicos, se ver pintado pelos belos traços de Bazila e ser reverenciado por uma plateia atenta e animada fez bem ao coração de Monarco. Com um sorriso largo no rosto, ele lembrou carinhosamente dos seus parceiros, principalmente da personalidade singular de Alcides Malandro Histórico (veja vídeo abaixo). Ao final, o sambista ainda teceu uma série de elogios a Carlos Elias, notável figura do samba brasiliense, um amigo de longa data do carioca.

Flores em Vida é, sem sombra de dúvidas, um dos projetos mais importantes da carreira do Adora-Roda. É importante lembrar que reverenciar os nobres não é novidade na trajetória do grupo brasiliense. Semanalmente, o Outro Calaf e mais casas da cidade servem de palco para um repertório primoroso que sempre contempla os grandes nomes do samba. Formado por um quinteto de jovens e experientes músicos, o Adora-Roda sabe o tom exato para se homenagear os que vieram antes. Flores em Vida é a prova de que o samba está vivo e muitíssimo bem representado. Ah, se todos fossem no mundo iguais a vocês…

Veja Monarco falando sobre Alcides Malandro Histórico, autor de “Vivo Isolado do Mundo”, canção feita para a esposa Guiomar:

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