Aos 94 anos, Dona Ivone Lara recebe tributo do Adora-Roda

A noite de ontem (14/9) foi única na história do samba de Brasília. Dona Ivone Lara, 94 anos, saiu do Rio de Janeiro só para ser homenageada no projeto Flores em Vida, comandado pelo grupo Adora-Roda, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB). A idade há muito tempo já não permite que ela caminhe e, há alguns anos, dificulta a fala daquela que foi pioneira na música brasileira.

Dona Ivone foi a primeira mulher a fazer parte da ala de compositores da Império Serrano. Também é autora de vários sambas memoráveis, como “Alguém me Avisou”, “Alvorecer”, “Tendência” e “Enredo do Meu Samba”, todos lembrados pelos anfitriões brasilienses. Presença garantida das principais batucadas do país, “Tiê”, “Sonho Meu” e “Acreditar” ganharam a voz de Sarah Si, parente de Dona Ivone  que a representou na apresentação.

Pintura ao vivo
O evento também foi a chance do público conhecer o trabalho de Muha Bazila, artista plástico baiano de apenas 25 anos que fez carreira na capital federal. Conhecido por produzir séries com pinturas de mulheres negras e de artistas negros, como Cartola, Bazila fez um quadro durante o show, retratando a força e a serenidade da homenageada.

Além do sábio tributo a artistas vivos — depois de Dona Ivone, o projeto celebra a carreira de Monarco, 82 anos, e Nelson Sargento, 91 –, o Adora-Roda soube reverenciar os parceiros da rainha do Império. Ao citar Delcio Carvalho, Breno Alves resgatou a memória de um dos compositores mais importantes que tivemos e que, nem sempre, recebeu a devida atenção.

As poucas palavras de Dona Ivone durante o show foram inversamente proporcionais à emoção sentida por ela. Com olhos atentos e ar de satisfação, a sambista viu a plateia do CCBB cantar a capella um dos seus maiores sucessos, “Sorriso Negro”. O momento foi emoção dupla: para a homenageada, por receber flores em vida, e para o público de ter, mais uma vez, a chance de vê-la ao vivo.

Foto:  Andrea Possamai/Divulgação