Walter Brito lança livro sobre o movimento Vidas Negras Importam
A obra Vidas Negras Importam: Memórias de Uma Família Negra Brasileira estará disponível a partir do dia 6 de novembro
atualizado
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O militante e ativista da causa negra, Walter Brito lança, na próxima semana, a segunda edição do livro Memórias de uma Família Negra Brasileira, escrito por ele e publicado inicialmente em 2006. “O Brasil tem uma dívida histórica com os negros. Nessa nova edição, eu apresento o discurso de Vidas negras importam, referente ao caso do George Floyd”, explica.
O escritor sentiu a necessidade de atualizar a obra e contextualizar com os acontecimentos recentes no mundo. “A pandemia de Covid-19 tem dois momentos: um antes da morte de George Floyd e outro depois do assassinato dele. O discurso ‘vidas negras importam’ uniu gregos e troianos em torno de uma luta contra o preconceito, que existe há milhares de anos e, infelizmente, tem aumentado a cada dia”, pondera.
“No Brasil acontece isso todos os dias. Infelizmente, assassinatos de negros brasileiros não têm a mesma repercussão que o de George Floyd”, afirma Walter Brito.
O lançamento de Vidas Negras Importam: Memórias de Uma Família Negra Brasileira será no dia 6 de novembro, às 20h, no salão nobre do Othon Palace, no Rio de Janeiro. A partir desta data, o livro estará disponível em plataformas e livrarias digitais, como a Amazon.
O escritor convidou nomes importantes do movimento negro e personalidades que contribuíram com a causa ao longo dos últimos anos.
“Convidei os seis ex-presidentes do Brasil, entre eles, Fernando Collor, Michel Temer e Lula. Também chamei Pelé, Hamilton e os embaixadores das 32 nações africanas que estão em Brasília. Além de lideranças negras de todo o país, de Norte a Sul. Neguinho da Beija-Flor já confirmou que irá”, revelou.
O ex-presidente José Sarney, que está com 90 anos de idade, declinou o convite em virtude da idade avançada e os cuidados para evitar o Covid-19. “Estou em casa obedecendo recomendação médica há três meses e proibido de sair devido à minha idade e ao alto risco de me expor”, justificou o ex-presidente em mensagem ao amigo. Sarney escreveu a apresentação do livro e a introdução ficou a cargo do poeta e compositor Antônio Victor.
Base familiar
A obra de Walter mantém a valorização da base familiar. A história contada na primeira edição foi atualizada e mostrou a evolução dele na luta por melhores condições para os negros. “A família é a maior referência da humanidade. Ao contrário do que muitos mostram, o negro tem família. Mesmo pobre, ela é forte e organizada”, disse.
O jornalista é filho de alfaiate e de uma merendeira de escola. Walter e os sete irmãos conquistaram diploma de curso superior. “E agora os nossos filhos e netos estão fazendo medicina. Antigamente, era um curso de elite, no qual o que negro não participava. Graças às políticas públicas criadas no nosso país, tivemos acessos a esses espaços”, pontua.
Na nova edição da obra, além de atualizar todo o contexto da militância negra, ele mostra a evolução de uma de suas sobrinhas – formada em medicina e que, atualmente, trabalha no Hospital de Base, em Brasília. Na primeira versão do livro, a jovem também era mencionada, mas apenas sonhava em exercer a profissão.
“A oportunidade continua sendo menor para a comunidade negra, mesmo com curso superior ou dois idiomas no currículo. O negro ganha menos quando atua na mesma função do branco. O salário é rebaixado pela cor da pele. Isso é ruim. A raça humana é uma só, não tem que ter preconceito nem discriminação”, pondera Walter.
Trajetória
Nascido em Formosa (GO), Walter viveu em Brasília mais de 30 anos. Ele foi um dos primeiros diretores da Fundação Palmares, nomeado, à época, pelo então presidente Fernando Collor. “Viajei com o líder Nelson Mandela, coordenei o sepultamento de Grande Otelo, como representante do ex-presidente Itamar Franco, e conheci todos os grandes militantes da causa negra no país”, conta.
Em sua análise, a atuação da Fundação Palmares é fundamental para o Brasil. Ele entende que, além de preservar a cultura do povo negro, a instituição trabalha para inserir essa parte da população nos mercados de trabalho e educacional.
“O Brasil tem uma dívida histórica com o povo negro. Após a abolição da escravatura, as coisas não aconteceram como deviam acontecer. Nossa comunidade foi jogada sem documento nas grandes cidades, sem preparo algum. Saindo das fazendas, qual o preparo que ela teria para viver em uma cidade grande? A maior parte sem estudo, semianalfabetos”, considera.
Aos 65 anos, Walter disputa o cargo de vereador, pelo PDT, no Rio de Janeiro. O jornalista está entre os 272 mil candidatos que se declararam pardos ou pretos nas eleições municipais de 2020, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).