Gigante à Deriva: autor do DF narra isolamento político do Brasil com humor
Marcelo Bizerril aborda assuntos como mídia, política, religião e a relação do Brasil com outros países em tom divertido e leve
atualizado
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Mídia, política, religião e relação do Brasil com outros países. Esses são os principais assuntos do livro Gigante à Deriva, lançado pelo escritor brasiliense Marcelo Bizerril. Em tom de ficção, o autor aborda problemáticas importantes na sociedade atual e apresenta personagens que se entrelaçam de uma forma bem irônica e cômica, típica do humor brasileiro.
A obra, lançada pela editora Letramento, conta a história de Bob Terceiro, âncora de um importante telejornal; Iris di Deus, líder religiosa e senadora da República; Caco Sullivan diverte-se atacando a ciência no YouTube; e Gy Salvadora, que apresenta um programa de variedades. A questão que fica é: como essas importantes (e curiosas) personalidades irão reagir ao inusitado desprendimento do Brasil da América do Sul e seu deslocamento errante pelo Oceano Atlântico?
Uma peça de ficção que se assemelha assustadoramente ao momento vivido pelo país, que tem desempenho e enfrentamento da pandemia de Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, piores em relação aos vizinhos de continente.
Confira trechos da obra e entenda a narrativa:
Autor de outras obras como Outros 500, Savanas e O Tesouro da Capital, Bizerril contou em entrevista ao Metrópoles que, apesar do livro lembrar perfeitamente o momento de isolamento social que estamos vivendo por conta do coronavírus, a obra foi escrita antes da pandemia.
“O livro surge da ideia de isolamento do Brasil em relação ao mundo, que se deve em parte à nossa localização, mas também em muito pela forma como o povo acessa, ou melhor, não acessa a vida política e cultural do mundo. O livro trata da grande influência cultural norte-americana sobre o Brasil e do nosso distanciamento de regiões culturalmente importantes para nós como a América Latina, a África e Portugal”, pontua o autor.
Apesar de se adequar perfeitamente ao momento presente, escrevi bem antes da pandemia, no início de 2019, quando o ambiente de intolerância e radicalização política já estava muito presente no dia-a-dia do país. Daí porque há muitos elementos críticos à lógica social brasileira”, contou Marcelo.
Talvez o que mais chame atenção na obra de Bizerril seja sua narrativa diferente e, por isso, ele classifica a história para jovens adultos. Segundo Marcelo, porém, a trama é contada de forma concisa por um narrador “que vivencia todos os acontecimentos no momento em que os mesmos ocorrem. Trata-se de um personagem central para a trama, mas sua identidade só é revelada quase ao final do livro”.
“Há tempos vinha fazendo anotações para uma história que integrasse o Brasil com Portugal e os países africanos de língua portuguesa. Quando a ideia do Brasil à deriva surgiu, em janeiro de 2019, vieram novos temas que ganharam muita força no enredo e a respeito dos quais tenho grande interesse, como é o caso da mídia e dos processos de comunicação no nosso país. A partir daí, telejornal, programa de variedades, youtubers e WhatsApp ganharam muito espaço e se tornaram um eixo fundamental do livro”, explicou o escritor.
Os personagens
É fato que Bob Terceiro, Iris di Deus, Caco Sullivan e Gy Salvadora remetem à alguma celebridade ou pessoa de sucesso na vida real, principalmente pelo cargo que exercem.
Marcelo Bizerril explicou que a escolha dos personagens serviu para simbolizar um determinado grupo ou classe de pessoas, entretanto, sem referências específicas.
“Os personagens principais são pessoas públicas – apresentadora de programa de variedades, youtuber, âncora de telejornal e líder religiosa com cargo político. Cada personagem simboliza um determinado grupo ou classe de pessoas, sem referências pontuais. Mas um bom divertimento para o leitor pode ser identificar os personagens com seres reais de sua preferência”, finaliza.