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Mostra revaloriza acervos do Museu Nacional e do Museu de Arte de Brasília

Fayga Ostrower, Rubem Valentim, Amílcar de Castro e Luiz Gallina são alguns dos artistas destacados em “O Papel do Museu”

atualizado

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Bernardo Scartezini/Metrópoles
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Com o fechamento por tempo indeterminado do Museu de Arte de Brasília, seu acervo se encontra sob responsabilidade da direção do Museu Nacional Honestino Guimarães. Para manter viva a memória do MAB e fazer conhecer sua coleção, anualmente o Museu Nacional promove uma mostra que recorre à reserva técnica de ambas as instituições sob diferentes recortes e curadorias.

Desta feita, entregue aos cuidados do artista plástico Bené Fonteles, a curadoria da mostra “O Papel do Museu” reúne quase quatro centenas de obras, todas erguidas a partir do mesmo e tão prosaico suporte, o papel, percorrendo cinco, seis décadas da arte brasileira (e brasiliense também). São gravuras, desenhos, colagens, fotografias e toda sorte de hibridismo que pode envolver tais técnicas. Oportunidade de seu visitante reencontrar autores notáveis. Mas mesmo o frequentador mais assíduo do Museu Nacional periga ter algumas surpresinhas ao longo da exibição.

Afinal, o trabalho de Fonteles, e a excelente espacialidade da mostra que se se alonga por toda a imensa nave principal do Museu, revaloriza cada peça escolhida – mesmo as mais manjadas – emprestando significados e contextos graças à distribuição de obras pelas paredes.

Reprodução
“Sem Título Número 1”, desenho de Amílcar de Castro (1983) *Reprodução*


Arquitetura em Fayga Ostrower
Fayga Ostrower, por exemplo, raramente pode ser contemplada, em coletivas aqui em Brasília, com semelhante destaque. Sete xilogravuras da série “Itamaraty” (1968, foto no alto) ocupam toda uma parede em curva, oferecendo um percurso cromático que reforça o conjunto das peças e convida à imersão em cada um de seus elementos. Parece simples essa disposição, vista assim já pronta, mas as linhas, as cores e o ritmo de Fayga dependem justamente desse cuidado para transcenderem sua superficialidade e ganharem volume quase arquitetônico.

Outra estratégia da curadoria para dar mais peso a seus autores é romper estilos predeterminados. Rubem Valentim, tão caro à formação artística brasiliense, é resgatado em seus conhecidos tótens serigráficos. Mas, desta vez, o misticismo afro do artista baiano convive com o design clean e euclidiano do paulista Luiz Sacilotto, sugerindo uma harmonia de linhas e um rigor formal nada óbvios.

Diálogo estabelecido só para poder ser enriquecido e quebrado, alguns palmos mais à direita, na mesma parede e ainda no mesmo pensamento, por Tomie Ohtake a oferecer novos volumes para a caretice do papel plano. Tomie assim, recortando a superfície em que trabalha, dá um passo adiante ao que já sugeriam Valentim e Sacilotto.

Serigrafia sem titulo de Luiz Sacilotto (2013) *Reprodução*
Serigrafia sem titulo de Luiz Sacilotto (2003) *Reprodução*


Urbanismo em Luiz Gallina
Aluno de Rubem Valentim na década de 1970 e hoje professor de uma nova geração de artistas eminentemente brasilienses, Luiz Gallina ganha destaque em “O Papel do Museu”. Sua série de xilogravuras “Brasilienses” oferece instantâneos do urbanismo do Plano Piloto em paisagens marcadas pelo cerrado, pela arquitetura das superquadras e pelas distâncias de ruas e eixinhos.

Curioso notar essa abordagem tão urbana e contemporânea da ancestral xilogravura que, mais adiante, nesta mesma exposição, assimila as heranças da arte sertaneja e das fantasias de cordel através de autores como os pernambucanos Gilvan Samico, J. Borges e Francisco Amaro, o cearense Stênio Diniz e o mineiro-brasiliense Pulika.

Capazes de entranhar formas orgânicas no frio metal, as gravadoras Lêda Watson e Helena Lopes se reencontram no Museu Nacional numa afinidade não apenas imediata, mas já antecipada pelos percursos de ambas as artistas na cena brasiliense. Assim como os goianos-candangos Elyeser Szturm e Elder Rocha também têm pontos de contato para além desta curadoria.

Amílcar de Castro e Regina Silveira, Maria Bonomi e Emmanoel Araújo, Nelson Leirner e José de Quadros, Cildo Meireles e Ralph Gehre permitem mais outras centelhas e estilhaços provocados por Bené Fonteles numa mostra que se vale da excelência de tais personagens para quebrar os rigores e os limites do papel. Só assim a visita pode se demorar por quatro centenas de obras sem jamais soar redundante ou monótona.

Até 1º de novembro no Museu Nacional Honestino Guimarães (Conjunto Cultural da República, 3325-5220). Terça a domingo, das 9h às 18h30. Entrada franca. Livre.

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