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Janaína Miranda apresenta paisagens mentais na Alfinete

Primeira mostra individual da artista brasiliense, em cartaz até 31/10 na 116 Norte, surpreende com uma ousada proposta

atualizado

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Bernardo Scartezini/Metrópoles
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Janaína Miranda ia frequentemente ao Hipódromo da Gávea, no Rio de Janeiro, para apostar em cavalos. No entanto, seu critério para escolher os bichos era pouco usual. Ela não se importava com estatísticas ou retrospectos de potenciais vencedores. Buscava apenas a sonoridade, a plasticidade e a poesia de nomes como Crazy Horse, Soleil Rouge e Desert Dream.

Bem, se não estourou a banca com tal maneira heterodoxa de encarar o turfe, Janaína saiu de lá com sua primeira mostra individual já estruturada em sua cabeça. E, assim, na Alfinete Galeria a artista brasiliense (hoje trabalhando e estudando e apostando no Rio) apresenta sua “Proposição para Invenção de Paisagens”.

Logo na entrada da galeria, um quadrinho com um texto datilografado explica as regras deste jogo, conforme estabelecidas pela própria Janaína Miranda. A saber…

I. Vá ao hipódromo mais próximo

II. Aposte em todos os cavalos com nomes de elementos que remetam à paisagem

III. Guarde os tickets

IV. Construa Invente a sua própria paisagem

Um dos canhotos de aposta que compõem "Proposição para Invenção de Paisagens" *Divulgação*
Um dos canhotos de aposta que compõem a mostra “Proposição para Invenção de Paisagens” *Divulgação*

Dos cavalinhos aos cenários naturais
Janaína Miranda estava lendo “Grapefruit” (1964), o livro de instruções e desenhos de Yoko Ono, quando teve esse estalo. “Interessa para mim a ideia de que a arte pode vir de um gesto muito cotidiano e banal, a ideia de que, só de você deslocá-lo e criar uma consciência sobre ele, isso já pode ser arte”, acredita.

Cada tíquete de aposta vale para Janaína então como elemento das paisagens que ela vai sugerir aos visitantes que percorrerem a Alfinete. A partir dos nomes dos cavalos, estabelece associações poéticas e imagéticas. Assim, por exemplo, o bilhete do Entardecer fica pouco mais abaixo do Sol e Forza, iniciando um cenário que será completado por Vento. O ambiente se revela então uma cena marinha, com Ocean Way deitando-se por baixo dos outros três — e um tal de  Catch a Wave completando o quadro.

“Não existe paisagem, a gente faz paisagem, a gente inventa paisagem, a gente enquadra paisagem”, defende Janaína. “De maneira arbitrária, eu proponho paisagens que só se completam com o espectador.”

Registro no tempo e no espaço
Janaína Miranda, brasiliense de 27 anos, vem desenvolvendo há quase uma década trabalho autoral em fotografia. Há poucos meses, conquistou o terceiro lugar no Prêmio Transborda Brasília de Arte Contemporânea, graças à foto-instalação “Insularidades” (2015). Ela não vê o trabalho agora em cartaz na Alfinete assim tão distante da tradicional fotografia.

Acredita que as paisagens mentais funcionam como uma extensão da linguagem fotográfica. Até porque a tinta dos bilhetes de aposta pode lentamente se apagar, com o tempo, e o que ali está escrito pode acabar por se perder. Como uma imagem que desbota. E os bilhetes de aposta, assim como uma foto, são o registro da presença do autor num determinado lugar, numa determinada hora.

E agora cabe ao prezado espectador recuperar o olhar que a fotógrafa guardou em cada um desses pequenos papéis, reencontrar a cena que a artista entreviu em cada um desses pequenos papéis.

Até 31 de outubro, na Alfinete Galeria (116 Norte, Bloco B, Loja 61; 9981-2295). De quarta a sábado, das 15h às 19h30. Entrada franca. Livre.

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