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O sonho americano vira pesadelo em “Bata Antes de Entrar”

Uma das estreias desta semana nos cinemas, suspense com Keanu Reeves narra um fim de semana infernal na vida de um homem de família

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Numa sucessão de planos cristalinos e ensolarados, como se feitos para um informe publicitário sobre o tal american dream, a câmera sai do famoso letreiro de Hollywood e para na suntuosa casa de Evan Webber (Keanu Reeves). “Bata Antes de Entrar” se assume como um irônico filme exploitation assim que o ponto de vista entra na residência. Fotos de uma família branca e heterossexual decoram paredes e móveis. Tanta perfeição parece um convite ao caos. Ou ainda: um convite a Eli Roth.

O diretor de “O Albergue” sabe bem o que é entortar o puritanismo careta e hipócrita tão próprio dos americanos e transformá-lo em algo horrendo, disforme e, sim, mui divertido. Arquiteto e pai de dois filhos, Evan machucou o ombro e terá que passar o fim de semana de Dia dos Pais sozinho. A esposa, Karen (Ignacia Allamand), quer dar uma pausa na preparação de uma exaustiva exposição de arte e aproveitar a folga com as crianças na praia.

Está erguido o típico cenário de um terror home invasion (invasão de casa, na tradução). Só que, em vez do gasto arquétipo da jovem indefesa e virginal, há aqui um homem de família exemplar, trabalhador e aparentemente nada vulnerável. Até que uma fantasia masculina digna de filme pornô surge para abalar o feriado. Ensopadas e trajando roupas de festa, as jovens Genesis (Lorenza Izzo) e Bel (Ana de Armas) batem à porta pedindo um telefonema e uns minutinhos sob o teto de Evan para acharem o endereço da balada.

O american dream desconstruído
Apesar da sugestão erótica, as visitas trazem mais dor do que prazer à casa de Evan. A mítica figura do assassino suburbano, desfigurado ou mascarado dá lugar a duas moças tão provocadoras quanto insanas. Numa espécie de game show quase tão perverso quanto o de “Jogos Mortais”, as visitantes infernizam a vida do homem de família a partir de seu próprio passado.

Se hoje ele é um arquiteto cheio de contas a pagar, na juventude ele discotecava e colecionava discos de vinil. Basta um flashback para engolir presente e futuro. A possibilidade de, por algumas horas e às escondidas, voltar a ser um jovem solteiro e livre lança Evan num caminho sem volta rumo à infâmia.

Numa época não muito distante, o horror americano desbravava os medos de adolescentes púberes. Na era dos perfis em redes sociais e do compartilhamento desenfreado, “Bata Antes de Entrar” trata de desarrumar a vida do homem adulto e reduzi-la a uma foto esquecida num porta-retrato.

Avaliação: Bom

Veja salas e horários de “Bata Antes de Entrar”.

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