Na Netflix, Democracia em Vertigem narra crise política em tom pessoal

Com foco no impeachment de Dilma Rousseff, documentário de Petra Costa estreou nesta quarta (19/06/2019) na plataforma de streaming

Felipe Moraes
Compartilhar notícia

Democracia em Vertigem, documentário brasileiro de Petra Costa que estreou na Netflix nesta quarta (19/06/2019), traz um olhar até então inédito sobre a crise política vivida pelo Brasil nos últimos anos. É publicizado como um longa sobre o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, mas procura ir além: analisa os protestos de 2013, a prisão de Lula, a Lava Jato e seu apoio popular nas ruas, a derrocada da esquerda, a ascensão da direita ao poder por meio da eleição de Bolsonaro como presidente, a polarização ideológica, entre outros fatos.

A diretora mineira Petra Costa, autora de filmes sobre o suicídio da irmã (Elena) e as complexidades da maternidade (Olmo e a Gaivota), aplica seu já conhecido tom pessoal e íntimo, com narração em primeira pessoa, ao exame sobre um país afogado em incertezas.

1/5
Dilma
Esplanada dividida: Petra Costa tenta entender o acidentado percurso da política nacional nos últimos anos a partir da polarização popular
"Não é só por 20 centavos", "O gigante acordou", "Fora, Dilma", "Fora, Temer", "Intervenção militar já": documentário também reflete sobre os diversos movimentos populares que tomaram as ruas desde 2013
Pôster de Democracia em Vertigem: disponível na Netflix

O que diferencia o filme de outros títulos correlatos, como O Processo e Excelentíssimos – e ainda vem o doc de Anna Muylaert sobre esse mesmo período em breve –, é justamente esse inescapável contorno pessoal. Petra, cujo nome de batismo foi dado por seus pais, militantes de esquerda nos tempos de ditadura, em homenagem a Pedro Pomar, morto durante o regime, passeia com a câmera pelos corredores do poder enquanto o impeachment de Dilma vai ganhando forma. Tomadas de drones olham a Esplanada do alto. Em terra firme, vê de perto trabalhadores erguendo aquele infame muro para separar petralhas e coxinhas.

“De onde tirar forças pra caminhar entre as ruínas? E começar de novo?”, indaga Petra no monólogo final. A cineasta repassa fatos já extremamente conhecidos e televisionados – do “grande acordo nacional” aos discursos raivosos de Bolsonaro – com uma voz pesarosa, de inconformismo e espanto.

Tal relevo particular – a crise política como trauma pessoal – ganha uma segunda camada quando a diretora escancara as contradições de sua própria família. Nada mais universal do que se ver estranho no próprio ninho. Um dos avós dela, veja só, fundou a construtora Andrade Gutierrez, empresa mineira diretamente envolvida por suas relações escusas com partidos políticos e investigada na Lava Jato.

Para além do formato de, digamos, uma retrospectiva poética ou de uma crônica político-pessoal, Petra encontra espaço para articular visões próprias sobre o que trouxe o Brasil até 2019.

A principal delas é tentar entender como aquele país de 2013, das jornadas contra o aumento das passagens, desembocou no atual, assombrado pelo desemprego, pela ameaça de recessão e com um novo governo problemático em níveis diversos – da comunicação ruidosa com o Legislativo à atuação desengonçada na educação, na segurança pública e nos direitos humanos.

De fato, a democracia em uma vertigem sem hora para terminar.

Avaliação: Bom

Compartilhar notícia
Sair da versão mobile