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Louder Than Bombs, de Joachim Trier

Um melodrama cerebral, que demanda atenção e apreciação do espectador (4 estrelas)

atualizado

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Festival de Cannes/Divulgação
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1 de 1 louder-than-bombs-promo-01 - Foto: Festival de Cannes/Divulgação

Algo de muito discreto acontece no filme Louder Than Bombs, um filme que, na premissa, pareceria o maior candidato do festival para estridencia e histeria emocional. Isabelle Huppert, que aparece pouco no filme, interpreta uma repórter especialista em zonas de conflito morta num acidente de carro quando passava férias em casa, com a família. Uma mostra sobre seu trabalho, juntamente com um perfil no New York Times, escrito pelo seu chefe, é o ponto de partida deste melodrama moderno, já que o marido e dois filhos que Isabelle deixou tem de lidar com a exposição.

Para a família, o viúvo Gene (Gabriel Byrne) e os filhos Jonah (Jesse Einsenberg) e Conrad (Devin Druid), a mostra e o artigo são um pesadelo que torna explícito as feridas internas que carregam. A principal, e mais interessante, é que Gene precisa admitir para seu filho mais novo que o acidente de carro em que a mãe morreu foi suicídio. Jonah, o filho do meio, mora longe e acaba de se tornar pai. É com essa cena que o filme começa—ao caminhar pelo hospital procurando comida para sua mulher, Jonah encontra uma ex-namorada, e o excesso de desconforto mostra que ele ainda não tem certeza sobre o seu rumo. Conrad navega o ensino médio como um aluno quieto e esquisito, com uma paixão estereotípica pela cheerleader popular.

Em volta destas pessoas todas está o fantasma metafórico da mãe, em flashbacks e depoimentos. Sua presença física é pequena, mas importante. Isabelle não é a defunta perfeita, aquela cuja trágica morte a torna mítica—o filme a aborda com as mesmas complicações e defeitos do resto da família. Ela, afinal, não conseguia ficar em casa, preferindo largar a família sempre que possível para fotografar alguma guerra. O fato que ela morre na tranquilidade de casa em vez do perigo constante da guerra sublinha o título, uma denúncia de que o silêncio de nossos traumas interiores nos fazem mais mal que as explosões.

Descrever estes temas não faz justiça à maneira como o filme os aborda. É um melodrama cerebral, que demanda atenção e apreciação do espectador. Seu maior mérito é que faz tudo bem diferentemente dos seus pares, ao começar pela troca dos papéis costumários entre marido e mulher. Aqui, a figura sempre acusada de abandono e de irresponsabilidade é a mãe, e quem fica para cuidar dos filhos é o pai. Enquanto o cinema é abarrotado de homens que valorizam a aventura acima da família, Louder Than Bombs nos confronta com o oposto. Esta pequena escolha já é suficiente.

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