Leandro Hassum fala sobre novo filme, O Amor Dá Trabalho, e Ancine

Na nova comédia, o ator interpreta um malandro que morre e fica preso no limbo. Em entrevista, teme recuos na política cultural

Rafaela Benez
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O comediante Leandro Hassum, astro das franquias Até que a Sorte Nos Separe e O Candidato Honesto, interpreta Ancelmo em seu novo filme, O Amor Dá Trabalho. A história conta como o malandro, funcionário público preguiçoso à beça, morre e fica preso no limbo. Para garantir lugar no céu, precisa praticar uma boa ação e bancar o cupido.

Em Brasília para o lançamento do filme, em cartaz nos cinemas, Hassum e o diretor do longa, Alê McHaddo, deram entrevista ao Metrópoles e conversaram sobre assuntos diversos: da comédia às polêmicas envolvendo a Agência Nacional do Cinema (Ancine), alvo de restrições e cortes do presidente da República, Jair Bolsonaro.

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O comediante Leandro Hassum interpreta Ancelmo no filme O Amor Dá Trabalho
Na comédia, Hassum interpreta funcionário público preguiçoso e caricato
A história conta como o malandro Ancelmo morre e fica preso no limbo
Para garantir lugar no céu, ele precisa praticar uma boa ação e bancar o cupido
Segundo Hassum, sem seu personagem, o filme poderia ser visto como uma comédia romântica
Ancine

Nos últimos meses, Bolsonaro interferiu drasticamente no órgão, transferindo a diretoria do Rio de Janeiro para Brasília. Em certo momento, ameaçou até fechar a agência. Além de criticar produções que, segundo ele, atentam contra “valores de família”, a exemplo de Bruna Surfistinha (2011), bloqueou financiamento de produções LGBT, como a série brasiliense Afronte.

Hassum e McHaddo analisam o atual o momento com cautela, mas temem passos para trás. “Temos que olhar com cuidado, prestar atenção aos acontecimentos. Porque seria uma pena se o que foi conquistado retrocedesse. Especialmente com a comédia popular, puxando a sardinha para o nosso lado, que traz os brasileiros de volta ao cinema”, comenta o comediante.

“Estamos numa retomada desde que o Collor acabou com a Embrafilme, então o meu receio é reviver isso. A gente está no meio de uma produção boa, um momento de geração de empregos”, diz o diretor.

McHaddo não acredita no fim da Ancine, mas admite a necessidade de mudanças na gestão da política cultural. “Não acho que o risco é acabar tudo, mas acho que tem que se avaliar sim, fazer correções. Esperamos que tudo caminhe para que possamos expandir esse processo de continuar dando lucro e gerando emprego”, completa.

Comédia: desafios e prazeres

Hassum vê Ancelmo como sujeito frustrado e preso ao dia a dia modorrento. “Eu não definiria ele como um picareta. Faz aquela coisa burocrática, quase que uma rotina, aquele cotidiano chato, monótono e tudo mais que ele sabe que não não tem o poder de resolver. Então ele meio que vai só empurrando com a barriga”, explica.

O filme é uma comédia com pitadas de romance, mas não chega a ser uma comédia romântica. McHaddo entende que o longa funciona quase como uma sátira do gênero. “Porque o Leandro está em outro plano, quase um Brás Cubas”, brinca.

O brasileiro procura filmes engraçados independente do idioma. E através do gênero você consegue falar de temas muito mais delicados sem ser tão incisivo ou criar resistência no público. O Amor Dá Trabalho é um filme muito engraçado, mas tem provocações sobre a vida que em um segundo momento geram reflexão

Alê McHaddo

Para o cineasta, o brasileiro tem uma “pré-disposição ao senso de humor”. “Desgraças viram piadas, não por grosseria, mas porque o povo é assim. Rir de si mesmo é natural”, completa. “A comédia é uma das coisas mais difíceis de você exportar e importar porque ela diz respeito a uma cultura local. Então grandes comédias não necessariamente vão fazer sucesso aqui”.

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