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La Loi du Marché, de Stéphane Brize

Uma versão moderna do neo-realismo para fazer um comentário sobre a sociedade e o capitalismo (4 estrelas)

atualizado

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Festival de Cannes/Divulgação
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1 de 1 mark-1 - Foto: Festival de Cannes/Divulgação

Remetendo aos irmãos Dardenne, que ganharam duas vezes a Palma de Ouro, La Loi du Marché usa a versão moderna do neo-realismo para fazer um comentário sobre a sociedade e o capitalismo. Vincent Lindon vive Thierry, um ex-operário desempregado há mais de um ano que luta por um novo-emprego. Sua situação não é desesperadora, pois ele ainda tem dinheiro em sua conta bancária, mas o orçamento está cada vez menor. Além das prestações de seu lar, que divide com a esposa, o melhor para ele seria matricular seu filho, com necessidades especiais, numa escola adequada.

Brize tem a sabedoria de não pintar seu protagonista como um coitadinho, mas sim como alguém ativamente luta para melhorar sua vida. Thierry passa o dia em cursos de capacitação e em entrevistas horrorosas de emprego. Ele é, afinal, um homem com mais de 50 anos e sem um currículo impressionante de trabalho. Mas quando nos convencemos de que o filme estenderá a agonia de Thierry por todo o tempo de duração, eis que ele consegue um emprego como segurança de supermercado.

A narrativa começa aqui a se elevar: de desempregado, Thierry passa a ser uma força opressora do capitalismo, que passa os dias tentando combater furtos e confrontando outros que tentam roubar comida para aliviar a falta de dinheiro. O título do filme, que em português quer dizer “A Lei do Mercado”, já ironiza a desumanidade desta circunstância. Com longos planos em sequencia e muitos closes no rosto abatido de Thierry, cada confronto, desde o início da película, acirra a agonia desta posição. Não existem aqui cortes de uma cena em que um senhor de idade que tenta roubar um frango e, pego, admite não ter dinheiro, amigos ou família para acudí-lo, para uma paisagem. Estamos lá, em tempo real, presenciando.

A comparação com os Dardennes, que dirigiram Rosetta e Dois Dias, Uma Noite não é gratuita. Alias, se juntássemos estes dois filmes, o resultado seria bem próximo de La Loi du Marché. Enquanto o primeiro é uma jornada desgraçada para o desespero, o segundo é uma reflexão sobre o capitalismo que valoriza mais a integridade do que a sobrevivência. La Loi du Marché é tão focado no personagem de Thierry, que sequer dá um nome para qualquer outro personagem—nem sua mulher e filho. Ao fazer isto, o filme não comete a demogagia de dizer o que é certo para todos, mas apenas para este homem.

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