Crítica: Hobbs e Shaw é spin-off sem graça de Velozes e Furiosos

Primeiro derivado da franquia traz Dwayne Johnson e Jason Statham em missão contra terrorista cibernético com planos de "limpar" a Terra

Felipe Moraes
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Velozes e Furiosos: Hobbs e Shaw, com Dwayne Johnson (o The Rock) e Jason Statham nos papéis principais e direção de David Leitch (Deadpool 2, Atômica), representa o primeiro “atalho” de uma das principais franquias em atividade na indústria de Hollywood. Em termos de popularidade e bilheteria, só fica atrás do Universo Cinematográfico Marvel (MCU) e de Star Wars.

Ao sair do eixo principal, dos filmes “numerados” – o 9 já está em produção –, o universo de cenas de ação alucinantes e tramas de espionagem internacional tenta criar um apêndice com vida própria a partir de homenzarrões que se odeiam, tal qual aqueles thrillers de dupla policial típicos dos anos 1990. Hobbs e Shaw, quando se encontram, sempre se estranham, trocando ofensas e trocadilhos infames.

1/7
Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw
Hattie (Vanessa Kirby), irmã de Deckard Shaw: agente do MI6 entra para ajudar a dupla a conter terrorista internacional
Dupla dinâmica: Hobbs e Shaw ganham missão própria na saga Velozes e Furiosos
Brixton Lore (Idris Elba): vilão cibernético e geneticamente modificado por um culto secreto
Velozes e Furiosos: Hobbs e Shaw. Primeiro spin-off da franquia
Piada e porradaria

Agora, porém, terão que deixar as diferenças de lado e trabalhar juntos contra um vilão que desafia qualquer montanha de músculos. Brixton Lore (Idris Elba), à moda autoirônica do cinema atual, já se anuncia como antagonista da história logo na primeira aparição. Parece um malvadão de filme de super-herói.

Após supostamente ser traído e largado à beira da morte por um colega nos tempos de MI6, o serviço secreto britânico, ele aderiu a um culto secreto que almeja fazer uma limpeza na humanidade, dizimando os fracos e “evoluindo” os fortes. Lore é o case de sucesso: teve força e inteligência aprimoradas por modificações cibernéticas e genéticas. Numa perseguição, Hobbs dá a letra: o sujeito parece o Exterminador do Futuro.

Entra na trama, desde o comecinho, uma bem-vinda nova personagem a esse universo deveras masculino: a habilidosa agente Hattie (Vanessa Kirby, vista recentemente em The Crown e Missão: Impossível – Efeito Fallout), irmã de Shaw. Ela imediatamente vira alvo de Lore quando injeta uma amostra de um vírus mortal, ambicionado pelo terrorista, em seu próprio corpo.

Hobbs e Shaw, o filme, funciona como uma corrida contra o tempo em duas vias expressas: salvar a vida de Hattie e evitar que Lore se aposse do tal vírus de alcance global. A trama, bastante confusa, jamais tenta clarificar a relação entre essa ameaça epidêmica e a persona sobre-humana de Lore. Pudera. O foco aqui é mesmo outro: ação e comédia. Ou, para ser mais exato, piada e porradaria.

Leitch, bem como seu colega de direção em De Volta ao Jogo (2014) – o primeiro John Wick –, Chad Stahelski, passou anos coordenando dublês em cenas perigosas até virar cineasta. Desde a caprichada estreia, seguiu em carreira solo nos apenas regulares Atômica (2017) e Deadpool 2 (2018).

Hobbs e Shaw segue à risca a cartilha franqueada de cenas mirabolantes de perseguição, como no clímax – um helicóptero atrás de carros velozes. Os efeitos digitais em demasia se mostram caprichados, mas tiram um pouco da graça desses constantes desafios às leis da física.

No entanto, a narrativa sofre mesmo é com a química no mínimo forçada entre Johnson e Statham. Parece haver pouco espaço para respiro e as estocadas soam por vezes excessivamente programadas. É sempre um “vou chutar o seu traseiro até você cuspir cadarço” aqui, broncas vazias acolá.

As cenas de ação não parecem nada brilhantes, mas convencem. Por sinal, as sequências de John Wick têm provado que Stahelski é mais diretor que Leitch. De qualquer maneira, Hobbs e Shaw não sabe quando parar. Duas horas e 15 minutos de duração, contando as cenas extras, à guisa de reviravoltas pouco produtivas.

É tanta informação que até Ryan Reynolds, astro de Deadpool, belisca uma ponta, como um agente federal que não sabe fazer outra coisa a não ser elogiar Hobbs – essa relação deve se desdobrar mais adiante em futuros filmes, claro.

Ocupando generosos nacos da trama, subtramas pessoais surgem meramente para criar elos aceitáveis com os laços de família tão caros a Dominic Toretto (Vin Diesel), protagonista e “dono” da franquia: Hobbs voltando às origens na Samoa (terra da família materna de Johnson), cenário do confronto final, Shaw fazendo as pazes com a irmã e reunindo os familiares em torno da mãe, Magdalene (Helen Mirren), presa.

A ver se Velozes e Furiosos terá mais sorte no próximo desvio de rota – um spin-off dedicado às personagens femininas, ainda em pré-produção.

Avaliação: Regular

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