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Crítica: “Antes o Tempo Não Acabava” é crônica sobre um jovem índio

O curta “Abigail” também foi apresentado na segunda sessão noturna deste sábado (24/9)

atualizado

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Antes o Tempo Não Acabava, filme, Festival de Brasília
1 de 1 Antes o Tempo Não Acabava, filme, Festival de Brasília - Foto: Divulgação

Um dos personagens mais originais do 49º Festival de Brasília foi apresentado na última sessão noturna deste sábado (24/9). Anderson, o indígena protagonista de “Antes o Tempo Não Acabava” (foto no alto), surge em uma jornada de autodescoberta sentimental, sexual e até profissional no longa dirigido pela dupla Sérgio Andrade e Fábio Baldo.

Pouco antes, passou na tela do Cine Brasília o curta “Abigail”, coprodução entre Rio de Janeiro e Pernambuco. O filme mistura imagens de arquivo e um ponto de vista pessoal para tecer conexões entre as tradições indígenas e os rituais do candomblé.

Leia críticas dos filmes exibidos na segunda sessão noturna deste sábado (24/9), no Festival de Brasília:

“Antes o Tempo Não Acabava” (AM), de Sérgio Andrade e Fábio Baldo
Uma espécie de “Mãe Só Há Uma” sobre a juventude indígena — mas, claro, sem o caso de roubo na maternidade. A semelhança com o recente filme de Anna Muylaert se desenha pela maneira com que os diretores Sérgio Andrade e Fábio Baldo trabalham o protagonista: um jovem índio dividido entre a cidade e a tribo, em plena autodescoberta sentimental e sexual.

Ambientado em Manaus, o longa traz uma organização espacial diferente de outros filmes sobre indígenas. Por ser uma rara ficção dedicada aos nativos brasileiros, o filme opera uma interessante dinâmica de proximidade e contaminação entre tribo e cidade.

O personagem transita nesses dois espaços à sua maneira. Na cidade, pouco a pouco começa a se descobrir. Larga o emprego numa fábrica para cortar cabelo num salão de beleza. Sem a vigilância de parentes e líderes, testa um batom diante do espelho, faz desenhos no corpo, brinca com o cabelo ensaboado durante o banho.

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Na aldeia, a desconfiança dos índios mais velhos impõe a Anderson uma série de encontros aflitivos, em que ele é sempre intimado ou constrangido a participar de um ritual para se interessar por mulheres.

“Antes o Tempo Não Acabava” ergue um personagem bastante original dentro do cinema contemporâneo brasileiro: um jovem indígena entre as incertezas e prazeres da cidade, mas que não abandona completamente o aconchego da aldeia.

Apesar desse rico aspecto limítrofe do personagem, o filme não deixa de ser um tanto esquemático na maneira como trata cada ambiente: a comunidade indígena ganha tons naturalistas, a cidade é envolvida numa óbvia atmosfera festiva e pop. A personagem de Rita Carelli, dona de ONG, cumpre uma função acessória nesse ciclo de flertes e pressões.

Ainda que vacile, “Antes o Tempo Não Acabava” revela o ator Anderson Tikuna numa intensa e comprometida experiência com o papel, entre anseios de juventude e uma sexualidade a desabrochar na tela.

Avaliação: Regular

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“Abigail” (RJ/PE), de Isabel Penoni e Valentina Homem
A partir de associações históricas entre imagens de acervo obtidas da Cinemateca e perambulações em primeira pessoa por cômodos e corredores, o curta propõe uma investigação poética (e doméstica) sobre a personagem-título.

Com raízes divididas entre o candomblé e tradições indígenas, Abigail abre sua casa de memórias para as cineastas enquanto preserva um cotidiano simples, de rituais e conversas. Em certo sentido, o filme até lida bem com a hibridez do registro, mas adota a postura um tanto confortável de apresentar a protagonista sob um véu mágico e misterioso.

Avaliação: Regular

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