metropoles.com

Com Juliano Cazarré, filme “Boi Neon” encontra poesia no universo das vaquejadas

Com Juliano Cazarré e Maeve Jinkings no elenco, novo filme do pernambucano Gabriel Mascaro flagra as mudanças e contradições vividas pelo Nordeste nos últimos anos

atualizado

Compartilhar notícia

Imovision/Divulgação
Imovision/Divulgação
1 de 1 Imovision/Divulgação - Foto: Imovision/Divulgação

Um dos lançamentos mais aguardados do circuito independente, “Boi Neon” chega aos cinemas nesta quinta (14/1), após uma intensa circulação por festivais (veja horários e salas de exibição). A honra principal veio em Veneza, onde recebeu menção especial do júri na mostra Horizontes. Ao longo de 2015, passou por Austrália, Alemanha, Estados Unidos, França, Suécia, Noruega, Canadá, Croácia, Marrocos e Suíça. No Brasil, dominou o Festival do Rio com quatro prêmios – entre eles o de melhor filme.

Contemporâneo de Kleber Mendonça Filho (“O Som ao Redor”), que neste ano lança “Aquarius”, e de outros jovens cineastas pernambucanos, o diretor Gabriel Mascaro trabalha pela primeira vez com um elenco de peso. Juliano Cazarré interpreta Iremar, que trabalha num curral cuidando dos bois. Na companhia do amigo Zé (Carlos Pessoa) e da dançarina Galega (Maeve Jinkings), busca sentido no universo das vaquejadas.

“Trabalhar com atores deste porte foi um grande exercício de deslocamento. Fui assistido por Fátima Toledo (preparadora de elenco de “Cidade de Deus”, “Tropa de Elite”, “O Céu de Suely”) e ela trouxe uma linda experiência para o processo nos ensaios”, diz o realizador, de 32 anos. Enquanto os longas anteriores do diretor registram estéticas limítrofes (“Doméstica” e “Ventos de Agosto”), entre a ficção e o documentário, “Boi Neon” é uma experiência muito mais narrativa.

“É um filme de personagens estranhos, de experiências intensas, mas pouco sabemos quem são essas pessoas e porque nos envolvemos com elas. O filme registra o cotidiano e as contradições mínimas de uma rotina de trabalhadores”, conta o cineasta, dono de uma carreira que transita entre o documentário e as artes visuais.

O público cinéfilo brasiliense deve se lembrar de Mascaro por suas passagens pelo Festival de Brasília. Seus últimos três filmes vieram à cidade: “Doméstica” e o curta “A Onda Traz, o Vento Leva” competiram pelo prêmio Candango em 2012; “Ventos de Agosto” (2014) venceu troféus de melhor atriz (Dandara de Morais) e fotografia (do próprio Mascaro).

Um Nordeste de contradições e o elo com “Central do Brasil” (1998)
Apesar de prometer poesia visual e sensibilidade, Mascaro não esconde o subtexto político do longa. “Os corpos no filme são biolíticos alegorizados entre a escritura do ordinário e o holofote do espetáculo da cultura de consumo”, explica. O próprio título brinca com a ideia de uma região árida equilibrada pelas cores do desenvolvimento econômico, marcante na região nos últimos quinze anos.

“Incluímos vários elementos multicores para problematizar a presença da cor enquanto agente político desta transformação”, analisa. “O filme se alicerça num cenário contemporâneo de prosperidade econômica regendo novos signos, desenhando novas relações humanas, afetos e desejos. A ideia foi romper com a abordagem monocromática do imaginário desértico da região”, completa.

Um elo importante com o próprio cinema nacional se dá por meio do ator Vinicius de Oliveira, que interpretou o órfão Josué em “Central do Brasil” (1998), de Walter Salles – outro filme sobre as angústias e contradições do Nordeste. “O próprio ator cresceu na região ao som do forró eletrônico, agora cresceu e convive com a cultura do ‘Boi Neon'”, reflete Mascaro.

 

Mascaro no Festival de Veneza em 2015: boa circulação por festivais. Foto: Tristan Fewings/Getty Images
Mascaro no Festival de Veneza: boa circulação internacional. Foto: Tristan Fewings/Getty Images

 

O cinema brasileiro atual: diversificado e universal
A produção nacional tem se destacado recentemente pelo retrato de um Brasil que cresceu vertiginosamente nos anos 2000, mas que ainda sofre com abismos sociais. Nesse sentido, o cinema ganhou novo fôlego com “O Som ao Redor” (2012) e “Que Horas Ela Volta?” (2015), ambos muito premiados lá fora.

Mascaro enxerga nesse novo momento do cinema autoral brasileiro um interesse pela diversidade. “São filmes bem diferentes e que apresentam um olhar aguçado e sensível sobre um pedaço de nós. E esse ‘nós’ não é no sentido identitário de ‘nós brasileiros’, mas nós que sentimos e que sonhamos”, avalia. “‘Boi Neon’ é um filme muito simples e honesto sobre um grupo de vaqueiros vivendo num lugar em transformação. Este sentimento de transformação do espaço e da mudança dos modos de vida é universal”.

Compartilhar notícia