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Cannes: “Yomeddine”, de A. B. Shawky

Road movie muito bem dirigido sobre um órfão e um portador de hanseníase tem uma emoção espetacular

atualizado

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Festival de Cannes/Divulgação
Yomeddine
1 de 1 Yomeddine - Foto: Festival de Cannes/Divulgação

Se a política mundial tem feito pouco caso dos esquecidos, este primeiro filme da competição pela Palma de Ouro no Festival de Cannes os coloca como protagonistas de uma história previsível, porém emocionante em uma maneira inesperada. O egípcio Beshay (Rady Gamal) foi colocado numa colônia para leprosos enquanto criança. Hoje com 40 anos e curado da doença, embora ela tenha deixado seu corpo permanentemente desfigurado, ele montou uma vida para si mesmo na colônia. Munido de um jegue, ele coleta lixo para reciclagem e é casado com uma outra membra da colônia, que sofre distúrbios psicóticos.

No começo do filme, Beshay está esperando a esposa sair do tratamento, mas é em vão. Viúvo, ele decide voltar para a família que o abandonou. Junto com ele, escondido em sua carroça, vai um de seus amigos, a criança órfã Mohammed, (Ahmed Abdelhafiz), apelidado de Obama. Encontrado depois da partida, Beshay aceita levá-lo consigo em vez de retorná-lo ao orfanato. Mohammed nunca conheceu sua família, e nem sabe muito bem de onde vem, então sua busca é similar àquela de Beshay.

“Yomeddine” é um filme previsível em seus dois gêneros. Segue com normalidade tanto o road-movie quanto o drama sobre excluídos que se reintroduzem à sociedade. Sua narrativa é episódica, e os personagens vão se envolvendo em várias peripécias, ficando cada vez mais com menos recursos e cada vez com mais obstinação. O drama e conflito vem do preconceito que sofrem a cada passo da viagem, aonde são encorajados a se sentirem menos que humanos.

O diretor estreante, A. B. Shawky, tem um pilar importante na presença do não-ator Rady Gamal, que realmente contraiu a doença em sua juventude. Ele interpreta Beshay como uma pessoa feliz, que nunca se porta como vítima e cuja única indicação de alguma decepção é esta busca de resolução com sua família. O roteiro extirpa excessos de sentimentalidades dentro do possível, e reserva tudo para o encontro final de Beshay com seu pai. A conversa entre os dois é o ponto inesquecível desta história, bem escrito ao ponto de ser surpreendente, crescendo com uma trilha sonora afetante e uma montagem primorosa.

Avaliação: Bom (3 estrelas)

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