Cannes: “Un Beau Soleil Intérieur”, de Claire Denis
Comédia romântica da diretora veterana dribla todos os clichês da mediocridade e diverte com inteligência
atualizado
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“Comédia romântica” é um gênero de filme muito estereotipado, e não é por menos. Extremamente populares, o maior número destas obras simplifica seus roteiros a uma fórmula simples de encontros e desentendimentos entre um casal jovem que parece não ter nada em comum, mas aí revelam-se feitos um pro outro. Previsíveis e derivativos, não tentam surpreender em nada. Todos já sabem o que esperar de uma comédia romântica.
Mas as coisas não precisam ser assim. É possível que existam ótimos filmes do gêneros (um deles, “O Lado Bom da Vida” quase venceu o Oscar de melhor filme em 2012). “Un Beau Soleil Intérieur”, livremente traduzido como “Um Belo Sol Interior” é uma ótima surpresa da veterana Claire Denis.
Isabelle (Juliette Binoche) está no meio de um estado de limbo na sua vida, especialmente no quesito amoroso. “Limbo”, por assim dizer, por que ela não está bem resolvida, mas também não tão em crise que ela tenha de tomar medidas dramáticas. Divorciada, com uma filha praticamente adulta, ela ainda busca o amor verdadeiro e o filme a mostra navegando as possibilidades românticas da meia-idade.
Pensar que Denis, com 71 anos, faria uma comédia romântica já parece inesperado. Tudo bem, pois o filme é mais que isso. Ele também é uma exploração de todo um período de vida. A diretora e roteirista não traça uma trama clara para Isabell, aonde um momento A vai levar para B e depois pra conclusão C, assim tudo bonitinho. Este é seu maior diferencial das comédias românticas habituais. Ela não persegue um homem específico, mas se abre para ter um relacionamento com vários tipos, um após o outro. A estrutura é de várias vinhetas, conectadas apenas por esta mulher complexa.
Algumas das figuras são um bancário mais velho (e casado), um outro colega artista, um flashback com seu ex-marido, um ator mais jovem (e casado) e, o melhor, um médium. Durante o filme, vemos a incompatibilidade dela com estes homens mais nos diálogos entre eles do que em uma ou outro erro que eles cometem. “Beau Soleil” é um filme para quem gosta de ver adultos conversando. É assim que eles exploram suas neuras, suas inseguranças e seus desejos. Diferentemente de personagens jovens, nenhum tem o idealismo cego de quem imagina ter o mundo em suas mãos. Todos são conformados com seus defeitos e suas imperfeições.
Dizer que o filme é diferente apenas por retratar pessoas numa idade específica não é suficiente. Ele merece ser visto também pelo senso de humor, a fotografia, que parece cotidiana, mas que é muito bem pensada, e claro pelas interpretações, não só de Juliette Binoche e de outros atores conhecidos, mas também de um rol de desconhecidos excelentes.
Avaliação: Excelente (5 estrelas)