Tartaruga, jacaré, camarão, pirarucu. Conheça a “nova” fauna do Lago Paranoá

Especialista explica que a despoluição do espelho d'água nos últimos anos tem criado ambiente mais propício para as mais diversas espécies

Ana Karolline Rodrigues
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Nos últimos dias, um vídeo repercutiu na internet mostrando camarões no Lago Paranoá. Nesta semana, uma moradora do Distrito Federal flagrou tartarugas no espelho d’água, enquanto passeava de lancha com a família. Além desses animais, diferentes espécies de peixes, lontras, capivaras e até jacarés vivem no ambiente.

Biólogos explicam que os afluentes do Lago Paranoá abrigam espécies que não apareciam antes por causa da poluição. Agora, com a maior biodiversidade no reservatório, tem sido cada vez mais comum encontrar esses animais em Brasília.

É o que aponta o biólogo da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) Fernando Starling. “As tartarugas existem no lago há muito tempo. Mas o que é interessante dessas ocorrências recentes, do camarão, da filmagem de outros peixes, é o coroamento de um processo de despoluição que é inédito no mundo. A gente conseguiu transformar um lago que não era utilizado na década de 1970, 1980 e 1990, por ser muito poluído, em um ambiente extremamente saudável e com biodiversidade muito grande. Então, essas espécies começam a ser vistas com mais frequência. Elas já existiam e, provavelmente, as populações delas são maiores hoje exatamente porque o lago está um ambiente saudável”, destaca.

“Existem espécies diferentes de tartarugas, tracajás e cágados no lago. Existem também jacarés, tanto jacaretinga, que é um jacaré pequeno da região daqui do Centro-Oeste, como também já foi encontrado o jacaré-do-papo-amarelo, que é o maior. Esse apareceu no lago e, provavelmente, foi introduzido. Já também soube que foram feitas introduções da tartaruga-da-amazônia”, comenta.

O especialista, que trabalha há mais de 30 anos no Lago Paranoá, conta que o ambiente passou por desequilíbrio na fauna no passado, mas que agora se mostra cada vez mais saudável. “É importante lembrar que é um ambiente que não é natural, é artificial, foi criado, e acabou sendo alvo de introduções de espécies, que é algo que não deve ser feito. Essa colocação de espécies no lago, principalmente que não são nativas das bacias, não é correto, pode causar um desequilíbrio”, explica.

“O maior desequilíbrio que o lago teve na sua história foi a poluição dessas águas por meio dos lançamentos de esgotos no passado. Graças ao trabalho profundo, caro, intenso e longo feito pelo Caesb, nós conseguimos hoje ter um lago despoluído. A despoluição do lago cria um ambiente aquático muito mais propício para que as espécies nativas da região do Cerrado possam repovoar esse ambiente”, detalha.

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Um jacaré foi visto às margens do Lago Paranoá em abril deste ano
Em janeiro, um jacaré foi filmado dentro da água
Animal estava próximo a condomínios no Lago Sul
Um pirarucu também foi encontrado no lago
Peixes e camarões

Criado em 1959, pouco antes da inauguração de Brasília, o Lago Paranoá começou a ser degradado nos primeiros anos da capital. No fim da década de 1970, a qualidade da água estava severamente comprometida por causa do derramamento de esgotos domésticos tratados inadequadamente.

“Nesse lago foram introduzidos peixes exóticos, africanos e asiáticos — as tilápias e as carpas —, na década de 1960. Então, enquanto era poluído, era dominado por poucas espécies de peixes, basicamente tilápias e carpas, em grande quantidade, mas poucas espécies que não são brasileiras. O que aconteceu com as espécies nativas? Estavam em baixíssimo número, porque o ambiente era inóspito, desfavorável. Era um ambiente com oxigênio baixo, tinha instabilidade muito grande”, revela Starling.

Só no começo dos anos 1990 iniciou-se uma política de recuperação focada, entre outras coisas, no controle da quantidade de fósforo que chegava à água. Com o programa, o local passou a receber 70% menos desse elemento — de 418kg de fósforo por dia, em 1992, baixou para níveis próximos de 100kg a partir de 1995. Nessa quantidade, o resultado é considerado benéfico, pois contribui para o equilíbrio do ecossistema.

Com a melhora da qualidade da água, espécies aquáticas que não conseguiam sobreviver anteriormente começaram a povoar novamente o cartão-postal.

“Depois que o lago foi despoluído, nós já encontramos várias espécies de peixes que existiam aqui no início de Brasília e voltaram a aparecer em grande quantidade. O camarão é a mesma situação: existiam aqui na região e não ocupavam o lago porque, aquele ambiente onde foram filmados, por exemplo, é um ambiente de mais de 30 metros de profundidade, que, no passado, não tinha oxigênio e transparência; agora, tem. Então, o ambiente do lago hoje é muito melhor para toda a fauna e, com isso, a biodiversidade do lago aumentou”, diz.

Veja as imagens dos camarões encontrados por mergulhadores:

“No lago, desde o início, já tinham as espécies de peixes que existiam nos córregos. Antes de o lago ser formado, era um rio, o rio Paranoá. Quem se adaptou nessa condição de lago? Algumas espécies que existiam no rio, principalmente umas espécies de lambari, as traíras, uma espécie de acará nativo aqui da região. Aí, vieram as tilápias e as carpas trazidas na época de fora e dominaram o ambiente. Agora, nós temos no lago as nativas e as exóticas. Várias espécies de lambari; duas espécies de acarás nativos; os introduzidos, que são tucunaré, tilápias, carpas. Agora, recentemente, coletaram pirarucu no lago […] já tem registro de tambaqui”, detalha o biólogo da Caesb.

Mamíferos e aves

Além dos principais animais aquáticos, Starling aponta, ainda, a presença de mamíferos e aves que frequentam o ambiente. “Lontra, ariranha, que é um tipo de lontra, capivaras, que usam a área também. E tem ainda as aves, que se alimentam dos peixes: garças, biguá, socó, que são espécies de aves que utilizam bastante o lago”, lembra.

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As capivaras são comuns em regiões do Lago Paranoá
As capivaras são normalmente vistas às margens do lago
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