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Tá calor? Brasília está 1ºC mais quente desde a inauguração

Pode parecer pouco, mas estudos apontam que o aumento gera impactos profundos na população e na economia

atualizado

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Igo Estrela/Metrópoles
Sol quente no DF
1 de 1 Sol quente no DF - Foto: Igo Estrela/Metrópoles

Se você sente que Brasília esquentou ao longo dos anos, está mais do que certo. A temperatura média da capital do país aumentou 1,14 grau Celsius desde a sua fundação. Para chegar ao número, foram comparadas as décadas de 1960 e a última, terminada em 2019. A informação foi obtida após o (M)Dados, núcleo de jornalismo de dados do Metrópoles, ao analisar os dados da estação Brasília do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).

A temperatura máxima média em 2019 foi de 28,12ºC, o que deixou o ano passado como o terceiro mais quente da história nesse quesito, ficando atrás apenas de 2015 e 2016.

 

 

Pode parecer pouco, mas um grau de diferença tem impactos profundos na economia de um lugar e na qualidade de vida da população. Um estudo das universidades de Brown e de Tufts, ambas nos Estados Unidos, concluiu que para cada grau Celsius de aumento na temperatura, a produção de milho e soja em Mato Grosso, por exemplo, cai entre 9% e 13%.

O Painel Intergovernamental de Mudança Climática (IPCC, em inglês), criado pela ONU, vai além. Dados coletados pela organização científico-política apontam que uma variação de apenas 0,5ºC gera riscos para sistemas humanos e naturais, como o aumento de pessoas suscetíveis a caírem na extrema pobreza.

“Estamos dentro dos efeitos do aquecimento global”, enfatizou a professora titular da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília, Marta Bustos Romero.

“O DF foi escolhido para ser a capital porque tinha características muito especiais. Eram as melhores possíveis e conseguimos, em 60 anos, mudar o clima. Houve um aumento [da temperatura] muito rápido. Em outros lugares, demoraram 450 anos para fazer isso”, disse.

Esse crescimento, segundo ela, se deve a diversos fatores que se somam ao aquecimento do planeta. A professora lista, entre outros, o uso de materiais que contribuem para a criação de ilhas de calor e o baixo número de árvores em regiões do DF.

“No momento, temos problemas relacionados ao clima em Vicente Pires, como desmoronamentos constantes. Poderíamos solucionar esses desafios com mais vegetação”, disse. Isso por que, segundo a especialista, o projeto paisagístico de uma cidade precisa ter muitas árvores. “A vegetação urbana não pode ficar restrita à grama. As medições mostraram que na época da seca essas plantações baixas se equivalem a um pavimento e não são suficientes para conter as ações da natureza.”

No futuro

Um estudo realizado pela Secretaria de Meio Ambiente do Distrito Federal (Sema) traz dados alarmantes sobre como ficará o clima da capital nos próximos anos. Temperaturas mais altas, umidade mais baixa e estações de seca prolongadas são algumas das conclusões apontadas pelo Estudo Técnico de Projeções Climáticas para o DF. As temperaturas poderão subir 3 graus até o fim do século – na pior das hipóteses, a elevação chegaria a, até, 8 graus. Os cenários estudados, impostos pelas mudanças climáticas até 2100, apontam, ainda, o aumento do número de dias e noites quentes ao longo do ano.

A umidade, que castiga muitos brasilienses no período da seca, também deve piorar nas próximas décadas. A tendência é a redução dos atuais 35% a 55% de umidade relativa para 20% a 45%. Neste ano, o índice chegou a 8% – inferior ao registrado no deserto do Saara, por exemplo.

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