Presídio Federal de Brasília recebe 30 membros do Comando Vermelho

A mudança foi realizada a pedido do Governo do Pará, após a descoberta de um plano de fuga em massa que envolveria ao menos 400 detentos

Mirelle Pinheiro
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Depois de receber líderes do Primeiro Comando da Capital (PCC), o Presídio Federal de Brasília foi mais uma vez acionado para abrigar membros de facções criminosas do país. Na última sexta-feira (21/06/2019), 30 integrantes do Comando Vermelho (CV) foram levados à penitenciária de segurança máxima construída no DF. Eles estavam em presídios do Pará, mas, a pedido do governo do estado, acabaram transferidos a unidades federais. Inicialmente, todos chegaram a Brasília. Do total, 20 pernoitaram na capital e seguiram para outros complexos. Os outros 10 permanecerão temporariamente no DF.

O Departamento Penitenciário Nacional (Depen), órgão vinculado ao Ministério da Justiça e Segurança Pública, foi responsável pela transferência dos detentos. A ação teve apoio da Força Aérea Brasileira (FAB) e ocorreu após a descoberta de um plano de fuga em massa que envolveria ao menos 400 encarcerados do Complexo de Americano, em Santa Izabel do Pará.

O ministro da Justiça, Sergio Moro, comentou o assunto no Twitter. Ele pontuou que a transferência “desarticulou a organização criminosa e preveniu possível rebelião prisional”.

Os presos que dão entrada no Sistema Federal ficam totalmente isolados por 20 dias. Eles não têm direito a banho de sol – e a única visita permitida é a dos advogados. O Presídio Federal de Brasília abriga, hoje, o líder máximo do PCC, Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, entre outros. Recentemente, a unidade recebeu três integrantes da Família do Norte (FDN).

Plano de fuga

Segundo informações divulgadas no site do Governo do Pará, a fuga estava programada para ocorrer no sábado (22/06/2019), e era articulada pelos 30 detentos transferidos, supostos líderes do Comando Vermelho. O plano foi descoberto pela Polícia Civil e Superintendência do Sistema Penitenciário do estado, que identificaram e obstruíram um túnel com oito metros de profundidade e 40 m de comprimento.

Em coletiva de imprensa, o governador Helder Barbalho (MDB) informou que a ação teria “repercussões em outras unidades prisionais, nas ruas e também em serviços e áreas públicas”. O deslocamento dos criminosos seria parte de uma estratégia para que se evitasse episódio semelhante ao ocorrido no Ceará, em janeiro, indicou o governador.

Em meio à crise de segurança pública no Ceará, 23 presos ligados ao Comando Vermelho fugiram da Cadeia Pública de Pacoti. Segundo Barbalho, também foram tomadas medidas de saturação dentro do presídio.

As investigações ainda estão em andamento, afirmou Barbalho. No entanto, ele disse que os presos seriam líderes de ações criminosas “envolvendo violências ostensivas e tráfico de drogas”. De acordo com o governo, as articulações dos detentos seriam uma resposta a uma portaria instituída no início de junho que impediu a entrada de alimentos nas unidades prisionais, fora as refeições servidas regularmente.

Barbalho indicou que o ingresso de comida facilitava os visitantes a burlarem os sistemas fiscalização, fazendo assim com que telefones celulares chegassem aos detentos. Ele afirmou ainda que processos de escaneamento foram reforçados no presídios. As medidas teriam motivado “esta reação e tentativa de desestabilização do sistema carcerário paraense”, disse o governador.

Marcola

Marcos Camacho está em Brasília desde março deste ano. Ele permanecerá na penitenciária como “estratégia necessária para o enfrentamento e o desmantelamento de organizações criminosas”, de acordo com o Ministério da Justiça. Na época, a transferência causou revolta no Executivo, quando o governador Ibaneis Rocha (MDB) fez duras críticas à decisão do governo federal.

Outros três integrantes do PCC vieram no mesmo voo de Marcola: Cláudio Barbará da Silva, Patrik Wellinton Salomão e Pedro Luiz da Silva Moraes, o Chacal. Além deles, já estão no presídio: Alejandro Juvenal Herbas Camacho Júnior, o Marcolinha, irmão de Marcola; Antônio José Müller, o Granada; e Reinaldo Teixeira dos Santos, conhecido como Funchal ou Tio Sam.

Além do PCC, seis integrantes da facção Família do Norte (FDN) estão detidos no complexo federal desde maio.  O remanejamento ocorreu após uma briga que deixou 55 mortos em quatro presídios de Manaus em menos de 48 horas.

Presídio

O Presídio Federal de Brasília foi inaugurado em outubro de 2018. Os três primeiros detentos a ocuparem a penitenciária integram o PCC. O trio estava encarcerado em uma cadeia federal na cidade de Porto Velho, em Rondônia.

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O presídio federal foi inaugurado no DF em outubro de 2019
A unidade prisional, gerida pelo Depen, abriga três integrantes da cúpula do PCC
Na cadeia federal, os presos cumprem o chamado regime disciplinar diferenciado (RDD)
Durante o banho de sol, toda a movimentação é acompanhada também por videomonitoramento
Os presos federais recebem apenas a visita de seus advogados
Criminosos perigosos estão no DF
A cúpula da Segurança Pública do DF quer evitar a vinda de líderes de facções criminosas

Na unidade prisional, que fica no Complexo Penitenciário da Papuda, há circuito de câmeras com transmissões em tempo real, além de sensores de movimento e alarmes. Segundo o Depen, o sistema conta com equipamentos capazes de identificar drogas e explosivos nas roupas dos visitantes, detectores de metais e sensores de presença, entre outras tecnologias.

Cada preso fica em uma cela individual de 6 m² e tem direito a duas horas de banho de sol por dia. Advogados e amigos podem visitar os detentos no parlatório – os familiares têm acesso ao pátio. São proibidos televisores, rádios e qualquer outro tipo de comunicação externa.

Os presídios federais cumprem determinações da Lei de Execução Penal (LEP) e começaram a ser construídos em 2006. As unidades recebem detentos, condenados ou provisórios, de alta periculosidade. O isolamento individual é destinado a líderes de organizações criminosas, presos com histórico de crimes violentos, responsáveis por fugas e rebeliões, réus colaboradores e delatores premiados.

Além da Penitenciária Federal de Brasília, existem outras quatro de segurança máxima no país: Catanduvas (PR), Mossoró (RN), Campo Grande (MS) e Porto Velho (RO).

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