Ibaneis abre fogo contra presídio federal: “É totalmente inapropriado”

O GDF trabalha para assumir a gestão da penitenciária a fim de retirar os presos federais e usar o complexo para detentos do DF

Francisco Dutra
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Em almoço com o Grupo de Líderes Empresariais (Lide), nesta terça-feira (19/2), o governador Ibaneis Rocha (MDB) foi questionado por empresários sobre a questão da segurança no Distrito Federal. O emedebista aproveitou o momento para dizer que é radicalmente contra o presídio federal instalado no DF, que recebeu recentemente quatro líderes da facção Primeiro Comando da Capital (PCC).

“Brasília não deveria ter presídio federal de modo algum”, cravou o governador. Segundo Ibaneis, o foco da capital é a segurança dos Poderes e não cuidar de presos de grandes grupos criminosos.

O governador afirmou ter relatado o descontentamento diretamente ao ministro da Justiça, Sergio Moro. “O local é totalmente inapropriado. Na semana passada, ele me ligou quando ia trazer aqueles criminosos para cá. E eu falei: ‘Olha ministro, você não conte com meu apoio’. A responsabilidade do presídio federal é de vocês”, revelou Ibaneis.

O GDF trabalha para assumir a gestão do presídio. O objetivo é retirar os presos federais a fim de usar o complexo para transferir os detentos de alta periculosidade do DF.

Para o presídio federal, construído no Complexo Penitenciário da Papuda, foram transferidos: Alejandro Juvenal Herbas Camacho Júnior, conhecido como Marcolinha, irmão de Marcola, o chefe máximo do PCC; Antônio José Müller Júnior, o Granada; e Reinaldo Teixeira dos Santos, apelidado de Funchal, ou Tio Sam. O trio estava encarcerado em uma cadeia federal na cidade de Porto Velho, em Rondônia.

O remanejamento ocorreu após a Polícia Civil e o Ministério Público de São Paulo constatarem, por meio da Operação Echelon, em junho do ano passado, a expansão do PCC pelo Brasil e pela América do Sul. Desde novembro, já havia previsão de transferência do trio para unidades federais, após a descoberta de um plano de resgate de Marcola e de mais integrantes da facção do Presídio de Presidente Venceslau.

Celas individuais
O Presídio Federal de Brasília foi inaugurado em outubro de 2018. Os três líderes do PCC foram colocados na única ala que foi inaugurada. Ela conta com 50 celas individuais erguidas em uma estrutura de concreto armado e monitorada 24 horas por dia.

Na unidade prisional, que fica no Complexo Penitenciário da Papuda, há circuito de câmeras com transmissões em tempo real, além de alarmes e sensores de movimento. Segundo o Departamento Penitenciário Federal (Depen), o sistema conta com equipamentos capazes de identificar drogas e explosivos nas roupas dos visitantes, detectores de metais e sensores de presença, entre outras tecnologias.

Cada preso fica em um espaço de 6 m² e tem direito a duas horas de banho de sol por dia. Advogados e amigos podem visitar os detentos no parlatório, enquanto os familiares têm acesso ao pátio. Será proibido o acesso a televisores, rádios e qualquer outro tipo de comunicação externa.

Os presídios federais cumprem determinações da Lei de Execução Penal (LEP) e começaram a ser construídos em 2006. As unidades recebem detentos, condenados ou provisórios, de alta periculosidade. O isolamento individual é destinado a líderes de organizações criminosas, presos com histórico de crimes violentos, responsáveis por fugas e rebeliões, réus colaboradores e delatores premiados.

Pressão
O encarceramento dos membros da cúpula da facção provocou uma série de ações estratégicas de criminosos na capital da República e gerou preocupação nos órgãos de Segurança Pública. De acordo com investigações da Polícia Civil (PCDF), células que alimentam a estrutura da organização já escolheram pelo menos duas regiões administrativas para se enraizar no Distrito Federal: Paranoá e São Sebastião. As duas localidades ficam próximo ao presídio.

Além da proximidade, as cidades são consideradas ideais por terem vias expressas de entrada e saída rumo aos municípios do Entorno. Órgãos de inteligência locais e federais intensificaram a troca de informações para tentar antecipar e neutralizar as ações do PCC. As apurações apontam que as regiões onde criminosos da facção cumprem pena costumam receber parentes, comparsas e advogados ligados ao grupo. Muitos fixam residência nessas áreas.

Os investigadores monitoram constantemente as atividades de suspeitos que se associaram ao grupo criminoso. Criada há um ano, a Divisão de Repressão às Facções Criminosas (Difac) da PCDF intensificou o combate à consolidação das células criminosas na cidade.

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