Apoiadores da cúpula do PCC entram na mira da Polícia Civil do DF

Investigadores monitoram nomes ligados ao comando da facção, que deve ser transferido para o DF quando terminarem obras do presídio federal

Carlos Carone
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A menos de um mês para a conclusão da obra da penitenciária federal que é erguida em território brasiliense, a Polícia Civil do Distrito Federal ligou o sinal de alerta. É que o complexo, a ser entregue em setembro, deve receber integrantes da cúpula de uma das mais perigosas organizações criminosas do Brasil. O iminente desembarque em Brasília de presos ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC), a maior facção em atividade no país, levou a PCDF a monitorar toda a estrutura que costuma acompanhar esses detentos, incluindo familiares, advogados e comparsas.

Os investigadores temem que a chegada de figurões do PCC transforme o cenário da criminalidade local, intensificando ações e tornando-as ainda mais violentas. Eles consideram que crimes como roubos a bancos, sequestros mediante extorsão e atentados contra delegacias e transportes coletivos, promovidos com frequência pela facção nos estados brasileiros, podem ocorrer também no DF.

Temos esse receio. Por isso, daremos início a um minucioso monitoramento para identificar pessoas que podem entrar em contato com a célula do PCC no DF, que, por enquanto, está completamente neutralizada.

Investigador da PCDF, que pediu anonimato para não atrapalhar o trabalho de inteligência da corporação

Atualmente, os resquícios da organização criminosa em Brasília não têm o apoio dos líderes que estão em São Paulo. “Algo semelhante ocorreu em cidades no interior paulista, quando os presídios federais abrigaram membros da cúpula do PCC e começaram a ocorrer crimes graves, que antes não eram registrados. Queremos evitar que isso aconteça no DF”, reiterou o policial.

Grupo de apoio
Segundo as investigações iniciais, explicou a fonte ouvida pelo Metrópoles, há grande movimentação de “apoiadores” todas as vezes que integrantes da facção são transferidos entre os presídios federais espalhados pelo país. O séquito é responsável por montar a estrutura necessária para que os bandidos, de dentro do cárcere, continuem no comando das ações do PCC. Portanto, o “trabalho” dos apoiadores é o que viabiliza a comunicação dos detentos com pessoas fora do sistema prisional e com comparsas detidos em outras prisões.

Com isso em mente, o monitoramento conduzido pelos policiais civis brasilienses será focado em nomes ligados a figurões da facção que podem acabar vindo para o DF, como Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola. A história do PCC em Brasília começou justamente com ele, em 5 de março de 2001, após o chefe máximo da organização desembarcar em terras candangas.

Depois de peregrinar por diversos presídios do país, Marcola foi recolhido ao Centro de Internação e Reeducação (CIR), no Complexo Penitenciário da Papuda. Apesar da estadia ter sido curta – ficou preso até 8 de fevereiro de 2002 –, a passagem de Marcola pela capital deixou marcas profundas, tanto na mentalidade da massa carcerária quanto na Segurança Pública do DF.

Marcos Camacho, o Marcola, é o líder máximo do PCC. Ele esteve preso no DF entre março de 2001 e fevereiro de 2002

No curto período em que esteve na Papuda, Marcola fundou um braço do PCC chamado pelos criminosos de Partido Liberdade e Direito (PLD). Investigadores da Divisão Especial de Combate ao Crime Organizado (Deco), da PCDF, identificaram que a facção havia sido criada nos mesmo moldes da organização criminosa paulista, inclusive em relação às regras contidas em seu estatuto.

O grupo definiu uma série de terminologias para facilitar a comunicação dentro da Papuda. As ordens da cúpula eram transmitidas de dentro dos presídios pelos “torres”, criminosos responsáveis pelo repasse de informações aos “pilotos”, presidiários escolhidos para coordenar os integrantes do PCC que estavam atrás das grades.

Escalada de crimes
O especialista em Segurança Pública George Felipe Dantas analisou o cenário que poderá se instalar no DF com a presença de integrantes do PCC cumprindo pena no presídio federal. De acordo com ele, a facção tem capacidade para se infiltrar em diferentes setores da sociedade civil e até do próprio governo.

O carro-chefe desta facção, ao que tudo indica, segue sendo o narcotráfico. Isso inclui, basicamente, a distribuição de drogas aos usuários, o que abarca uma gama de outros crimes associados, como tráfico internacional, roubos, furtos, receptação, prostituição e corrupção de menores.

George Felipe Dantas, especialista em Segurança Pública

Segundo Dantas, a lavagem de dinheiro também acaba sendo feita nas cidades onde os integrantes do PCC cumprem pena. Os criminosos promovem a aquisição de bens móveis e imóveis com o dinheiro sujo. São obras de arte, veículos de luxo e organizações comerciais, além de patrimônio, que servem para simular legalidade e legitimidade.

“Na medida em que passam a estar empoderadas pelo poder econômico, essas facções, eventualmente, chegam a controlar não só a própria população prisional como também seus familiares, amigos e advogados”, detalhou George Felipe Dantas. “Elas provocam uma influência nefasta, que pode atingir até mesmo agentes prisionais”, ressaltou.

Segurança garantida
Em abril deste ano, o diretor-geral do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), Marco Antonio Severo, visitou as obras do presídio federal, que fica próximo à Papuda e terá capacidade para abrigar 208 internos. Foram investidos R$ 40 milhões.

Na oportunidade, Marco Antonio Severo confirmou que presos de facções criminosas detidos em outros estados devem ser transferidos para o DF. Ele descartou, no entanto, o risco de que essas organizações se consolidem em Brasília, uma vez que os detentos permanecerão isolados. Além disso, eles serão remanejados periodicamente entre as cinco penitenciárias federais em funcionamento no país.

A cadeia contará também com um espaço exclusivo para mulheres, pois, conforme explicou Severo, “no cenário nacional do crime organizado, cada vez mais se verifica a presença de mulheres exercendo papel de liderança, de chefia de facções criminosas.”
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