metropoles.com

A cada 32 horas, uma mulher grávida é alvo de violência no DF

Quase a metade delas (115) sofreu agressão sexual, segundo dados da Secretaria de Saúde

atualizado

Compartilhar notícia

iStock
Fotografia mostra gestante sentada com as mãos no rosto - Metrópoles
1 de 1 Fotografia mostra gestante sentada com as mãos no rosto - Metrópoles - Foto: iStock

A gravidez é uma fase de transformações na vida de uma mulher. Além das mudanças físicas, há um turbilhão emocional que exige paciência de quem convive com as gestantes. O problema é que nem sempre a gestação é um período de tranquilidade para as brasilienses. Uma estatística assustadora revela que no Distrito Federal, no ano passado, 272 grávidas foram vítimas de violência. Isso significa uma ocorrência a cada 32 horas. O que choca mais ainda é que quase a metade delas (115) sofreu agressão sexual.

Os números fazem parte de um levantamento da Secretaria de Saúde, com base em notificações de violência registradas em pacientes atendidas nas unidades da rede pública do DF. Isso significa que a quantidade pode ser bem maior, já que muitas, envergonhadas ou ameaçadas, não procuram ajuda.

É o caso, por exemplo, da esteticista J., de 32 anos. Ela pediu para não ter o nome divulgado. Teme sofrer novas agressões do marido, que fica violento quando bebe. “Se exagera no álcool, fica fora de controle”, reconhece a jovem, que está na sua primeira gestação.

Primeira e última, conforme ela mesmo afirma. “Já levei alguns tapas, socos e até pontapés na barriga. Na última vez, há uns dois meses, decidi sair de casa. Não quero mais filhos. Estou traumatizada”, conta a mulher, que entrou no oitavo mês de gestação. “Esse homem jamais será um bom pai. Se não é um bom marido, não tem como ser um pai de verdade”, justifica.

Veja os dados (estatísticas contra as grávidas estão em vermelho):

Reprodução/Secretaria de Saúde

 

J. não está sozinha. De acordo com os dados da Secretaria de Saúde, em 2016, 74 gestantes sofreram violência física; 51 foram alvo de abuso psicológico ou moral, e cinco acabaram torturadas. O estudo não aponta quem são os algozes das futuras mamães, mas, no geral, namorados, padrastos e maridos lideram as principais agressões contra as mulheres. A mão que bate é a mesma que negligencia. Os números mostram que 11 grávidas foram abandonadas e três sofreram violência financeira.

Coordenador do Ambulatório de Obstetrícia e Especialidades Ginecológicas do Hospital Santa Lúcia, o médico João Serafim Neto diz que é preciso atenção redobrada com essas vítimas.

“Essa violência pode gerar um quadro depressivo ou causar transtorno de ansiedade, como síndrome do pânico, depressão pós-parto. Situações que interferem na aceitação da mulher com relação à gestação, ao recém-nascido e até mesmo à autoimagem, causando impactos duradouros e graves”, alerta o ginecologista.

Bebês com problemas
Um estudo realizado pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) mostra que a situação das brasileiras grávidas merece atenção especial. As consequências são negativas para as mães, que podem desenvolver distúrbios alimentares, ansiedade e depressão por conta das agressões, e para os filhos.

As chances de que eles nasçam com baixo peso (menos de 2,5 kg) dobram. Até o primeiro ano de vida, o peso inadequado é uma preocupação dos médicos, porque traz riscos à saúde do bebê. Das 652 mulheres entrevistadas, 57 tiveram bebês com peso abaixo do esperado.

Em alguns casos, mãe e filho acabam perdendo a vida. Foi o que ocorreu com Ericamar Guedes de Souza, grávida de cinco meses. Em abril do ano passado, ela morreu depois de ter sido baleada no pescoço pelo companheiro, no Condomínio Del Lago, Itapõa.

Em março deste ano, um homem acabou preso por agredir a companheira grávida. Ela contou que o marido a agrediu com socos, chutes e palavrões. Além disso, quebrou o berço e a banheira do bebê. A mulher relatou que vivia com o agressor há mais de um ano e que havia sido agredida outras vezes.

O Metrópoles entrou em contato com a Delegacia de Atendimento à Mulher (Deam), que não se manifestou sobre os números.

Compartilhar notícia