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Com cloroquina e “pílula do câncer”, Bolsonaro desafia a ciência

Quando deputado, em 2016, Bolsonaro conseguiu articular a regulamentação da fosfoetanolamina, depois barrada pelo Supremo

atualizado

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Raphael Veleda/Metrópoles
Presidente Jair Bolsonaro segura caixa de hidroxicloroquina
1 de 1 Presidente Jair Bolsonaro segura caixa de hidroxicloroquina - Foto: Raphael Veleda/Metrópoles

A apaixonada defesa que o presidente Jair Bolsonaro faz do uso da hidroxicloroquina como esperança de cura para a Covid-19 não é a primeira experiência do político como porta-voz de um medicamento que ainda não teve a eficácia comprovada pela ciência. Um dos três projetos que Bolsonaro conseguiu aprovar em quase três décadas como deputado federal foi o que regulamentou a produção de fosfoetanolamina sintética, conhecida como “pílula do câncer”.

Apesar de nunca ter apresentado eficácia em testes, a pílula ganhou fama após ser distribuída durante 20 anos pelo químico Gilberto Orivaldo Chierice, da Universidade de São Paulo, a pacientes com câncer. A proposta de Bolsonaro para regulamentar a produção industrial da droga foi aprovada em 2016 pelo Congresso e sancionada pela então presidente Dilma Rousseff (PT), que não vetou o texto apesar de pareceres negativos de todos os órgãos técnicos porque tentava melhorar a relação com o Parlamento e evitar o seu impeachment.

Logo após ser autorizada por lei, porém, a pílula do câncer foi proibida pelo Supremo Tribunal Federal (STF), cujo plenário considerou, por 6 votos a 4, que a eficácia da substância contra o câncer não havia sido provada e que sua produção e distribuição poderia levar pacientes a abandonar tratamentos convencionais.

Eleito presidente, Bolsonaro não desistiu da ideia e, no último dia 15 de janeiro, voltou a cobrar que o Supremo reveja a decisão. “Não dá para esperar”, disse, na época.

Cloroquina é promissora, mas não garantida
No caso da hidroxicloroquina, ou apenas cloroquina, há testes preliminares que mostram que o remédio, normalmente usado para combater doenças autoimunes e de pele, pode sim ajudar no tratamento de pacientes com coronavírus, mas os resultados não são conclusivos.

“O estudo não foi feito com a rigidez que a gente gosta de ter na ciência. Foi com um grupo pequeno de pacientes, um grupo controle também pequeno”, avalia o coordenador do Departamento de Medicina Interna da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), Paulo Ricardo Criado, que trabalha com o remédio há 30 anos em pacientes de doenças como lúpus.

“Sabemos que o momento é de pressa e não podemos descartar resultados promissores. Mas ainda é preciso testar mais para entender o mecanismo de ação do remédio contra o coronavírus”, avalia ele.

Apesar de incentivar e monitorar o uso da hidroxicloroquina em pacientes com Covid-19, a Organização Mundial da Saúde (OMS) tem reafirmado que não se espera que a droga seja um caminho curto para a cura dos doentes.

“Depende do estágio em que é administrada e da quantidade. Ninguém aqui fala sobre cura, uma pílula mágica para se recuperar da Covid-19, e sim de uma maneira de prevenir que os pacientes evoluam para um estado grave”, explicou o chefe do programa de emergências da OMS, Mike Ryan, em entrevista na semana passada.

Apesar do cuidado das autoridades, incluindo as brasileiras da área de saúde, o presidente Bolsonaro tem apostado no sucesso do remédio para evitar que o coronavírus se torne um grande problema de saúde pública no Brasil, como já ocorre em países como a Itália.

O Brasil já faz testes clínicos da hidroxicloroquina em pacientes com Covid-19 e o presidente determinou ao Exército que produza a droga – que já falta nas farmácias para pacientes que dependem dela – em seu laboratório farmacêutico.

A defesa aberta que Bolsonaro faz da cloroquina como esperança contra o coronavírus lhe rende a crítica de especialistas, como ocorreu na época da pílula do câncer, e já levou o Twitter a apagar uma postagem do presidente da república sobre o assunto.

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