metropoles.com

Presos fazem greve de fome e ameaçam rebelião após fechamento de cantinas na Papuda

As lojinhas vendiam itens de higiene, cigarros e alimentos, por exemplo. Uma das maiores reclamações é sobre a má qualidade da comida

atualizado

Compartilhar notícia

RAFAELA FELICCIANO/METRÓPOLES
Rafaela Felicciano/Metrópoles
1 de 1 Rafaela Felicciano/Metrópoles - Foto: RAFAELA FELICCIANO/METRÓPOLES

Um grupo de presos do Complexo Penitenciário da Papuda está em greve de fome desde quarta-feira (21/11). Os detentos protestam contra o fechamento das cantinas nas unidades prisionais da capital da República e ameaçam iniciar uma rebelião.

As lojinhas vendiam itens de higiene, cigarros e alimentação. Uma das principais reclamações dos apenados é em relação à comida entregue por empresas terceirizadas. A marmita é considerada de má qualidade, situação agravada pela restrição de produtos levados por familiares em dias de visitação.

A presidente da Associação de Familiares de Internos e Internas do Sistema Penitenciário do Distrito Federal e Entorno (Afisp-DFE), Alessandra Paes, pontua que os direitos são mínimos e, quando retirados, a reação não é boa. “O único meio que tinham para se alimentar bem era por meio das cantinas. Com o fechamento, a situação piorou muito”, reclama.

Onde existe grande número de pessoas tensas com uma situação, corre-se o risco de rebelião

Alessandra Paes, presidente da Afisp-DFE

Impasse
Integrante da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados, a deputada federal Erika Kokay (PT) vai fiscalizar a condição na Papuda. “As famílias não podem mais levar vários produtos que antes podiam e, esses itens, tampouco serão adquiridos nas cantinas. Dessa forma, há dificuldade de manter o sistema em ordem”, considera a parlamentar.

O impasse começou em 7 de abril de 2016, quando o tema entrou na pauta do Tribunal de Contas do DF (TCDF). Na ocasião, a Corte julgou ilegal o exercício direto da atividade comercial pela Sesipe e determinou à Secretaria de Justiça (Sejus) a realização de procedimento licitatório objetivando a “transferência precária e onerosa” da exploração dos locais destinados às vendas. Mas, em vez de realizar a concorrência pública, o GDF optou pela via mais cômoda: a de impedir a comercialização dos artigos.

O presidente do Sindicato dos Agentes de Atividades Penitenciárias do Distrito Federal (Sindpen-DF), Leandro Allan Vieira, destaca que a medida contribuiu para se estabelecer um clima de tensão no complexo prisional. “A administração e os agentes estão tomando providências para tentar minimizar o perigo de conflito”, ressalta.

Em protesto, detentos passaram a tarde dessa segunda (26) em grande alvoroço. O sindicalista critica a ação do Governo do Distrito Federal. “O TCDF disse que o sistema estava errado e tem de prestar contas. É um problema existente há anos e a decisão foi de fechar em vez de tentar arrumar uma outra solução”, afirma.

Um detento da Papuda escreveu uma carta e a endereçou a autoridades por meio de familiares. No texto, ele reclama da situação do sistema e salienta que os presídios brasileiros se tornaram “verdadeiros depósitos de seres humanos, sem nenhuma condição de ressocialização”.

“Muitos [presos] têm de cumprir 10, 15, 20 e 30 anos em regime fechado, em condições extremas, sem cursos profissionalizantes, banho de sol reduzido a 30 minutos. Até mesmo leitura: ler um livro não é mais permitido na unidade do DF”.

O preso ainda reforça o coro dos insatisfeitos com o término das vendas nas lojinhas. “Para terminar literalmente com a vida do apenado, vem a questão da alimentação, que não se permite vir pelas visitas, tampouco vender nas cantinas que mandaram fechar”, diz. A mensagem foi entregue ao Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) pela Afisp-DFE.

Veja a carta:

Reprodução

Protesto no MPDFT
Parentes de detentos manifestaram-se na porta do MPDFT nessa segunda-feira (26). Depois, o grupo encontrou-se com a promotora do Núcleo de Controle e Fiscalização do Sistema Prisional Berenice Maria Scherer.

A presidente da Associação de Familiares de Internos e Internas do Sistema Penitenciário do Distrito Federal e Entorno explica que foi solicitado acompanhamento de saúde aos detentos em greve de fome. “A gente pediu também para avaliarem a possibilidade do aumento da cobal [sacola usada para levar itens de fora para dentro da cadeia]. Estamos com esperança”, frisa Alessandra Paes.

Juíza alerta para riscos
O perigo de reação violenta ao fechamento das cantinas foi alertado pela juíza Leila Cury, da Vara de Execuções Penais do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios (TJDFT). A magistrada disse, em decisão de 18 de maio de 2018, que “a retirada abrupta da venda de cigarros e da venda de gêneros alimentícios e produtos de limpeza não fornecidos pelo Estado pode vir a adequar a incidência de doenças e desencadear rebeliões”.

Cury determinou que a Sesipe informasse, em 10 dias, os produtos de higiene e limpeza fornecidos aos custodiados, além de ter de detalhar como anda o processo licitatório para aquisição dos itens e comunicar a data quando efetivamente os insumos serão fornecidos aos presos.

Em março de 2017, a mesma magistrada barrou a decisão de fechar todas as cantinas do sistema penitenciário do DF  e determinou que os estabelecimentos continuassem funcionando regularmente até a apresentação de programa efetivo do combate ao uso de cigarros e, ainda, plano de ação a fim de permitir aos familiares e amigos dos presos adquirir os itens lá vendidos, sem prejuízo do tempo de visitação.

 

Reprodução/DODF

 

O outro lado
A Sesipe argumentou que a Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social, por meio da Subsecretaria de Administração Geral (Suag), realizou licitações para a compra dos itens antes comercializados nas unidades prisionais, além de autorizar que familiares e amigos levem tais produtos para os apenados. “Com isso, a Sesipe promove a entrega de 27 itens, desde material de limpeza a material de higiene pessoal, como sabonete e creme dental, por exemplo”, completa.

A pasta ressaltou, ainda, que as cantinas ficarão abertas nos dias de visitação — que ocorrem de 15 em 15 ou 21 em 21 dias — até que nova condição seja estabelecida, “considerando a necessidade de garantir aos visitantes, familiares e amigos das pessoas privadas de liberdade que possam se alimentar durante as visitas”.

Cronograma de fechamento
Um documento interno da Subsecretaria do Sistema Penitenciário (Sesipe) detalha o cronograma de fechamento. O Centro de Progressão Penitenciária (CPP) teve a vendinha lacrada integralmente na segunda-feira da semana passada (19). Na quarta seguinte (21), foi a vez da Penitenciária I do Distrito Federal (PDF-I), que teve a loja fechada parcialmente, com cobertura apenas em dia de visitação.

As outras serão fechadas parcialmente, com autorização de venda de sete itens durante visitas: cigarro, fumo, copo plástico de 500ml, refrigerante, água mineral, salgados e fósforo.

As unidades da Penitenciária II do Distrito Federal (PDF-II) e da Penitenciária Feminina encerrarão as atividades a partir de 28 e 29 de novembro, respectivamente. Já as do Centro de Internamento e Reeducação (CIR) e do Centro de Detenção Provisória (CDP) serão lacradas em 5 de dezembro.

Veja o cronograma:

Reprodução/Sesipe

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comDistrito Federal

Você quer ficar por dentro das notícias do Distrito Federal e receber notificações em tempo real?