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Paciente com síndrome de Down chegou a UTI já com morte encefálica, diz prontuário

Documento indica que paciente com síndrome de Down vai à UTI já com sinais de morte encefálica. Família aponta omissão e negligência

atualizado

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Imagem cedida ao Metrópoles
Jovem com Síndrome de Down morre em rede pública
1 de 1 Jovem com Síndrome de Down morre em rede pública - Foto: Imagem cedida ao Metrópoles

Warlley Eduardo Pires, 30 anos, deu entrada na unidade de terapia intensiva (UTI) do Hospital Regional de Samambaia (HRSam) já com morte encefálica. O paciente, que tinha síndrome de Down, morreu na rede pública de saúde após longas horas de espera na unidade de pronto atendimento (UPA II) de Ceilândia, no Setor O.

O Metrópoles teve acesso ao prontuário que registrou o óbito do rapaz na unidade hospitalar. No documento, é informado que o “paciente já é admitido com sinais de morte encefálica, em deterioração clínica progressiva, anúncio em insuficiência renal, com noradrenalina e vasopressina em doses máximas, choque séptico refratário”.

Em nota, a Secretaria de Saúde confirma que Warlley chegou ao local com suspeita de morte encefálica e que, devido à gravidade do quadro, foi atendido rapidamente na UTI. A família denuncia negligência e preconceito no atendimento médico dentro da UPA.

A Comissão de Direitos Humanos da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) encaminhou um ofício à pasta cobrando quais medidas serão tomadas diante do caso. A comissão dá o prazo de 30 dias para que se apresente a apuração dos fatos e a responsabilização dos envolvidos. No documento, também exige-se que sejam adotadas medidas para prevenir a repetição de ocorrência de episódios dessa natureza.

A secretaria informou que ainda não foi comunicada oficialmente do ofício.

Veja a íntegra do ofício:

CLDF emite nota de repúdio no Caso Warlley by Metropoles on Scribd

Em nota de repúdio, a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-DF), na subseção de Ceilândia, emitiu parecer condenando o tratamento médico que o paciente com síndrome de Down recebeu na UPA II de Ceilândia.

“Não aceitamos esse tipo de atendimento desumano nas unidades públicas de atendimento à saúde ou em qualquer instituição pública ou privada da cidade, atendimento esse que agride todos nós que lutamos por igualdade e empatia”, informa a nota.

A OAB ainda solicita investigação célere para apresentar à Justiça a materialidade do fato “tão brutal” que ocorreu nas unidades.

Veja a nota de repúdio:

OAB-DF emite nota de repúdio sobre Caso Warlley by Metropoles on Scribd

A Associação DFDown também emitiu uma nota de repúdio sobre a forma com que Warlley foi atendido. “Imagens e depoimentos aos quais integrantes e diretoria da Associação tiveram acesso dão indícios de negligência e capacitismo inadmissíveis, sobretudo em se tratando de profissionais da saúde dos quadros da administração pública”, diz a nota.

O documento pontua, ainda, que a “a vida de um homem de 30 anos foi perdida em razão de evidente descaso, imperícia e preconceito”. A associação reforça que as autoridades devem investigar as causas da morte e punir os responsáveis.

Entenda o caso

O calvário da família Pires começou na quinta-feira da semana passada (9/3). Em vídeos, é possível ver o rapaz se debatendo no chão da unidade de pronto atendimento do Setor O. Os profissionais de saúde viam a cena e passavam pelo paciente, sem demonstrar qualquer preocupação. Maria de Lourdes Pires, 50, mãe de Warlley, informou que, minutos após o registro das imagens, ele começou a perder os sinais vitais. “Morreu aos meus pés”, desabafou a diarista.

No atestado de óbito, uma das causas da morte deixou a família revoltada. O documento listava insuficiência renal, pneumonia, diabetes e síndrome de Down, como motivo da fatalidade.

Veja vídeo:

Após a publicação da reportagem denunciando o caso, o Iges-DF explicou, em nota, que o paciente deu entrada na UPA de Ceilândia II, no dia 9, às 8h50, levado pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) devido a um quadro de convulsão e febre no dia anterior, avaliado e classificado com gravidade laranja.

“Foram realizados exames laboratoriais e raio X, iniciado antibiótico venoso. O paciente evolui com agitação psicomotora, foi administrado medicamento conforme quadro clínico apresentado. Por volta das 14h10, evoluiu com rebaixamento do nível de consciência, encaminhado para sala vermelha para melhor avaliação, sinais vitais e exames laboratoriais”, diz o Iges-DF.

Após o quadro evoluir em parada cardiorrespiratória, às 14h20, segundo o Iges-DF, os médicos iniciaram as manobras de reanimação e intubação orotraqueal.

“Meu filho não tinha aquele comportamento, e eu falava ‘moço, meu filho não está bem’”, lembrou a mãe. Apesar das súplicas, Warlley recebeu alta às 14h20, conforme consta no prontuário. Com a liberação médica, ela chega a sair do hospital, mas na porta se arrependeu e voltou com o filho para dentro da UPA.

Nesse momento, a mãe disse que foram levados para a “sala verde”, onde aguardaram por um leito. Warlley, então, deitou no chão e se debateu. A mãe clamou por ajuda, mas, segundo ela, foi ignorada. “Eu via que ele estava morrendo”. Maria de Lourdes contou que só quando o filho perdeu a consciência uma enfermeira identificou o agravamento do caso.

“Após 30 minutos, restabeleceu circulação espontânea, acoplado ao ventilador mecânico e submetido a medicamentos. Apresentou nova PCR, novamente restabelecida circulação central. Ele foi prontamente inserido em leito de regulação, com solicitação de leito de UTI. O leito de UTI foi disponibilizado no Hospital Regional de Samambaia (HRSam) e o paciente foi transferido às 23h45 do mesmo dia”, conclui a nota.

O caso

O rapaz registrava febre de 39ºC e diarreia havia quatro dias, com vômitos desencadeados por tosses intensas. A família buscou atendimento em uma unidade básica de saúde (UBS III) de Taguatinga, onde foi orientada a procurar uma UPA de Vicente Pires, onde foi confirmado o quadro de pneumonia e glicemia alta. Medicado, o rapaz recebeu alta e foi para casa. No dia seguinte foi à UPA II e acabou sendo transferido para o HRSam na noite de 9 de março.

Ao Metrópoles mãe contou que, quando o médico do HRSam recebeu Warlley para atendimento, já informou que o estado de saúde do paciente era grave. “Ele me disse que meu filho não iria resistir e que já veio com um quadro de morte”. Às 5h40 do dia 10/3, o óbito foi declarado.

A família registrou um boletim de ocorrência na Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) nessa segunda-feira (13/3), na 24ª Delegacia de Polícia (Ceilândia) que investiga a possível omissão médica nos socorros.

Sobre Warlley

De acordo com familiares e amigos, Warlley era um jovem tranquilo e muito divertido. Ele estudava do Centro de Ensino Especial 1, de Taguatinga, e participava da Banda Acorde.

Veja vídeo de uma das apresentações do homem:

 

 

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