Como agem as quadrilhas que deram rombo de R$ 4 mi com furto de cabos

Cerca de 50 mil pessoas, entre clientes residenciais e comerciais, foram prejudicadas, totalizando 50 horas de interrupção de energia

Carlos Carone ,
Mirelle Pinheiro
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Criminosos envolvidos com o furto de cabos de transmissão de dados, telefonia e energia em praticamente todas as regiões administrativas do Distrito Federal provocaram prejuízo de R$ 4,1 milhões em 2021. Em um comparativo, houve aumento de 382% nas ocorrências policiais registradas nos últimos dois anos nesse tipo de delito. O modus operandi dos bandidos foi mapeado pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF).

Um relatório inédito elaborado pela Divisão de Análise Técnica e Estatística (Date) – ao qual a coluna teve acesso em primeira mão – detalha como receptadores alimentam o mercado clandestino de cobre e estimulam a ação de quadrilhas que se especializaram em levar centenas de metros dos cabos, cortando o fornecimento de energia de milhares de moradores.

No último ano, cerca de 50 mil pessoas, entre clientes residenciais e comerciais, foram prejudicadas, totalizando 50 horas de interrupção de energia em toda a capital federal. O estudo mapeou o dia da semana, a cidade e a hora em que mais atuam os criminosos.

De acordo com o estudo, no ano passado foram registradas 1.627 ocorrências. “Na análise mensal, em todos os meses de 2021 houve mais ocorrências do que em 2020. Os últimos meses do ano (outubro, novembro e dezembro) foram os que tiveram maior incidência criminal”, explicou a diretora da Date, delegada Mariana Almeida.

O relatório também identificou os dias da semana em que os ladrões mais furtam cabos de transmissão. Nesse quesito, foram identificadas diferenças nos dias da semana predominantes em 2020 e em 2021. Enquanto em 2020 prevaleceram os crimes praticados às sextas-feiras (17%) e às quartas (16%), em 2021 houve maior incidência às quintas (18%) e às terças (17%).

Assim como ocorreu com a análise do dia da semana, foram identificadas diferenças no tocante à faixa horária dos crimes nos anos de 2020 e 2021. Há dois anos predominaram os delitos cometidos durante a madrugada (da 0h às 05h59). Já em 2021, houve maior incidência de casos no período matutino (das 6h às 11h59). Em sentido contrário, em ambos os anos houve menor quantitativo de crimes no período noturno (das 19h às 23h59).

O estudo também mapeou as regiões administrativas de maior incidência criminal. Em primeiro lugar está o Plano Piloto, que acumula ao menos 30% das ocorrências anuais do DF, seguida de Ceilândia, Samambaia e Taguatinga, em ambos os anos. Destaca-se também o Sudoeste, que aparece em 5º lugar em 2021, acumulando 5% dos crimes do Distrito Federal. No ano anterior, esta região concentrava apenas 1,5% dos casos.

Ações preventivas

Para coibir essa ação criminosa, a Neoenergia Brasília pretende instalar alarmes nas tampas da rede subterrânea. A distribuidora já iniciou a implementação desse sistema de proteção. Para o ano vigente, há previsão de colocar dois mil equipamentos em todo o Distrito Federal.

A empresa ainda possui parceria com a Secretaria de Segurança Pública do DF e está disponibilizando linha telefônica direta para validação dos serviços técnicos suspeitos realizados na rede. Os batalhões de área e as delegacias estão alinhadas quanto ao problema e realizando ações para coibir os furtos.

Operações

Nesta semana, ex-funcionários de uma empresa terceirizada e que prestavam serviço à CEB foram alvo de operação deflagrada pela Coordenação de Repressão aos Crimes Patrimoniais (Corpatri) na manhã de terça-feira (29/3). O grupo é suspeito de furtar cabos de energia. A PCDF cumpriu quatro mandados de busca e apreensão em Ceilândia, Granja do Torto e Novo Gama (GO).
Segundo a corporação, o desencadeamento da investigação teve início a partir da informação de que haviam sido furtados cabos da empresa Neoenergia e que teria sido usado um caminhão da empresa Engeluz.

Após diligências, foram identificados três funcionários da empresa Engeluz. Para não levantarem suspeitas, eles utilizavam os uniformes e o veículo oficial para o cometer o crime, legitimando a ação. Ainda de acordo com a polícia, os colaboradores, atualmente demitidos, aproveitaram-se não só dos uniformes e do veículo, mas também da experiência no trabalho. Durante o cumprimento dos mandados, os investigadores apreenderam alguns materiais e celulares.

Cabos recuperados

Em outra ação, na quarta-feira (30/3), a PCDF recuperou quase 10 toneladas de cabos de energia e alumínio roubados no DF. A quantidade corresponde a 20% e 25% de todo o material furtado de cabos elétricos em Brasília. O valor do material foi estimado em R$ 400 mil.

De acordo com a polícia, o valor agregado total e o prejuízo causado são maiores especialmente quando se leva em conta os apagões gerados pelo crime.

Os cabos foram recuperados por uma equipe da 21ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Sul), no âmbito da Operação Reciclagem Legal, em parceria com a Secretaria de Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal), a Neoenergia Distribuição Brasília e a participação da empresa de telefonia OI.

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