O governo de Goiás voltou a ignorar o Ministério Público local (MPGO) ao omitir explicações sobre a pavimentação da GO-425, a qual incluiu um trecho que chega à fazenda da deputada distrital Liliane Roriz (PTB). Após não receber as ordens de pagamento do contrato estabelecido entre a Agência Goiana de Transportes e Obras (Agetop) e a empresa Eletro Hidro Ltda. (EHL), a 89ª Promotoria de Justiça demandou a realização de perícia de engenharia para identificar possíveis irregularidades no asfaltamento da via.
No despacho mais recente, de 21 de fevereiro, a promotora Marlene Nunes Freitas Bueno afirma ser necessário constatar se os pagamentos realizados pela Agetop à EHL para a pavimentação da GO-425 incluem o trecho de aproximadamente 1,5km entre a rodovia e a propriedade da parlamentar.A suspeita de a EHL ter feito um “puxadinho” que beneficiou a propriedade da parlamentar foi noticiada pelo Metrópoles em novembro de 2017. Desde então, o MPGO passou a investigar o caso e pediu esclarecimentos à Agetop. Mas, nenhuma das informações prestadas pela agência explicava como uma obra pública chegou à propriedade da parlamentar do Distrito Federal.
Cansada da omissão de informações dos envolvidos, a promotoria demandou técnicos em engenharia civil do MPGO para a verificação da obra. A lista de oito pedidos da promotora aos servidores engloba, entre outros itens, a apuração de possíveis aditivos ao acordo e se eles estão regulares. Marlene Bueno questiona também se o valor da pavimentação que teria sido custeada na fazenda da deputada está dentro do preço de mercado.
Sem respostas
Desde o ano passado, o MPGO espera da Agetop documentos relativos às obras de asfaltamento da GO-425. Em 30 de novembro de 2017, a promotora Marlene Bueno encaminhou ao Executivo local uma representação cobrando a cópia do acordo firmado entre a agência e a EHL. Passados mais de três meses, algumas lacunas não foram respondidas.
Além do Ministério Público goiano, a ONG Adote um Distrital acompanha o caso. A entidade entrou com uma representação na Câmara Legislativa, pedindo que Liliane Roriz mostre as notas fiscais do serviço.
Procurada nessa segunda-feira (5/3), a assessoria da deputada do PTB não quis se pronunciar sobre o assunto. A Agetop disse que “a documentação exigida pela MP-GO foi encaminhada na sua totalidade, para prestar os esclarecimentos necessários”. Quanto à solicitação específica das ordens de pagamento do contrato citado, informaram que “não recebemos nenhum pedido sobre isso. Quando formos oficialmente comunicados os referidos documentos serão encaminhados”.
A EHL, por sua vez, informou que todos os esclarecimentos estão sendo prestados ao Ministério Público Estadual.
Despacho MPGO sobre pavimentação na fazenda da deputada Liliane Roriz by Metrópoles on Scribd
Versões
O Ministério Público de Goiás quer saber se houve favorecimento ilegal a partir de um contrato envolvendo dinheiro tirado dos cofres do governo comandado por Marconi Perillo (PSDB-GO), aliado histórico do pai de Liliane, o ex-governador do DF Joaquim Roriz. Nos bastidores políticos, comenta-se a benfeitoria como sendo uma promessa antiga, feita há anos por Perillo ao próprio Roriz.
Em um primeiro momento, a empresa afirmou que a obra realizada era particular e a deputada havia pagado pelo serviço. Após o pedido de comprovação dos pagamentos por meio de notas, outra versão dos fatos surgiu. O asfaltamento do trecho teria sido feito por meio de permuta prevista em contrato. A contrapartida para o serviço seria em cascalho. A EHL teria retirado o mineral de uma jazida da fazenda, para uso na obra da GO-425.

O projeto que prevê a retirada do cascalho da propriedade de Liliane Roriz deveria ser público, pois embasou a licitação para a obra na GO-425, paga com dinheiro do Tesouro local. No entanto, nenhuma das partes envolvidas apresenta o documento.
MP fará perícia em obra de asfaltamento na fazenda de Liliane Roriz

MP fará perícia em obra de asfaltamento na fazenda de Liliane Roriz
20 FOTOS
Obras na fazenda de Liliane Roriz foram suspensas. A empresa EHL, responsável pelos trabalhos na rodovia, também realizou a pavimentação na propriedade da deputada Rafaela Felicciano/Metrópoles

Entrada da fazenda da deputada Liliane Roriz foi a que teve a paisagem mais alterada Rafaela Felicciano/Metrópoles

Uma das entradas de acesso à fazenda Palma, da família Roriz, também continua com chão batido Rafaela Felicciano/Metrópoles

Registro de trecho da gigantesca fazenda Palma, da família Roriz Rafaela Felicciano/Metrópoles

Acesso a uma fazenda à margem da rodovia GO-425, também com estrada de terra Rafaela Felicciano/Metrópoles

Reprodução do Google Maps mostra trecho antes de ser asfaltado, tomado pelo mato e com chão de terra batida Reprodução

Em imagem do Google Maps, é possível ver a entrada da fazenda antes das obras, com mato queimado e terra Reprodução

Via de acesso à fazenda de Liliane Roriz, na GO-425, antes das obras Reprodução

Levantar poeira era inevitável antes das obras no local Reprodução

Funcionário trabalha na via de acesso à propriedade particular de Liliane Roriz Rafaela Felicciano/Metrópoles

Obras no local, com canaletas, rodapé e sistema de escoamento Rafaela Felicciano/Metrópoles

Pista de acesso à guarita da fazenda foi pavimentada. Segundo funcionários, a brita estende-se até o mata-burro Rafaela Felicciano/Metrópoles

Pela cerca da fazenda, é possível notar as alterações Rafaela Felicciano/Metrópoles

Animais caminham sobre o piso novo na propriedade de Liliane Rafaela Felicciano/Metrópoles

Casa onde moram funcionários da deputada, na entrada da fazenda Rafaela Felicciano/Metrópoles

Trecho da rodovia GO-425, asfaltada recentemente Rafaela Felicciano/Metrópoles

Trecho da pista recém-asfaltada Rafaela Felicciano/Metrópoles

Placa no trevo entre a GO-425 e a pista de acesso a Corumbá IV Rafaela Felicciano/Metrópoles

Outras propriedades que ficam na GO-425 não receberam pavimentação Ian Ferraz/Metrópoles

Acesso a uma propriedade na GO-425 que segue inalterada Ian Ferraz/Metrópoles
Empresa enrolada
A Eletro Hidro Ltda. coleciona problemas nas obras executadas Brasil afora. Em 2016, o proprietário da empresa, Wilmar Oliveira de Bastos, foi preso pela Polícia Federal, acusado de integrar uma organização criminosa que fraudava licitações de terraplanagem e pavimentação em Tocantins. Ele e outras 20 pessoas também detidas na Operação Ápia podem ter causado prejuízos superiores a R$ 1 bilhão.
Todas as empresas de Wilmar Bastos têm sede em Tocantins. Conhecido como Chatão, ele é responsável por grandes obras no estado. Entre elas, a da alça viária Norte-Sul, em Palmas, que ficou paralisada pelas investigações da Operação Ápia. Essa contratação foi firmada no valor de R$ 129 milhões.
Wilmar também é acusado de ter fechado um contrato de R$ 52 milhões para asfaltar vários municípios de Palmas: em razão da suposta má qualidade do material utilizado, o piso começou a rachar em poucos meses.