Mesmo na pandemia, Iges-DF encerra 64% dos contratos temporários de profissionais da Saúde

Segundo funcionários, dispensas têm afetado a rotina na rede pública, colocando em risco o atendimento de pacientes

Francisco Dutra
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Mesmo ainda distante do fim da pandemia do novo coronavírus, o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do Distrito Federal (Iges-DF) dispensou 924 profissionais de saúde temporários.

Em 2020, o Iges contratou 1.445 temporários para reforçar o quadro de pessoal durante o combate à Covid-19. Deste total, somente 521 foram prorrogados até junho de 2021. Ou seja, aproximadamente, 64% acabaram deixando os quadros da entidade.

A ausência de médicos, enfermeiros e outros trabalhadores da área agrava o déficit de pessoal em toda rede de saúde pública, inclusive em unidades geridas pela Secretaria de Saúde. O alerta é do Sindicato dos Médicos do Distrito Federal (SindMédico-DF).

“A dispensa dos profissionais de saúde com contratos temporários torna ainda mais dramático o déficit de pessoal na rede pública de saúde do Distrito Federal”, pontuou o presidente do SindMédico, Guttemberg Fialho.

Segundo a entidade, o Hospital Regional da Asa Norte (Hran), por exemplo, perdeu 200 profissionais temporários, enquanto o número de casos Covid-19 voltou a aumentar no DF.

“Médicos de especialidades diversas têm dividido sua carga horária para atuar em pronto-socorro, sob a justificativa da situação excepcional da pandemia. A situação fica preocupante quando essas especialidades deixam dar vasão à demanda própria, como no caso da cirurgia plástica do Hran. Os portadores de câncer, problemas cardíacos e renais e os com outras morbidades precisam ter acesso ao atendimento necessário sob pena de ter suas condições agravadas, o que gera uma série de outros problemas e, inclusive, aumenta custos para o Sistema Único de Saúde (SUS)”, alertou.

Relato

O Metrópoles recebeu o depoimento de um profissional de saúde contando os bastidores do fim dos contratos temporários. O nome dele será preservado.

“As pessoas que não assinaram rescisão ainda estão indo. Mas, até agora, o RH ainda não chamou para assinar um novo contrato”, explicou.

“Está uma bagunça com relação a contrato temporário: desde a entrada de funcionário ao pagamento de salário”, desabafou.

Ouça áudio completo:

A reportagem teve acesso a relatos de outros profissionais de saúde. A Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Ceilândia sofre com a falta de oito enfermeiros. “E não fizeram a reposição desse contingente. Fora os que pediram conta”, denunciou o trabalhador na linha de frente na luta contra a pandemia.

Os profissionais também alertam para a falta de equipamentos de proteção individual (EPIs). “Estamos sem luvas de procedimento em setores críticos, como nas unidades de tratamento intensivo (UTIs). Estão oferecendo luvas cirúrgicas de tamanho 8.5 que é a mesma coisa que nada pra alguns”, revelaram.

Em 22 de dezembro de 2020, pacientes denunciaram no tratamento de casos suspeitos de Covid-19 no Hran. Segundo a população, o hospital contava com apenas um médico na escala de fim de ano.

Confira fotos:

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Pacientes aguardando atendimento no Hran
Ambulatório do Hran
Corredor do Hran
Entrada do ambulatório do Hran
Outro lado

Segundo o Iges, foram investidos R$ 48 milhões na contratação de profissionais na pandemia. As UPAs receberam 307. Outros 617 reforçaram o Hospital de Base e 521 foram para o Hospital de Santa Maria (HRSM).

De acordo com o instituto, o encerramento dos contratos ocorreu após a redução da demanda da assistência em pacientes com Covid-19. Para o Iges, o fim das contratações não prejudicou as atividades das unidades.

“A contratação de novos temporários depende de avaliações da direção do instituto de acordo com futuras demandas das unidades de saúde”, argumentou o instituto em nota enviada ao Metrópoles.

Alinhado com a Secretaria de Saúde, o Iges garante estar preparado para uma eventual 2ª onda da pandemia. Nesta linha, diz que vai instalar no HRSM 40 leitos de UTI, 10 de unidade de cuidados intermediários (UCI) e 36 de enfermaria. No caso do Hospital de Base, estão previstos 40 leitos de UTI.

Não há desorganização

A Secretaria de Saúde nega qualquer descompasso no quadro de pessoal durante a pandemia. “É preciso esclarecer que não está havendo confusão e desorganização no processo de reposição dos quadros”, garantiu a pasta.

Pelas contas da pasta, foram realizados sete processos seletivos para temporários, admitindo 1.303 profissionais. Deste total, 823 foram escalados para atender diretamente na pandemia.

Entre os temporários na pandemia, a rede pública mobilizou 196 enfermeiros, 32 clínicos médicos, 2 médicos psiquiatras, 82 psicólogos e 511 técnicos de enfermagem.

“As admissões que atendem diretamente a pandemia tiveram início em julho de 2020 e têm vigência até janeiro de 2021. As gerências de pessoas das superintendências de saúde já estão sendo contatadas para que se manifestem quanto ao interesse de renovação dos contratos por mais seis meses”, afiançou a secretaria.

Segundo a secretaria, foram nomeados 1.422 profissionais efetivos. Desses, 1.022 são médicos. Atualmente, está em andamento processo seletivo para contratação de novos médicos. Esses profissionais devem iniciar suas funções em 22 de janeiro.

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