metropoles.com

Mãe adotiva de Thaissa: “Mais tranquila com minha menina em casa”

No Gama, Zilmar Custódia fala pela primeira vez sobre o caso, mostra-se aliviada e relembra momentos de terror da família e da criança

atualizado

Compartilhar notícia

Hugo Barreto/Metrópoles
Caso-Thaissa-volta-pra-casa
1 de 1 Caso-Thaissa-volta-pra-casa - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Zilmar Borges Custódia, mãe adotiva de Thaissa Ayane Borges Tavares, 8 anos, falou pela primeira vez à imprensa na manhã desta sexta-feira (01/11/2019). “Agora, estou muito mais tranquila com minha menina em casa”, declarou dona Zilma, como gosta de ser chamada. O drama da menina teve um dos capítulos mais tensos na quinta-feira (31/10/2019), quando Rafaela Victor Santana, mãe biológica da garota, se apresentou à 14ª Delegacia de Polícia (Gama).

Rafaela teria levado Thaissa da casa da família adotiva na terça-feira (29/10/2019). Na quinta, o Ministério Público decidiu que a guarda provisória deveria ficar com as pessoas que criaram a criança.

Zilma havia acabado de passar por uma cirurgia nas pálpebras quando Thaissa sumiu. “Eu fiquei muito mal. Uma menina que nunca tinha saído dos meus braços. Agora que ela voltou, fiquei bem”, afirmou a dona de casa. “Espero que não saia mais: o lugar dela é aqui. Não quero mais passar por isso com ela”, desabafa a mãe adotiva, detalhando que não parava de chorar desde a última terça.

“Mãe é quem cria. Ela (Rafaela) falou que estava grávida e não se interessava pelo bebê. Ela disse que ia doar a criança. Falei que eu cuidava dela. Fiquei com a Thaissa no hospital durante todo o tratamento”, frisa Zilma, lembrando dos problemas de saúde que a menina teve ao nascer.

Hoje, o clima na casa da família Borges, no Gama, era de alegria. “Dormiu todo mundo junto. Agora é outro sentimento. Estar com ela em casa de novo, abraçar, beijar, vê-la feliz. Ver os olhinhos dela cheios d’água dizendo que ama a gente e que sentiu nossa falta”, comenta Thayanne, irmã adotiva.

Confira fotos do reencontro com a família adotiva:

0
Sem dormir

A família falou abertamente sobre o suposto terror passado pela criança nos últimos dois dias. “Ela fingia que dormia quando estava com a Rafaela. No momento em que a trocaram de carro (no dia da subtração), a menina ficou muito assustada, pedia pra não fazer nada com ela. Thaissa achava que nunca mais ia voltar pra casa”, contam as irmãs Thais e Thayanne.

De acordo com elas, Thaissa dizia: “Moça, não faz nada comigo”, quando foi pega por Rafaela. A garotinha relatou à família que o outro veículo usado na ação estava cheio de sacolas, panos e travesseiros. “Ela sabia que aquilo era para ocultá-la. Contou para gente que pensava: ‘Estão me levando para não voltar’.”

Ainda segundo as duas jovens, Thaissa teria dito que sentia medo o tempo todo. “Ela orava e pedia para Deus abençoar a família. Pedia para voltar”, destaca Thayanne. De acordo com a irmãs adotivas, a menina supostamente afirmou ao Conselho Tutelar que não conhecia ninguém que a havia levado.

“Não foi como a Rafaela (mãe biológica) contou. Na hora em que estava passando (o caso) na TV, a própria Thaissa disse: “Eu não falei isso, é mentira”, enfatizou Zilma.

A família diz ainda não ter explicado tudo o que aconteceu à criança. “Estamos contando aos poucos para a Thaissa. Fomos orientados a ir conversando devagar e esperar alguns dias”, esclareceu Thayanne.

A mãe biológica

Na quinta-feira (31/10/2019), a versão contada por Rafaela Victor Santana era outra. Segundo a mãe biológica, Thaissa aceitou ir sem reagir. “Ela simplesmente me olhou profundamente e ficou falando ‘Calma, moça, calma’. Foi como se eu abrisse uma gaiola e um passarinho voasse. Ela vivia uma mentira, um amor forçado com a outra família”, disse a mulher.

“Foi a coisa mais gostosa do mundo ver ela brincado, feliz com a irmã. Ela me chamou de mãe e sentou no meu colo”, afirmou Rafaela. A mulher alega ter convivido com a filha durante todo o tempo e nega que tenha dado a menina para a família Borges.

Além disso, na quarta-feira (30/10/2019), o advogado de Rafaela, Thiago Caixeta, informou que havia um boletim de ocorrência sobre a subtração de incapaz referente à garota, em 2015, na 26ª Delegacia de Polícia (Samambaia). O defensor disse ao Metrópoles que a família adotiva da menina frequentemente mudava de endereço para “fugir” da mãe biológica.

“A família de Zilmar pegou a criança para si e mudou de residência. Elas moravam em Samambaia. Depois, parece que foram para o Recanto das Emas, Valparaíso e, agora, estão no Gama. A Rafaela se aproximava e elas fugiam. Ela estava desde então procurando”, relatou o advogado.

Entenda o caso

No início da tarde de terça (29/10/2019), no Gama, Thaissa Ayanne Silva Santana seguia para a escola com a irmã mais velha quando, na altura da Quadra 19 da região administrativa, dois homens e uma mulher desceram de um carro e teriam levado a estudante à força.

A pessoa que denunciou o caso aos agentes da 14ª DP reconheceu a mãe biológica da criança, Rafaela Victor Santana, como uma das autoras do suposto crime. Ela teria dado a filha para adoção logo após o parto.

A família adotiva esclarece que conheceu Rafaela em Samambaia. “Ela era nossa vizinha na época e trabalhava como costureira. Começamos a levar algumas roupas para consertar lá. Quando ela engravidou, contou que não queria a criança, que era uma gravidez indesejada. Ela chegou para a minha mãe e perguntou: ‘A senhora quer?’”, salienta Thayanne, uma das filhas de Zilmar.

A bebê nasceu com problemas de saúde, com sopro no coração, e chegou a ficar internada por 17 dias. Além disso, foi diagnosticada com lesão nos rins e intestino perfurado. Após a garotinha passar por cirurgias e anos de recuperação, a família oficializou a adoção de Thaissa e já tem a guarda provisória.

“Quando sentamos para conversar sobre a adoção com a genitora, deixamos claro: não há devolução. Ela concordou e disse que não queria nada com a menina, que nunca iria pegá-la e sabia que estava sendo bem cuidada”, frisa Thayanne. A irmã da vítima comentou que a suspeita chegou a ligar algumas vezes para saber como estava a criança, mas quando se mudou de Samambaia, nunca mais entrou em contato. Na época, Thaissa tinha menos de 2 anos.

Compartilhar notícia