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Idosos sofrem com a falta de apoio em abrigo no Park Way

Dependente de doações e das aposentadorias dos 60 pacientes que vivem no local, o Lar dos Velhinhos Francisco de Assis tem problemas para obter os recursos necessários para a manutenção do espaço

atualizado

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Leonardo Arruda/Metrópoles
Lar dos vlhinhos Francisco de Assis. Núcleo Bandeirante – DF 18/12/2015
1 de 1 Lar dos vlhinhos Francisco de Assis. Núcleo Bandeirante – DF 18/12/2015 - Foto: Leonardo Arruda/Metrópoles

A casa térrea localizada na quadra 1 do Park Way passaria despercebida se não fosse pela placa indicando a função do local, “Lar dos Velhinhos Francisco de Assis”. Ao adentrar no espaço, o visitante se dá com um cenário pouco animador. A instituição, criada para abrigar 60 pessoas com mais de 70 anos que possuem dificuldades financeiras, conta com uma carência que vai muito além de seus moradores. A estrutura, bastante simples, revela a falta de apoio financeiro privado e público.

Um passeio pelo local desvela as dificuldades da casa. Na espaçosa varanda, alguns senhores disputam um lugar próximo à única televisão em funcionamento. Outros, nem um pouco desejosos de participar da disputa, parecem saborear a suave brisa que alivia o calor brasiliense. Não há ventiladores ali e em nenhum outro ambiente da casa. Em dias que as altas temperaturas batem recordes, esse vento se tornou o melhor amigo deles.

Mais adiante, o refeitório se descortina com outro grupo de moradores. Distribuídos em cerca de dez mesas e cadeiras de plásticos, alguns se alimentam de um singelo prato de arroz e feijão, sozinhos ou se valendo da ajuda de funcionários. Outros permanecem sentados com um semblante sereno, como se estivessem esperando por algum movimento que lhe valessem atenção.

Inesperadamente, um deles sorri ao ver novos rostos no ambiente e solta diversas frases melancólicas, todas dirigidas aos estranhos que adentram o local: “Os dias são muitos difíceis, meu filho. Tempo bom era o de antigamente. Hoje não tem nada fácil, não.”

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Como o Lar dos Velhinhos foi, antes, uma grande residência particular, os quartos são improvisados. Alguns cômodos foram transformados em pavilhões com cinco ou mais camas de madeira e armários pequenos, todos feitos de material barato.

Outros foram transformados em quartos duplos e individuais. Porém, o mais curioso é a dinâmica de ocupação do local. Para eles, não há dança de cadeiras. A cama que vagar é entregue ao próximo idoso que for morar na casa. Quem chegar e pegar um quarto comunitário, não pode depois ir para um individual.

Dificuldades
Os 5 mil metros quadrados de área é sustentado pela aposentadoria dos idosos que vivem no local. De acordo com a lei, é permitido que 70% do dinheiro recebido por eles sejam aplicados diretamente no abrigo que vivem.

Além de contas básicas como luz e água, o dinheiro é utilizado para empregar os 40 funcionários que trabalham no espaço – entre eles, enfermeiros, cuidadores, nutricionistas, faxineiros e funcionários da administração. “Estamos no limite, mas damos conta de atender todos os pacientes”, afirma o coordenador da casa Gerlande Ferreira.

Porém, alimentos, peças de vestuário, material de limpeza e produtos de higiene pessoal chegam à casa somente por meio de doações mensais. “Como não somos ligados a nenhuma instituição, dependemos da boa ação dos brasilienses para nos mantermos em atividade”, explica o coordenador. Remédios, só se familiares trouxerem ou se o serviço público disponibilizar. O lazer fica por conta de voluntários, muitas vezes estudantes de universidades da capital – por isso, para os moradores da casa, o período das férias é o pior do ano.

Hoje está em construção uma nova ala para que a instituição possa receber mais 20 idosos. “Nossa fila de espera é grande. Dessa forma, vamos poder atender boa parte da demanda”, explica Ferreira. A obra se encontra sob a responsabilidade de voluntários. Ainda não há data para a conclusão do projeto.

O coordenador também afirmou que eles obtiveram apoio financeiro do Governo do Distrito Federal, porém há alguns anos a parceria terminou. “Não demos conta de cumprir todos os requisitos básicos para manter o apoio do poder público, mas hoje entramos na processo para conseguir a ajuda novamente”. A equipe de Metrópoles entrou em contato com a Secretaria Especial do Idoso do DF, mas não obteve nenhuma resposta.

 

Leonardo Arruda/Metrópoles
Adélio Ferreira, morador na casa há 4 anos. Música clássica e literatura brasileira embalam seu dia a dia

 

Seriedade
Com 75 anos, Adélio Ferreira é um dos moradores da casa. Comerciante aposentado, ele divide há quatro anos um quarto com outro idoso. Em seu canto, um som toca músicas clássicas do lado dele tem uma estante guarda diversos livros de autores brasileiros, como Érico Veríssimo e Laurentino Gomes. “Tento, de toda forma, manter minha mente ativa. Muitos daqui não fazem isso e acabam definhando. É triste”.

Ele é um dos sortudos da casa. Sua filha, médica, o visita uma vez por mês enquanto ao menos 90% dos moradores do Lar dos Velhinhos não recebem nenhuma visita. “Minha maior alegria é ter dado um destino diferente do meu para minha filha. Hoje não vivo com ela porque me sinto deslocado, aquele não é o meu mundo”, diz. Sobre a instituição que o recebeu, só restam elogios.

A comida não é muito boa, mas me alimentam sempre. A maioria das pessoas não gostam de conversar, mas tenho alguns amigos. Não tenho muito o que fazer por aqui, mas pelo menos não estou na rua. Devo meus últimos anos de vida a esta casa

Adélio Ferreira

Ao ser questionado sobre o passado, o idoso faz uma careta e afirma que prefere esquecer. “Minha infância foi muito marcada pela ignorância e pela pobreza. Não desejo que alguém tenha a história de vida que eu tive. Aqui vejo esperança ao saber que há tantas pessoas nessa cidade dispostas a nos ajustar. As boas ações delas me fazem um senhor feliz”.

  • Serviço:

Para ajudar a instituição, deve-se entrar em contato por telefone (3552-0056 ou 3552-0056) ou ir diretamente ao local (SMPW, quadra 1, conjunto 4, casa 5). Mais informações pelo e-mail larfranciscodeassis.lfa@gmail.com.

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