metropoles.com

GDF quer saber se acervo de Lucio Costa doado a Portugal era tombado

Um ofício foi enviado ao Iphan perguntando se há uma listagem dos arquivos que serão levados para a Europa

atualizado

Compartilhar notícia

Mario Fontenelle
Lucio Costa e o Projeto do Plano Piloto 1957
1 de 1 Lucio Costa e o Projeto do Plano Piloto 1957 - Foto: Mario Fontenelle

A Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec) enviou um ofício ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) perguntando se há registro de tombamento do acervo doado pela família de Lúcio Costa a Casa da Arquitectura, em Matosinhos, Portugal. A intenção é evitar que documentos relativos à construção de Brasília saiam do país.

Conforme argumenta o texto assinado pelo chefe da pasta, Bartolomeu Rodrigues, os documentos que tratam da edificação da capital do país “possuem relevante valor histórico e cultural para o Brasil, em especial para o Distrito Federal, sendo abarcado pela proteção constitucional conferida aos bens de natureza material e imaterial”.

Ainda que não sejam tombados, a secretaria pergunta se, ao menos, o Iphan tem conhecimento da listagem dos bens doados, em especial no que tange à documentação referente ao concurso nacional que consagrou como vencedor o projeto de Lúcio Costa para construção de Brasília.

“Respeitamos a decisão da família de querer entregar para a Casa de Arquitectura documentos pessoais. Porém, considerando que Lúcio Costa submeteu seu projeto a concurso público, não é razoável retirar do Brasil essa memória”, argumenta Bartolomeu.

Leia o ofício na íntegra

Ofício Iphan Lucio Costa by Metropoles on Scribd

Falta de estrutura é o motivo

O acervo de Lucio Costa com mais de 11 mil documentos foi doado para a Casa da Arquitectura, em Matosinhos, próximo a Porto, em Portugal, por ser o local com melhores condições de receber os arquivos, segundo a família. A neta do criador do Plano Piloto, Julieta Sobral, afirma que não há no Brasil estrutura parecida.

Conforme ela explica, as necessidades dos arquivos são bastante específicas e não há, no Brasil, um local que atenda todas. “Infelizmente não tem aqui. A qualidade das instalações e a reserva técnica da Casa da Arquitectura são muito boas”, explica.

A mudança de país, segundo ela, no entanto, não significa maior dificuldade de acesso. “Não vai ficar um dia sem ficar à disposição. Continua on-line como sempre foi e vai passar por um grande processo de digitalização que deve demorar cerca de 2 anos”, detalha.

Os documentos — incluindo cartas, fotos de família, filmes, rascunhos — estavam abrigados no Instituto Antonio Carlos Jobim, no Rio de Janeiro, desde a morte do arquiteto, em 1998. Há dois anos, em 2019, o local passou por uma reestruturação jurídica. Com isso, a família de Costa considerou que a manutenção do acervo ficaria inviável devido aos altos custos implicados, como a obrigação de um seguro para o acervo.

Conselho de Arquitetura e Urbanismo no DF lamenta

A presidente do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do DF (CAU-DF) Mônica Blanco diz que a classe de profissionais está em choque com a notícia. “Os arquitetos como um todo estão indignados. Quem mais perde com isso são os estudantes. Quantos têm condições de ir até Portugal para analisar de perto este acervo? Pouquíssimos”, lamenta.

Ela lembra que os arquivos de Paulo Mendes da Rocha, outro famoso arquiteto e urbanista brasileiro, foram para o mesmo local em Matosinhos. “Será possível que o Brasil não tem um espaço? Nós estamos perdendo nossas referências. Lucio Costa é nosso mestre, nos ensina em cada pedacinho do Plano Piloto e é importante termos estas obras perto”, comenta.

Compartilhar notícia