Família: incêndio que matou criança teria começado com isqueiro

Pequenos estariam brincando com o objeto sozinhos em casa, em Samambaia. Uma bebê de 6 meses e um menino de 4 anos estão internados

Francisco Dutra ,
Nathália Cardim
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Os parentes da família vítima de incêndio em Samambaia, na noite desse domingo (23/02/2020), falaram sobre as suspeitas de como o fogo começou. Parte deles estava no Hospital de Base de Brasília, onde duas crianças queimadas pelas chamas estão internadas na UTI. No acidente, Kyara Pereira, de 2 anos, morreu.

Romária Pereira da Silva, 31 anos, mãe das crianças, acha que uma brincadeira com isqueiro pode ter iniciado as chamas, de acordo com relato da corretora Jessica Santos, 35, tia da mulher.

“Provavelmente, ela acredita que uma das crianças deve ter brincado com o esqueiro”, contou. Daniel Pereira Lopes, 35 , padrasto de Kyara, do menino de 4 anos e pai da bebê de 6 meses, é fumante. Segundo a tia de Romária, o isqueiro costumava ficar em cima do rack. “Foi muito rápido. Em questão de dois minutos a casa estava em chamas”, pontuou.

Ainda de acordo com Jessica, a casa tinha muitos objetos inflamáveis. “Colchão de casal na sala e duas redes. E mais o sofá. A bebezinha estava na rede e os outros dois no colchão, assistindo à televisão”, detalhou.

Investigações

O caso está sob os cuidados da 26ª Delegacia de Polícia (Samambaia Norte). Ao Metrópoles, o delegado-chefe da unidade, Cícero Jairo de Vasconcelos Monteiro, disse que informações preliminares apontam que as três crianças estavam sozinhas quando as chamas começaram.

De acordo com o investigador, policiais do plantão no Hospital Regional de Taguatinga (HRT) conversaram com Romária, que é mãe de sete filhos. A mulher confirmou que ela e o companheiro, Daniel, que é pai de um dos menores e padrasto dos outros dois, tinham ido à padaria quando o fogo atingiu o imóvel.

“A informação fornecida pela própria mãe é de que eles teriam saído e voltaram cerca de 15 minutos depois. Ao retornarem, a casa já estava em chamas, e o pai entrou para salvar os filhos”, comentou Monteiro. Vizinhos e demais testemunhas serão inqueridos.

Ainda segundo o chefe da 26ª DP, pode ser apurado se houve negligência dos pais.

“Como existiu uma morte, classificamos a ocorrência como homicídio culposo. A qualificação permanece se for confirmado que foi um acidente. Se comprovar alguma negligência dos pais, no entanto, pela própria condição do pai queimado e pelo ato de ele ter salvado os filhos, muito provavelmente não haverá punição. Também pela perda da criança”, completou.

Vizinhos confirmam que Romária e Daniel não estavam casa. Uma moradora do local disse ter visto Daniel pular o muro para conseguir salvar as crianças.

O caso

O fogo na residência localizada no Conjunto 17 da QR 425 de Samambaia começou por volta das 20h de domingo (23/02/2020). De acordo com o Corpo de Bombeiros Militar (CBMDF), cinco pessoas receberam atendimento. Daniel teve 95% do corpo queimado, enquanto uma bebê de 6 meses sofreu queimadura de 2° grau no rosto e braço. As chamas atingiram 70% do corpo de um menino de 4 anos.

Kyara morreu no imóvel. A mãe das crianças, Romária, estava em estado de choque e foi encaminhada ao Hospital Regional de Taguatinga (HRT), mas já saiu da unidade de saúde.

Daniel está na UTI do Hospital Regional da Asa Norte com 95% do corpo queimado e se encontra inconsciente.

Equipes do CBMDF e do Instituto de Criminalística, da Polícia Civil (PCDF), já fizeram as perícias, porém, os resultados podem demorar até 30 dias para ficarem prontos. A residência teve quatro cômodos totalmente queimados: sala, cozinha e dois quartos.

Ajuda dos vizinhos

Os moradores da rua que aconteceu a tragédia tentaram apagar as chamas. Segundo uma das vizinhas do casal, que preferiu falar sob anonimato, chovia muito no momento em que o fogo começou.

“Senti um cheiro forte de fumaça e pensei que pudesse ser da minha casa. Quando saímos no portão, vimos aquela fumaça densa e escura na casa deles. Foi desesperador. A vizinha de porta acordou com o cheiro e não parava de gritar pedindo por socorro”, lembra.

No mesmo momento, a mãe da criança vinha andando na rua e foi avisada de que a residência estava pegando fogo. “Começamos a bater forte no portão por imaginar que as crianças estavam lá dentro. A Romária rolava na água da chuva no asfalto para se molhar e entrar na casa”, diz a vizinha.

Outro vizinho, que também não quis revelar a identidade, comentou ter visto Daniel dentro do imóvel. Ele conseguiu abrir o portão e saiu bem queimado.

“Os bombeiros demoraram. A mãe queria entrar, mas nós não deixamos. Uma cena triste. Quando entramos na casa, a menina estava caída de bruços, com as mãozinhas no rosto, próxima à porta, como quem tivesse tentado sair, mas não conseguiu”, conta. Ainda segundo o homem, houve muita gritaria. “Estamos todos estarrecidos com essa tragédia. É muita tristeza tudo o que presenciamos”, desabafou.

Há informações de que quatro crianças moravam no endereço, mas, no momento do incêndio, apenas três estavam em casa. A polícia confirmou que não havia adultos com os menores quando as chamas começaram. Uma das moradoras da rua afirma que Daniel realmente estava fora da residência e teria chegado durante o fogo. “Era comum eles saírem e as crianças ficarem só. Sempre víamos o casal junto”, diz a vizinha.

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