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Viúva diz que perdoa aluno que matou professor em escola de Valparaíso

Daiane Alves, 31 anos, participou de cerimônia de retomada das aulas na Escola Estadual Céu Azul, 16 dias após o crime

atualizado

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Rafaela Felicciano/Metrópoles
Viuva do professor julio cesar
1 de 1 Viuva do professor julio cesar - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

Duas semanas após ser palco de um crime bárbaro, a Escola Estadual Céu Azul reiniciou as atividades na manhã desta quinta-feira (16/05/2019). No dia 30 de abril, o coordenador do colégio de Valparaíso (GO), no Entorno do DF, foi executado por um aluno que não gostou de ter sido repreendido pelo docente.

O professor Júlio Cesar Barroso de Sousa, 41 anos, levou dois tiros: um nas costas e outro na cabeça, quando já estava caído no chão. Acusado pelo crime, o adolescente de 17 anos foi apreendido no dia seguinte. A própria mãe o entregou à polícia.

A irmã de Júlio, Juliana Maria Lima do Carmo, 35, esteve presente na cerimônia de retomada dos trabalhos na escola. Assim como a viúva Daiane Alves, 31. Ela foi presenteada com flores e participou da inauguração de uma placa que homenageia o professor.

“É muito difícil. Ele era uma pessoa maravilhosa, como pai, professor, tudo. Sinto a perda. Chego em casa e tem aquele vazio. Mas agradeço o apoio que recebi de todos. Vou educar meus filhos da forma que meu marido sempre quis: para serem pessoas honestas e trabalhadoras, assim como ele era”, pontuou.

Ela afirma que não foi procurada pela mãe do rapaz que assassinou o marido dela. Disse, porém, que perdoa o adolescente. “Perdoei, mas não quero contato. Espero que Deus o perdoe, mas não significa que quero aproximação”, afirmou.

As paredes do colégio foram pintadas e a sala de professores, que está em reforma, não fica mais no local onde o coordenador foi assassinado. Uma praça no pátio do colégio vai homenagear o professor.

A comunidade escolar ainda está abalada. Aluno do 1º ano do ensino médio, Jaqueline Lima, 16, disse que teve aula com o professor Júlio no mesmo dia em que ele foi morto. “Fiquei muito triste quando soube e não consigo acreditar. Ainda estou com medo e não queria voltar, mas não tem outro jeito”, ressaltou.

Professores também continuam assustados. Raquel Lima, que ministra aulas de português, conta que alguns docentes pensaram em não retornar às salas de aula. “A gente perde nossa autoridade. A partir do momento que ele foi morto simplesmente porque estava fazendo seu papel, imaginamos que pode acontecer conosco também”, destacou.

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A educadora ponderou, no entanto, o engajamento da unidade de ensino para se reestruturar. “Que nossa imagem não seja marcada por esse acontecimento. Temos excelentes alunos e gostaríamos de levantar o protagonismo juvenil. Pedimos paciência e valorização com os professores, mas vamos lutar e nos reconstruir”, acrescentou.

O diretor da Escola Estadual Céu Azul, Renato de Almeida, disse que o foco agora é “curar a ferida” causada pelo homicídio. “A expectativa é a de um retorno melhor. A sensação é de estar recomeçando”. Segundo ele, os alunos da tarde — turno no qual ocorreu o crime — devem receber mais apoio psicológico. “Vamos ter de nos erguer como uma fênix”, disse, visivelmente emocionado.

Duas semanas podem ser pouco para quem quer se recuperar. No caso dos filhos da manicure Alcione da Silva, 34, o medo ainda não passou por completo. A mãe conta que Isabela, 13, e Eduardo, 8, chegaram muito assustados em casa no dia do assassinato. A menina chorava. “Vai ser difícil superar”, afirma Alcione.

O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), esteve presente na reabertura dos trabalhos na Escola Estadual Céu Azul. “Quem vai fazer a segurança em Goiás é o Estado, e não bandido nem narcotráfico. Vou quebrar essa prática”, assinalou.

Rafaela Felicciano/Metrópoles

Bronca do governador
Antes de ir embora, Caiado deu uma bronca em alunos que estariam fazendo gestos obscenos. O governador saiu de seu lugar, atravessou todo o pátio do colégio e falou para os estudantes, conforme flagrante feito pela repórter fotográfica do Metrópoles Rafaela Felicciano. “Vocês não têm vergonha, não têm respeito? Vocês são maloqueiros?”. Em seguida, os adolescentes saíram da escola por um portão lateral.

O colégio retomou as atividades de cara nova, mas continua sem câmeras de segurança e Batalhão Escolar. Após as homenagens ao professor, Caiado reforçou a importância da participação da comunidade na segurança, ressaltando que o número de policiais não é suficiente para dar atenção a todas as unidades de ensino.

A secretária de Educação de Goiás, Fátima Gavioli, cumprimentou a viúva. “Daiane, você é muito forte. Eu sei que o Arthur e a Heloísa terão a melhor mãe do mundo”, destacou. Ela afirmou também que o protocolo de segurança nas escolas de Goiás será mudado, a pedido do governador.

“O que vocês fazem aqui dentro é responsabilidade da Secretaria, mas o que fazem lá fora vai passar a ser também. Chega de pensar que aluno que posta foto com arma de brinquedo não vai ser chamado a atenção. Vai, sim”, garantiu. Na opinião dela, “o excesso de democracia” tem provocado situações como a de Valparaíso.

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