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Entidade defende cirurgião denunciado por deformar mulheres

Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica diz, em nota, que profissional suspeito de erros médicos tem “elevada respeitabilidade científica”

atualizado

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Reprodução/Arquivo Pessoal
cirurgião denunciado
1 de 1 cirurgião denunciado - Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) Regional DF manifestou-se sobre o caso do cirurgião plástico denunciado por, até agora, 10 mulheres por supostos erros médicos cometidos durante a realização de procedimentos estéticos. Segundo a entidade, o médico Sílvio Parreira da Rocha “é membro associado da SBCP, possui notável qualificação e elevada respeitabilidade científica e ética na comunidade médica”.

Segundo nota enviada à redação do Metrópoles, o órgão diz que “mantém rígido controle sobre a formação e contínuo aprimoramento de seus membros”. “Com o respeito que devotamos ao Poder Público e ao Direito de Imprensa, é importante pontuar que, no contexto relacionado às boas práticas médicas, há riscos inerentes aos procedimentos cirúrgicos, pois o médico trabalha com margens de imprevisibilidade sobre a reação do organismo operado, a exemplo de fenômenos de cicatrização, acomodação e retração dos tecidos”, explica a SBCP.

A entidade afirma que o cirurgião precisa ter a conduta profissional e os resultados das cirurgias analisados e periciados antes de sofrer qualquer juízo de valor. Segundo a nota, a notícia macula “a honradez pessoal e profissional do médico citado”, da forma como foi veiculada. No fim, a SBCP diz confiar “na independência e imparcialidade das investigações realizadas pela Polícia Civil e pelo Ministério Público” e que vai acompanhar o caso.

O caso

O cirurgião plástico virou alvo de investigação da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) após ser denunciado por supostos erros médicos cometidos durante a realização de procedimentos estéticos feitos pelo profissional. Os casos são investigados pela 21ª DP (Taguatinga Sul).

De acordo com a advogada Thawanna Carvalho, uma cliente sua procurou o médico Sílvio Parreira da Rocha a fim de reclamar do procedimento estético realizado pelo especialista.

Segundo a defensora, o resultado da cirurgia de implante de silicone não foi satisfatório e provocou sequelas. “A impressão que se tem é a de que não foi feito nada. A única diferença ao observarmos o antes e depois da cirurgia são os cortes grosseiros que ficaram por todo o corpo da paciente.”

Em perfil profissional publicado na internet, o médico se diz especialista na realização de cirurgias como lipoaspiração, lipoescultura, abdominoplastia, otoplastia, correção de cicatrizes, mamoplastia de redução e implante de silicone. Os procedimentos, no entanto, teriam, segundo o relato das vítimas, provocado desde deformações nos mamilos e cicatrizes profundas até intensas dores nas regiões operadas.

Respostas

Em nota, o médico afirmou já ter realizado mais de três mil operações e diz não reconhecer nenhuma das fotos que estão sendo divulgadas. Ele falou também que nunca provocou deformidade alguma em qualquer paciente. Sílvio ainda alega não ter recebido nenhum tipo de intimação ou notificação da Justiça.

O médico investigado disse ser vítima de “exposição injusta e infundada” e conta ter feito um boletim de ocorrência contra as mulheres que o denunciaram, no intuito de “trazer a verdade dos fatos à tona da maneira mais rápida possível”.

Confira, na íntegra, o posicionamento do médico:

“1° – Tenho 32 anos de atuação na área médica, tendo operado mais de trés mil pacientes. Sou devidamente registrado no CFM (Conselho Federal de Medicina), sob o RQE n° 2214, e também sou membro associado à SBCP (Sociedade Brasileira de Cirurgia Plastica).

2° – Não reconheço a foto das mamas que vem sendo divulgada, apesar de claramente se tratar de uma imagem tirada nos primeiros dias de pós-operatório.

3° – Não tenho, em meu histórico, nenhum caso de ter provocado deformidade em pacientes. Todos os pacientes, antes da cirurgia, são orientados sobre as possíveis evoluções dos casos, que variam de acordo com o biótipo de cada um.

4° – Até o momento, não recebi nenhum tipo de intimação, notificação ou citação da Justiça. Mesmo assim, diante da exposição injusta e infundada, já procurei a Polícia Civil e registrei um Boletim de Ocorrência (no. 97412/2019) contra as possíveis denunciantes, com o objetivo de trazer a verdade dos fatos à tona da maneira mais rápida possível.”

Procurado, o Conselho Regional de Medicina do DF (CRM-DF) ressaltou não haver denúncias registradas contra Rocha no órgão, mas informou que acusações do tipo “são sempre investigadas”. “Caso sejam identificados indícios de falhas por parte do profissional, ele será submetido a um Processo Ético Profissional”, finalizou o CRM-DF em nota.

“Fiquei mutilada”

Duas mulheres foram até a 21ª Delegacia de Polícia (Pistão Sul) na manhã de quinta-feira (12/09/2019) para acusar o cirurgião Sílvio Parreira da Rocha. Elas preferiram não se identificar. Aos jornalistas, contaram que foram operadas pelo médico e os procedimentos não deram certo. “Fiquei mutilada”, diz uma das denunciantes, que passou por cirurgia há quatro anos. Ao todo, são oito possíveis casos.

A outra suposta vítima de erro médico foi operada em março de 2016. A autônoma relata que sentiu muito desconforto e logo viu que a cirurgia de redução mamária, recomendada para corrigir um problema na coluna, não havia dado certo. A cicatriz fechou e abriu várias vezes, segundo afirmou. A mulher conseguiu fazer a reparação um ano depois, com o próprio cirurgião. E o resultado teria sido ainda pior.

“Ficou um buraco nos meus seios, que me incomoda muito e gera coceiras. Sinto dores até hoje. Se você passar a mão na região, ainda consegue sentir os pontos. Ele disse para mim que o problema era na minha pele. Falou: ‘O problema é com você’. Fiquei sem reação na hora”, conta a mulher de 46 anos, moradora do Riacho fundo I.

Ela irá ao Instituto Médico Legal (IML) nesta quinta-feira (12/09/2019). E garante que vai correr atrás da reparação dos danos que alega ter sofrido. “Tudo isso abalou muito minha autoestima, tenho vergonha de sair. E não só isso, afetou minha saúde, o que foi justamente o motivo de eu fazer essa cirurgia”, lamenta.

Demora

Outra suposta vítima, uma mulher que trabalha como vigilante, também prestou depoimento na delegacia na quinta-feira (12/09/2019). Ela realizou uma mamoplastia e colocou prótese há cerca de quatro anos. Em janeiro de 2015, fez o procedimento com Sílvio Rocha – a cirurgia teria demorado quatro meses para fechar.

“A cada 21 dias, os pontos arrebentavam. Isso aconteceu umas três vezes, abrindo e fechando. Durante todo esse processo, eu ficava completamente dependente do meu marido: ele me dava banho, eu não podia dirigir, levantar os braços nem me mexer direito. Foi muito difícil, eu ficava com medo de morrer, me abalou muito”, conta a moradora da Ceilândia, de 41 anos.

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Reparação

A vigilante destaca ainda que o médico chegou a oferecer a reparação, mas a cirurgia seria feita pelo próprio Sílvio. Ela não aceitou. A mulher diz ainda ter ficado com  medo de denunciar o cirurgião, pois, na ocasião, ele tinha dito que era militar aposentado. “Além disso, não tinha cabeça para ir atrás de advogado ou delegacia. Eu precisava me recuperar, porque tudo isso me trouxe um baque psicológico muito grande”, desabafa.

A vítima garante que a cirurgia afetou seu casamento. “Hoje, sou divorciada. Tenho certeza de que isso influenciou, porque até hoje tenho vergonha de me relacionar com alguém. O trauma fica na alma”, ressalta. Pontuou ainda que resolveu ir até a delegacia após ver que outras pacientes estavam indo denunciá-lo. “Quanto mais mulheres denunciarem, melhor. A união faz a força e esse homem tinha que estar preso”, frisa.

A vigilante recorda-se de que gastou cerca de R$ 5.663,00 na cirurgia, mais R$ 2 mil de prótese, R$ 1.350 de internação e anestesia. O valor desembolsado na operação, segundo ela, foi depositado direto na conta do médico.

Laudos

Investigadores da 21ª DP (Taguatinga Sul) que receberam as denúncias contra o cirurgião Sílvio Parreira da Rocha aguardavam a finalização de laudos produzidos pelo IML para intimar o profissional. No entanto, os casos foram repassados para a Coordenação de Repressão aos Crimes contra o Consumidor, a Ordem Tributária e a Fraudes (Corf).

As supostas vítimas de erro em procedimentos passaram por perícia médica, que vai detalhar todas as lesões provocadas pelas intervenções. Após os resultados dos laudos, que devem sair na próxima semana, os delegados que cuidam do caso irão colher o depoimento do médico.

 

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