Inclusão: alunos da UnB transcrevem partituras para o braille
O projeto é destinado a alunos com deficiência visual do curso de música da universidade e começou a ser desenvolvido em agosto de 2019
atualizado
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No dia 4 de janeiro é celebrado o Dia Mundial do Braille, em homenagem ao criador do sistema de escrita tátil, o francês Louis Braille. O código é utilizado por pessoas com deficiência visual, como é o caso da estudante Carolina Lima, que está no quarto semestre de licenciatura em música na Universidade de Brasília.
Até o primeiro semestre de 2019, a graduanda recorria à Escola de Música de Brasília (EBM), de onde é egressa, para levar a transcrição do material usado no curso da UnB e a Coordenação de Apoio às Pessoas com Deficiência do Decanato de Assuntos Comunitários (PPNE/DAC) realizava as impressões em Braille. Mas as coisas mudaram a partir de agosto, com a entrada em exercício do projeto de adaptação de materiais acadêmicos para o Musicografia Braille.
Realizada pelo PPNE, a iniciativa se dá em parceria com o Laboratório de Apoio às Pessoas com Deficiência Visual da Faculdade de Educação (LDV/FE) e o Departamento de Música do Instituto de Artes (MUS/IdA). O projeto também conta com o apoio da EMB.
Com equipe formada por seis estudantes bolsistas, dois voluntários e uma revisora de textos Braille do PPNE, o projeto adaptou os materiais a serem utilizados por Carolina Lima ao longo do segundo semestre de 2019. Foram produzidos: uma apostila de coral com 10 partituras de canto; cinco cânones para a disciplina Linguagem e Estruturação Musical; método de flauta; três partituras de piano; material e gráficos de matrizes para regência.
O projeto começou em agosto e seguiu até dezembro de 2019 e foi financiado com recursos do Plano Nacional de Assistência Estudantil (Pnaes). Para a empreitada, foram usados softwares gratuitos desenvolvidos por universidades brasileiras: Braille Fácil, MusiBraille e Monet.
Adaptação personalizada
Carolina Lima avalia que o material adaptado facilitou a jornada dela como estudante. “Também tornou mais ágil meu processo de aprendizado”, disse. A ideia é que o projeto produza materiais transcritos para outros estudantes que manifestem interesse. Cada adaptação é feita de forma personalizada, de acordo com as limitações de cada estudante. Thaís Imperatori, coordenadora do PPNE, informa que a UnB tem, na atualidade, registro de 43 estudantes com deficiência visual.
O material para regência, por exemplo, demandou soluções criativas da equipe, já que o foco é criar um conteúdo acessível para a pessoa com deficiência e com o mesmo nível de desafio do que a versão impressa tradicional. “A pessoa com a limitação visual deve ter as mesmas possibilidades que a pessoa sem limitação. O objetivo do Braille é não favorecer e também não prejudicar”, explica Carolina Pinheiro, revisora de textos em Braille do PPNE.
Também integraram o projeto, os estudantes de música Lucas Pinheiro, Marcelino da Silva Cruz e Victor Hugo Queiroz, e os estudantes do Instituto de Letras (IL) Mariana Medina, Ana Karoline Versiane e Vanderval Lopes.
Para participar do projeto, é necessário ter conhecimentos sobre música e Braille. Quem explica é a revisora Carolina Pinheiro: “Existem algumas codificações do Braille que é necessário conhecer”. E saber algo sobre programação também é um diferencial”, detalha a servidora.
Carolina Pinheiro explica que a UnB pode produzir quatro tipos de materiais transcritos para estudantes com limitações na visão: transcrição em Braille – feito pelo PPNE –, tamanho ampliado, formato digital acessível e áudio com sintetizador de voz – os últimos três desenvolvidos pelo LDV.
A experiência com os materiais desenvolvidos para a estudante Carolina Lima fizeram o grupo perceber a necessidade de dominar técnicas de adaptação e de criar soluções inovadoras para alcançar o resultado esperado. Foi o caso, por exemplo, da criação de uma codificação para a partitura para flauta doce. A tarefa é descrita por Ana Karoline, do curso de Língua de Sinais Brasileira/Português como Segunda Língua, como uma das mais difíceis realizadas pela equipe.
Formação
Thaís Imperatori, coordenadora no PPNE, avalia que o projeto, além de gerar material necessário para os estudos de Carolina Lima, também foi bastante proveitoso para os bolsistas, que precisaram estudar bastante e desenvolver vários conhecimentos e habilidades. Foi o caso de Vanderval Lopes, no quarto semestre de letras, e também estudante da EMB, que aprendeu Braille ao longo da execução do projeto. Ele conta ter sido necessário descobrir recursos de regência e estudar coral e flauta.
Mariana Medina, também do curso de letras, ressalta que as partituras tradicionais contêm relativa liberdade de formatação de códigos, mas que, para a transcrição para o Braille, é necessário fazer adaptações. Além disso, Ana Karoline conta que o grupo precisou criar estratégias para a própria impressão do material, de forma que o conteúdo impresso em uma folha fosse coerente e compreensível para a leitura de Carolina Lima.
Aliás, a existência de uma impressora em Braille no PPNE foi uma das ferramentas que possibilitou a realização do trabalho. “Quando começamos o projeto, não sabíamos o tamanho do desafio nem o tanto que demoraria para conhecer cada partitura”, conta a revisora Carolina Pinheiro.
Editais em 2020
Para dar continuidade aos trabalhos do projeto em 2020, serão selecionados 10 bolsistas para desempenho de atividades de adaptação de materiais de notação musical para Musicografia Braille. O edital 03/2019 prevê a possibilidade de formação de cadastro de reserva. Os bolsistas devem cumprir carga horária de 12 horas semanais, com previsão de reuniões de acompanhamento e de avaliação com a equipe do PPNE/DAC. O projeto ocorrerá de janeiro a dezembro de 2020. As inscrições estarão abertas de 6 a 15 de janeiro.
Outras informações
Outros dois editais estarão abertos no início do ano. O edital 05/2019 selecionará 10 bolsistas, preferencialmente, dos cursos de arquitetura e urbanismo, engenharia civil, desenho industrial e afins para projeto de levantamento das condições de acessibilidade arquitetônica e urbanística na UnB. As inscrições vão de 6 a 15 de janeiro.
E em fevereiro, o edital 04/2019 selecionará 30 bolsistas para produção de materiais acadêmicos em formato acessível para estudantes com deficiência visual. O foco serão estudantes, preferencialmente, dos cursos de pedagogia e letras em quaisquer de suas habilitações e licenciaturas em quaisquer áreas.