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GDF quer adotar tolerância zero nas escolas e punir alunos brigões

Secretário de Educação defende aplicação de medidas como suspensão e prestação de serviços. Ele quer promover a campanha Paz nas Escolas

atualizado

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Dênio Simões/Agência Brasília
Sala de aula vazia
1 de 1 Sala de aula vazia - Foto: Dênio Simões/Agência Brasília

O Governo do Distrito Federal (GDF) decidiu adotar a política de tolerância zero nas escolas públicas. Segundo o secretário de Educação, Rafael Parente, o nível de violência nas unidades transbordou os limites aceitáveis. O fato de um aluno ter desferido socos e chutes contra um professor no Centro de Ensino Fundamental (CEF) 25, de Ceilândia, na segunda-feira (25/2), foi a gota d’água.

“É hora de adotar tolerância zero em relação a qualquer tipo de violência que possa ocorrer dentro das escolas”, afirmou Parente. Nos próximos 15 dias, o secretário planeja formular um pacote de medidas, em parceria com a comunidade escolar, para blindar os colégios contra novos episódios violentos. A primeira ação será uma revisão no regimento interno dos centros de ensino, com punições efetivas, inclusive, para frear o bullying.

“Isso vai partir de uma discussão com a comunidade escolar, mas, hoje, o regimento não estabelece punições claras”, explicou o secretário. Nesse contexto, as novas regras poderão incluir a suspensão e a prestação de serviços na própria escola, como a realização de limpeza e pequenas obras. “Outra possibilidade é que o aluno seja obrigado a participar de um curso com professores ou mesmo policiais para aprender o que são os limites da convivência”, arrematou.

Seguindo as bases do antigo projeto Paz no Trânsito, que ajudou a criar a cultura de respeito à faixa de pedestre no DF, Parente também quer lançar uma campanha de Paz nas Escolas. O secretário aposta em um parceria entre sociedade, governo, professores, famílias, Ministério Público e demais órgãos. Nesse contexto, o secretário destacou a necessidade da aproximação e sintonia entre professores e pais. Segundo ele, pouco adianta a escola educar se, em casa, os pais não atuarem na formação dos filhos.

Não dá para tolerar mais a bagunça. Vai ter ordem dentro das escolas. Vai ter disciplina. A sociedade está cansada. Ou adotamos uma ação enérgica e ousada para mudar ou fazemos uma ação medíocre e sem efetividade. E as escolas não podem continuar assim

Rafael Parente, secretário de Educação do DF

Do ponto de vista do secretário, o governo não deve levar o modelo de gestão compartilhada com a Polícia Militar para toda a rede pública. Contudo, a mudança do regimento interno, uma campanha de conscientização e reforços na estrutura escolar poderão gerar resultados. A proposta é reforçar os quadros dos coordenadores pedagógicos e orientadores educacionais.

“É preciso empoderar o professor e o diretor. Não dá para passar a mão na cabeça do jovem que dá socos, pontapés, entra na escola com um canivete e que faz bullying”, concluiu o gestor.

Sinpro desaprova
A proposta de uma política de tolerância zero não ganhou a simpatia do Sindicato dos Professores do DF (Sinpro). Para a diretora Rosilene Corrêa, uma eventual mudança no regimento interno deveria focar esforços na prevenção da violência e não na punição. “Eu discordo de que uma solução tenha que envolver policiais. O papel da polícia é evitar que o crime chegue nas escolas, porque ele é produzido nas ruas”, rebateu.

A sindicalista também ressaltou que a política proposta pelo governo pressupõe investimentos financeiros reais. Independente das críticas, o Sinpro lamenta o episódio do CEF 25. De acordo com Rosilene, a categoria grita por ações de segurança e valorização nas escolas, mas não é ouvida pelos gestores. Em 2008, os professores chegaram a lançar a campanha Quem bate na escola machuca muita gente.

Na leitura da sindicalista, a violência parte da falta de condições e material pedagógico para os professores ensinarem uma cultura de paz, respeito e tolerância para os estudantes. Além disso, faltam ações do governo fora dos colégios para ajudar jovens e crianças carentes. Rosilene não aprova o projeto de escolas militarizadas, mas defende que o Batalhão Escolar seja reforçado e que esteja presente em toda a rede pública.

“E também há a desvalorização do professor. A nossa profissão está se tornando pouco desejada. O professor tem que se humilhar em greves. Ganha pouco, todo mundo fala mal de nós, não somos reconhecidos. Essa desvalorização faz com que um aluno se sinta à vontade para bater no professor. Um profissional valorizado pode trabalhar uma proposta pedagógica de combate à intolerância, ao racismo, ao fundamentalismo. Ele ensina a cultura do respeito ao próximo, seja para quem for”, finalizou.

Agressão
Um professor de matemática do Centro de Ensino Fundamental 25 (CEF 25) de Ceilândia foi agredido com socos e pontapés por um aluno da unidade educacional. De acordo com depoimento prestado pelo docente Giuliano Rodrigues Santos, 36 anos, na Delegacia de Proteção à Criança e ao Adolescente (DPCA), o jovem teria se irritado com a resposta dada por ele durante uma aula de raciocínio lógico.

Aos policiais, Giuliano relatou que ministrava a aula para alunos da 5ª série quando o estudante, de 16 anos, discordou da resposta dada e o confrontou verbalmente. Quando foi repreendido pelo seu comportamento, o adolescente, então, “embolou o papel da atividade e arremessou contra seu rosto”, segundo informou a PCDF.

Após o incidente, Giuliano retirou o jovem de sala e o acompanhou pelo corredor, quando o adolescente “se virou e lhe desferiu um soco em seu rosto e um chute”, conforme depoimento prestado. A agressão ocorreu na última segunda-feira (25/2) e foi registrada pelas câmeras do circuito interno da escola.

Nas imagens (veja abaixo), é possível observar o momento exato em que o professor acompanha o adolescente pelo corredor. Quando ele se vira, agride o docente.

Procurada pela reportagem, a Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEE-DF) confirmou o ocorrido e o classificou como “um caso pontual”. A pasta disse ter disponibilizado apoio psicológico necessário ao professor e orientou que o docente registrasse boletim de ocorrência e fizesse exames de corpo de delito “para tomar as medidas cabíveis”.

A pasta também informou que o agressor está suspenso e não estudará mais no CEF 25. “Será transferido de escola para evitar possíveis conflitos. A transferência de estudantes em casos de conflito dessa natureza é uma recomendação da Promotoria de Justiça de Desfesa da Educação, para evitar situações semelhantes entre as partes no ambiente escolar”, acrescentou.

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