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Estudantes da UnB fazem “deitaço” para protestar contra professores

Alunos do curso de relações internacionais reclamam que os docentes têm atitudes racistas, machistas e homofóbicas. E afirmam que a segurança no instituto é tão rigorosa que não permite, sequer, que eles sentem no chão

atualizado

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Michael Melo/Metrópoles
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1 de 1 unb, deitaço, relações internacionais - Foto: Michael Melo/Metrópoles

Cerca de 60 alunos do curso de relações internacionais da Universidade de Brasília (UnB) protestaram nesta segunda-feira (6/6) contra condutas de racismo, machismo e homofobia que seriam praticadas por professores da graduação. Os universitários criaram uma página para denunciar casos de abuso por parte dos docentes. Em menos de 24 horas, a fan page “No ‘melhor da América Latina’” (expressão usada para designar o curso) contava com 911 seguidores e mais de 200 denúncias.

Os alunos decidiram por deitar nos corredores do edifício em forma de protesto, batizado de “deitaço”. Segundo relatos, docentes do curso utilizam de terror psicológico e têm até mesmo atitudes racistas em sala de aula. “Um dos professores faz as correções de avaliação em voz alta, citando o aluno, mesmo que ele não queira. E colocou uma cadeira na porta para que ninguém saísse da sala”, conta um dos estudantes, que preferiu o anonimato.

O estudante Rafael Santiago, do quarto semestre do curso, afirma que denúncias são feitas há anos, sem respostas efetivas da direção da universidade. “Os casos são registrados na ouvidoria da UnB e até mesmo na esfera jurídica. Mas nenhuma medida foi adotada”, explicou o jovem.

O estudante José Campos participou do ato. Ele disse ser frequentemente abordado por seguranças por estar sentado na entrada do prédio. “Querem fazer do daqui um puxadinho do Itamaraty. Querem trazer toda a formalidade, mas se esquecem que ainda somos estudantes”, afirmou o calouro, justificando que, por isso, os universitários fizeram o “deitaço”.

Além da manifestação, que deve durar toda a tarde de segunda, os estudantes planejam outras ações, incluindo a divulgação de situações constrangedoras nas redes sociais.

De acordo com os organizadores do protesto, o estopim foi o preconceito sistemático de uma professora contra duas alunas negras do curso. “Ela nem olha para as estudantes e as interrompe constantemente durante as aulas. Em uma das apresentações de trabalho, a docente chegou a pedir para outro universitário que traduzisse a explicação da aluna”, apontou um dos idealizadores do “No ‘melhor da América Latina’”.

Uma estudante que não quis ser identificada afirmou já ter discutido com um professor durante a aula. “Ele disse que mulher que não engravidasse deveria se aposentar com a mesma idade que um homem. É um absurdo. Reclamei e ele não falou mais nada”, contou.

O outro lado
O diretor do Instituto de Relações Internacionais, professor José Flávio Sombra Saraiva, disse ao Metrópoles que nos dois anos no cargo não havia recebido denúncias dos casos: “Costumo ter um canal aberto de diálogo com professores e estudantes, mas não sabia desses casos”. Segundo Saraiva, foi criada uma comissão de docentes para tratar do tema com representantes dos alunos. Uma reunião foi marcada para às 10h desta terça-feira (7).

A Secretaria de Comunicação da UnB explicou que a instituição tomou conhecimento da história somente na tarde desta sexta-feira (3/6) e informou que já está apurando o caso. Sobre as reclamações na ouvidoria, o órgão disse que não há registros de acusações.

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