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Dúvidas e falhas de acesso marcam início de aulas virtuais na rede pública

Secretaria de Educação e escolas se organizaram para tirar dúvidas de pais e estudantes. Frequência escolar ainda não é cobrada

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
Alunos em porta de escola
1 de 1 Alunos em porta de escola - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

Suspensas desde 11 de março em virtude da pandemia do novo coronavírus, as aulas para 460 mil estudantes dos ensinos fundamental e médio da rede pública do Distrito Federal foram retomadas nesta segunda-feira (22/06) de um jeito diferente: por videoaulas na TV e internet. Como a frequência dos estudantes só será cobrada a partir da semana que vem, quando também poderão começar as avaliações, a participação dos alunos ainda foi baixa neste primeiro dia da chamada “semana de acolhimento” do programa Escola em Casa.

Embora a Secretaria de Educação do DF (SEE-DF) esteja ofertando pacotes de dados gratuitos a docentes e professores de todas as etapas e modalidades para que o trabalho possa ser realizado, problemas de acesso e muitas dúvidas marcaram o início das aulas remotas. Pais reclamaram que os filhos não conseguiram o código para entrar nas videoaulas e também se mostram preocupados ou com a instabilidade da internet ou por não terem meios digitais em casa.

A pedagoga da equipe especializada de apoio à aprendizagem do Caic JKO Núcleo Bandeirante, Sirlene Bastezini, afirmou que está acompanhando todo o processo e esclarecendo dúvidas de pais e alunos.

“Fizemos vários tutoriais e acreditamos num retorno muito positivo. Ainda temos relatos de dificuldades em relação à internet e acessos à plataforma. O quantitativo, nós vamos ganhando com um certo tempo e buscando alternativas para que todos participem. É uma corrente para atingir o máximo de alunos.”

Ainda de acordo com a pedagoga, os professores estão tendo que se reinventar. Muitos, inclusive, estavam em processo de aposentadoria, nunca tiveram acesso à informática e agora estão se virando para atender os alunos. “Acreditamos que todos, e também as famílias, vão estar mais próximos, participando mais de todo o processo educacional. É um momento de união. Estamos fazendo posts de rotina nas redes sociais da escola para que todos consigam se adaptar à ferramenta”, disse.

Ansiedade

Morador de Samambaia e aluno do 7º ano do ensino fundamental, Tiago Costa, 12 anos, estava ansioso para o retorno das aulas. Ele já vinha participando das atividades a distância e assistindo aulas pela TV durante a pandemia. Também fez tarefas encaminhadas pela própria escola. Agora, assistirá às aulas do Escola em Casa, da Secretaria de Educação, pelo computador.

“Estou animado. Eu prefiro assistir pelo computador. Não vai ser difícil porque já estou assistindo. O professor faz falta, mas, com as interações ao vivo, conseguimos tirar dúvidas e fazer os exercícios que serão repassados. Dá pra assistir várias vezes, também”, disse.

Apesar de o filho demonstrar empolgação, o pai de Tiago, Márcio Augusto Costa, 47 anos, está preocupado com a nova dinâmica das aulas. Segundo ele, o ensino do filho poderá ser prejudicado pela ausência das aulas presenciais, principalmente pela falta de professores para orientá-lo presencialmente.

“Na minha opinião, não deveria ter voltado assim. Isso vai dificultar a aprendizagem. Ele não vai estudar igual na escola porque na frente do computador é muito mais fácil distrair. O foco é diferente. Seria melhor esperar essa situação do país [pandemia da Covid-19] passar para começar tudo do início”, opinou.

A adolescente Amanda Mariane Souza, 17, tem internet em casa, mas a conexão é instável. Ela também está preocupada com a nova dinâmica. “Cai muito [a conexão] e isso atrapalha para a gente assistir uma aula completa pela rede. Estou vendo a possibilidade de conseguir um acesso melhor. Hoje mesmo, não consegui assistir nada”, explicou a jovem.

Ela também declarou que não é a única a ter dificuldades. “Moro no Pôr do Sol e estudo em Ceilândia. Na minha sala, tem uns quatro colegas que nem computador têm. Não sabemos como vão se virar. Eu acho que não deveria voltar se a gente vai enfrentar esses contratempos todos”, reclamou, preocupada.

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Muitas dificuldades

Para o Sindicato dos Professores do Distrito Federal (Sinpro-DF), são muitas as dificuldades encontradas pelos professores para a execução do trabalho remoto. Entre elas, a falta de investimento ao longo dos anos na formação dos docentes para atuar com os meios tecnológicos e a estrutura deficiente das escolas. Além disso, o fato de muitos alunos não possuírem equipamento eletrônico deve ser levado em conta.

“Infelizmente, esses alunos serão excluídos e irá aumentar ainda mais a desigualdade social. As atividades impressas e entregues aos alunos também não irão garantir a aprendizagem dos mesmos”, afirmou o diretor do sindicato Samuel Fernandes.

Ainda de acordo com Samuel, a melhor solução para evitar a exclusão de milhares de estudantes seria o governo garantir, além da internet, os aparelhos eletrônicos para os alunos da rede pública que não têm acesso a esses meios tecnológicos.

“Não adianta disponibilizar internet gratuita para o acesso à plataforma se o aluno não tem o tablet, um celular ou um computador para ingressar na plataforma on-line. Não podemos aceitar nenhuma medida que possa excluir alguém. O governo precisa cumprir sua função e ofertar todas as condições para que os alunos tenham o direito a uma educação pública, gratuita e de qualidade”, concluiu.

Monitoramento

Assessor especial da Secretaria de Educação e coordenador do Escola em Casa, David Nogueira acredita que a retomada do ano letivo com cobrança de frequência, a partir do dia 29, contará com adesão de todos os alunos. Segundo ele, no primeiro dia de aulas à distância para os alunos da rede pública ocorreu o cadastramento de 525,7 mil pessoas da comunidade escolar na plataforma lançada pela Secretaria de Educação. O número inclui professores efetivos e substitutos, gestores e estudantes, num universo total de 630 mil indivíduos.

Cada unidade escolar terá autonomia para organizar o apoio ao retorno dos estudantes. “O acolhimento é informação. As escolas devem organizar suas rotinas. Cada unidade deve ter uma dinâmica própria, mas é importante que os professores estabeleçam contato com seus estudantes, dentro do horário ou periodicidade estabelecida pela escola”, explicou Nogueira. O dia a dia da organização será determinado pelas escolas.

Durante esta semana, a Secretaria de Educação vai mapear os pontos positivos e negativos do ensino mediado. David espera ter uma radiografia dos problemas, do que pode ser melhorado em curto, médio e longo prazos e saber quem não conseguiu acessar e o motivo, para fazer correções de rumo.

“É natural que um programa deste tamanho, feito em pouco mais de 100 dias, apresente problemas, por isso vamos levantar informações que nos possibilite trabalhar rapidamente sobre soluções”, pontuou  Nogueira.

As unidades escolares terão apoio da Secretaria de Educação do DF para solucionar possíveis problemas, como a ausência dos alunos no ensino mediado. “As escolas devem reportar às coordenações regionais aqueles casos em que não conseguem ter nenhum contato com os estudantes para que possamos adotar as medidas necessárias”, esclareceu Nogueira.

Confira como vai funcionar cada modalidade:

Teleaula

Nesta modalidade, as aulas serão transmitidas pela TV Justiça. A emissora de TV aberta não cobrará nada do Executivo local para reproduzir as atividades no canal. A programação começa com três horas por dia. O conteúdo veiculado mais cedo, por volta das 9h, será para a educação infantil. A programação vai progredindo com o passar dos minutos até chegar ao ensino médio. O cronograma completo foi divulgado. 

As teleaulas não vão substituir as presenciais ou contar na frequência dos estudantes. Elas servem para que os alunos não percam conteúdo nesta época de quarentena.

A Secretaria de Educação também fechou parceria com a TV Gênesis e a TV União, que vai exibir o conteúdo, mas ainda sem data marcada para o início das transmissões, e com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), que cede os estúdios para as gravações. A pasta tenta contratar uma quarta emissora.

Webaula

google sala de aula reprodução

Os alunos da rede pública de ensino do DF com disponibilidade de computador e internet terão aulas mediadas por meio da plataforma Google Sala de Aula.

A modalidade permite aferir a presença dos estudantes e a aplicação de avaliações. Os primeiros a testar o formato serão os estudantes do ensino médio, a partir desta segunda-feira (22/06).

Para fazer o uso da plataforma, é preciso registrar login no site. Um código usado no acesso e específico para cada estudante consta no boletim escolar do aluno. Em casos de problema com o cadastro, é preciso comunicar à Secretaria de Educação pelo telefone 156, opção 2.

Conteúdo impresso

Apesar de minoria, parte dos estudantes afirmou não ter acesso à internet nem à televisão. Para esse grupo, a Secretaria de Educação informou que produzirá materiais didáticos impressos.

Caberá aos pais e responsáveis dos alunos irem à escola pública para coletar o material. A data de devolução dos exercícios resolvidos será estabelecida pela própria instituição de ensino e professores.

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