Com aulas a distância, pais e alunos pedem redução da mensalidade

Alunos dizem que método de ensino pela internet não substitui o presencial e querem redução dos valores cobrados por faculdades e escolas

Matheus Garzon
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Escolas e faculdades particulares do Distrito Federal adotaram, após a suspensão das aulas por decreto no dia 11 de março, atividades via internet como alternativa para evitar que todo o semestre ou ano letivo seja perdido por causa da pandemia de coronavírus. Apesar de muitos estudantes relatarem uma boa adaptação ao novo método de ensino, a manutenção do preço das mensalidades preocupa.

O aluno Luiz Gustavo das Neves, 22 anos, do 5º semestre de administração no Iesb, por exemplo, lamenta que a decisão da instituição onde estuda tenha sido pela continuidade do valor cobrado. “Eles já bateram o martelo e disseram que não iriam diminuir. Você pode até fazer uma solicitação, mas pedem a comprovação de tanta coisa que parece uma compra de imóvel”, reclama.

Para ele, apesar de a qualidade das aulas estar mantida, com os mesmos professores dando o conteúdo, fica claro que não é possível ter o mesmo aproveitamento das aulas presenciais. “Às vezes a internet cai, tem que esperar voltar. Fora que os professores não têm quadro negro em casa. Para explicar cálculo, por exemplo, fica bastante complicado”, lamenta.

Na Uniceplac, a situação também inspira dúvidas nos estudantes. Mariana Carvalho, 25, que está no 9º semestre de medicina, diz que os problemas no curso dela ainda vão além. “A partir do meu período é feito o internato, onde a prática é muito importante. Desde o começo da crise causada pelo coronavírus, no entanto, elas foram canceladas e as mensalidades continuam chegando”, conta.

Ela relata que em março houve apenas um dia de aula e, com a crise, não são todas as famílias que conseguirão manter um curso caro como o de medicina. “Alguns pais já não sabem como vão fazer. A universidade não fala com a gente e muitos não conseguirão mais arcar com o preço de R$ 7 mil ou mais, dependendo do ano de entrada”, explica.

Colega de sala de Mariana, Thaís Rodrigues Silva, 27, ressalta a gravidade da situação.

Já no UniCEUB, o discente de arquitetura Diego Kern, 34, reclama da falta de diálogo com a direção da unidade. “Nós não podemos ficar com todo ônus. Não acho que devemos ficar sem pagar, mas precisamos de um acordo. No contrato assinado no começo do ano não estavam previstas aulas a distância”, pontua.

Conforme conta, o curso acabou sendo divido em dois: durante a quarentena, apenas teoria e, depois, acontecerão as práticas. “Está bem complicado. Os professores estão se virando para tentar dar boas aulas, mas não é a mesma coisa”, afirma.

Situação parecida ocorre no Centro Universitário do Distrito Federal (UDF). Uma estudante de pedagogia que preferiu não se identificar relata não apenas que a mensalidade foi mantida, como a plataforma que tem sido utilizada apresenta problemas. “Falha áudio, falha vídeo. Eu mesma estou há três dias sem conseguir entrar no site”, conta.

Para ela, o semestre tem sido extremamente complicado e o aprendizado que ela levará para a carreira é falho. “Não está sendo a mesma coisa. A prática que a gente precisa, para saber lidar com uma criança, precisa ser presencial”, argumenta.

Escolas também defendem manutenção do preço

Pelo lado das escolas de nível fundamental e médio, o Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Distrito Federal (Sinepe-DF) informou que, mesmo com as aulas presenciais suspensas, as escolas precisam “cumprir seus compromissos trabalhistas, tributários e financeiros, honrando os empregos de seus colaboradores” e, por esse motivo, recomenda a manutenção do preço das mensalidades.

“Em caso de demandas específicas, a família deverá procurar a escola de seu(sua) filho(a) a fim de buscar soluções em conjunto”, afirma a nota divulgada no site do sindicato. Esse é o posicionamento da entidade após reunião com representantes do Instituto de Defesa do Consumidor (Procon-DF), que, por sua vez, informou que a questão ainda não está definida.

O presidente da Associação dos Pais de Alunos do  DF (Aspa-DF), Alexandre Rodrigo Veloso, entende que cada escola tem características diferentes e, por essa razão, as tratativas sobre redução no valor da mensalidade têm de ser individualizadas.

“Tem colégio com condição plena de oferecer ensino a distância com qualidade, mas outros não têm tecnologia para isso. Não vamos ser irresponsáveis de estimular uma corrida dos pais às instituições no sentido de pedir desconto. A nossa orientação é que os responsáveis acompanhem com atenção se as atividades do calendário escolar serão cumpridas”, ponderou Alexandre.

O que dizem as instituições

Entre as universidades, o UniCEUB informou que, em 19 de março, adotou o uso temporário dos recursos on-line e que as demais aulas de laboratório e de campo “serão repostas após o retorno regular, em datas a serem combinadas”. Esse modelo, diz o centro universitário, será mantido até que sejam liberadas as atividades presenciais por parte do Ministério da Saúde e do GDF. A instituição afirmou ainda que está disposta a dialogar e buscar alternativas “para aqueles estudantes que forem severamente afetados por esta crise”.

Já o Iesb destacou que serão concedidos descontos de 10% a 90% nas mensalidades de abril, maio e junho de 2020 àqueles que tiveram “a renda reduzida ou completamente impactada pelas medidas de distanciamento social”. A solicitação pode ser feita via plataforma Aluno Online. A instituição afirma realizar o empréstimo de computadores por método drive-thru. O empréstimo de livros físicos também funcionará da mesma forma que o de computadores.

Por nota, o UDF explicou que “para garantir o pleno funcionamento do ambiente virtual de aprendizagem, o time de profissionais segue empenhado, todos os dias, em oferecer as melhores soluções para atender as necessidades de seus alunos”.

Com relação à cobrança das mensalidades, a instituição diz que seguirá com o mesmo valor “pela continuidade da disponibilização de toda infraestrutura do UDF (colaboradores, professores e canais) e de seus serviços (aulas, conteúdos, horários)”.

A Uniceplac não respondeu o e-mail enviado à assessoria até a última atualização desta matéria.

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