“Desafio criar bebê sem pai”, diz mulher de bombeiro morto na Bolívia
O militar Anderson Araújo Costa Bomfim, 30, estava acompanhado de um colega quando sofreu o mal súbito em uma trilha na Bolívia
atualizado
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“Eu não sei o que está por vir”, avalia Nara Duarte, 37 anos, mulher do soldado Anderson Araújo Costa Bomfim, 30. O bombeiro militar do Distrito Federal morreu no último domingo (25/9) após uma parada cardiorrespiratória provocada por um edema pulmonar. Ele estava de férias em La Paz, capital da Bolívia. O militar estava acompanhado de um colega quando sofreu o mal súbito, enquanto descia da montanha Kunturiri
“Desafio criar um bebê sem pai. É toda a insegurança. Vou fazer de tudo para preservar a memória dele e passá-la para o nosso filho. Amor não vai faltar para ele. A gente ainda está muito com choque com tudo com o que aconteceu. Não faço ideia do que vai fazer daqui em diante”, lamenta Nara.
Ela não tinha notícias do companheiro desde a última terça-feira (20/9), quando ele e o colega de viagem iniciaram o processo de aclimatação para subir a montanha Kunturiri, na Cordilheira Real da Bolívia. O pico tem 5.741m de altitude. “A expectativa era de voltar a ter contato no domingo. Aí, infelizmente, na descida, isso aconteceu”, explica.
De acordo com Nara, a causa da morte de Anderson foi um edema pulmonar, ocasionado pela elevada altitude. Essa foi a segunda vez que o militar esteve naquele país. Em 2018, ele subiu até o topo do vulcão Laskar, uma subida de 5.592m.
“Foi uma subida um pouco mais tranquila, porque tinha muita geleira. Ele conheceu essa montanha (Kunturiri) na viagem anterior, em 2018, e ficou interessado em subir”, conta.
Demora na chegada do resgate
Segundo o capitão do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) Robson Bomfim, pai de Anderson, o resgate da ambulância demorou bastante para ocorrer devido ao terreno montanhoso. “Na hora, eles subiram em um local alto, não chegaram ao topo, e ele começou a passar mal. Em seguida, o colega dele pediu para o guia chamar o socorro. E, de repente, ele apagou. Não tinha sinais vitais. O companheiro de viagem começou o RCP (reanimação cardiorrespiratória), mas, infelizmente, não teve êxito. Aguardaram a ambulância chegar, mas demorou muito por conta do local”, detalha pai da vítima.
O capitão afirma, ainda, que há muita burocracia para fazer o traslado do corpo de Anderson até o Brasil. “A gente está tentando fazer uma vaquinha para custear o transporte, resgate e os serviços funerários. São cerca de R$ 45 mil já convertidos”, diz. “Se Deus quiser, até amanhã, ou, no máximo, até quinta, o corpo dele estará aqui”, completa Robson.
“Pessoa fantástica”
Para o major Alisson Bernardi de Barros, 38 anos, o soldado Anderson Araújo Costa Bomfim, 30, “era uma pessoa fantástica”. O militar comandou o soldado no curso de formação de praças e no batalhão em que atuavam.
“Cara com um coração gigante, sorria o tempo todo. O avô dele foi bombeiro, e o pai também. Desde 1940, a família dele estava nos bombeiros. Ele era excelente, nunca tive problema com nada. Nem de saúde, nem militar. Era só solução. Vivia a vida com propósito”, reforçou o major Alisson.
Nota de pesar
O militar deixou a companheira e o filho, de 1 ano. Em suas publicações nas redes sociais, colocava diversas vezes o versículo da Bíblia 2 Crônicas 15:7: “Mas esforçai-vos, e não desfaleçam as vossas mãos; porque a vossa obra tem uma recompensa”.
Em nota de pesar divulgada pelo CBMDF, a corporação informou que socorristas não conseguiram reanimar a vítima. “A corporação está prestando todo o apoio à família e aos companheiros de farda, bem como tomando todas as providências que o caso requer”, destacou.
Anderson tinha o hábito de escalar montanhas. Antes, havia percorrido as trilhas dos vulcões de Láscar, no Deserto do Atacama, no Chile, e do Vesúvio, na Itália.