Guilherme Nascimento Pereira, 29 anos, detido na quinta-feira (2/2) por espancar até a morte a namorada, Letícia Barbosa Mariano, 25, teve a prisão em flagrante convertida em preventiva no sábado (4/3), após audiência de custódia. O crime aconteceu no banheiro da casa da vítima, no Setor de Indústrias Gráficas de Taguatinga, no Distrito Federal, na quinta-feira passada (2/3).
Para o juiz Tarcísio de Moraes Souza, que analisou o processo, a manutenção da prisão se fez necessária para garantir a preservação da ordem pública. “Os fatos são concretamente graves”, disse o magistrado. “Lamentavelmente, o avanço da perigosa escalada de violência doméstica atingiu contornos irreversíveis em relação à vítima”, declarou.
“No momento, resta ao Poder Judiciário atuar com rigor para afastar o autuado do convívio social, a fim de impedir que o seu comportamento doentio em relação às mulheres afete novas vítimas”, pontuou Souza.
O juiz mencionou, ainda, que as diversas passagens e condenações de Guilherme em crime de roubo, de lesão corporal em contexto de violência doméstica e familiar contra a mulher, servem para justificar a manutenção da prisão preventiva do autor.
“Tais informações denotam o descompromisso do apresentado com as determinações judiciais impostas a ele, bem como a ineficiência do processo de ressocialização que permitiu a ele ingressar no regime mais brando. Constatações essas que, por conseguinte, demonstram a absoluta ineficiência das medidas cautelares diversas da prisão preventiva para o caso vertente”, finalizou o magistrado.

Amigos e parentes choram no velório de Letícia Barbosa Mariano, 25 anos, espancada até a morte pelo companheiro Guilherme Nascimento Pereira, 29Matheus Veloso/Metrópoles

Maria Silandia, madrasta de Letícia, chora no velório da enteadaMatheus Veloso/Metrópoles

“A Letícia era um amor de pessoa. Não tinha coragem de levantar a mão pra ninguém. Amava cachorros, defendia as irmãs dela, um amor, a melhor pessoa do mundo”, conta, aos prantos, a madrasta Maria SilandiaMatheus Veloso/Metrópoles

Dezenas de amigos e familiares reuniram-se na tarde desta sexta-feira (3/3) no Campo da Esperança da Asa Sul para o último adeusMatheus Veloso/Metrópoles

Guilherme Pereira foi preso horas depois do crime, em um hotel de Ceilândia, e autuado na 17ª Delegacia de PolíciaMatheus Veloso/Metrópoles

Letícia já havia denunciado Guilherme por ameaça e lesão corporal. A Justiça indeferiu o pedidoMatheus Veloso/Metrópoles

Velório foi acompanhado por parentes e amigos da vítima

Letícia Barbosa Mariano, 25, e Guilherme Nascimento Pereira, 29, haviam namorado por cinco anos, mas terminaram em junho de 2022Metrópoles

Letícia Barbosa Mariano
O crime
O crime aconteceu por volta das 4h30 de 2 de março. O assassino fugiu, mas foi preso horas depois em um hotel em Ceilândia.
Antes de ser detido, Guilherme mandou mensagens a um familiar e pediu ajuda para livrar-se do assassinato. Contudo, diferente do que gostaria de ouvir, Pereira foi aconselhado a entregar-se às autoridades.
“Espera até de manhã! Não sei se ela está morta. Trisquei nela e a bicha está mexendo um pouco o pescoço e o peito. Espera! As vezes é cachaça. Espera um pouquinho. Não vai [agora] não”, começa o suspeito.
“Não vai na delegacia não, por favor! Eu já estou na desgraça. Por favor, não vá! Só não vá. Estou na rua, moço. Eu estou dando voltas. Eu fiz foi fugir, já. Eu pedi ajuda e vocês querem me colocar na cadeia. Por favor, véi! Eles vão saber que fui eu”, finalizou.
Letícia havia denunciado o namorado por ameaça e lesão corporal. O Metrópoles teve acesso a detalhes de uma denúncia registrada pela vítima, em 17 de setembro do ano passado, contra o namorado. Na ocasião, a vítima alegou que namorou o autor por cerca de cinco anos e terminou o relacionamento em junho de 2022.
A jovem também revelou que o companheiro sempre apresentou comportamento violento e que chegou a ser agredida física e moralmente por ele. Guilherme, inclusive, chegou a reclamar da “roupa curta” de Letícia.
À época, a vítima procurou ajuda das autoridades contra o agressor. A delegada responsável pelo caso pediu a prisão preventiva do suspeito, mas o Ministério Público entendeu que não havia requisito para a prisão – e a Justiça indeferiu o pedido.
Na decisão obtida pelo Metrópoles, a juíza do 2º Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Ceilândia diz que não há informações de que Guilherme teria descumprido medidas de proteção anteriormente pedidas por Letícia e, portanto, não havia necessidade de “custódia cautelar”.
“Há previsão legal de outras medidas menos gravosas, como as medidas protetivas de urgência, que podem garantir a integridade física e psíquica da possível vítima, as quais já foram deferidas em favor da ofendida nos autos da Medida Protetiva de Urgência. Ausentes, portanto, os requisitos necessários à decretação da prisão temporária porquanto não resta demonstrada a necessidade da custódia cautelar para as investigações do inquérito policial”, disse a juíza Joanna D’Arc Medeiros Augusto.
Agressões
Quando registrou o boletim de ocorrência, Letícia afirmou que havia sofrido uma tentativa de feminicídio e requereu medidas protetivas de urgência.
Aos policiais, a vítima contou que encontrou Guilherme enquanto caminhava pela rua, e o agressor tentou iniciar uma conversa. Diante da negativa da vítima, ele a acertou com um murro no rosto.
Em 14 de setembro de 2022, o suspeito, extremamente irritado e descontrolado, foi à casa da jovem e começou a gritar: “Desgraçada, desgraçada. Eu quero ver seu Instagram”. Em seguida, puxou os cabelos dela, com bastante violência e a ameaçou: “Eu vou te matar. A sua roupa está muito curta”. O criminoso chegou a pressionar Letícia contra o muro e continuou as agressões, dizendo: “Põe a senha do Instagram, senão eu te bato”.
Apavorada, ela conseguiu se desvencilhar, correr e se abrigar em um salão de beleza. Testemunhas ligaram para a Polícia Militar, que chegou ao local quando o suspeito já havia fugido.
Em depoimento, a jovem reforçou que a conduta do agressor era reiterada e que ela não “suportava mais o abalo psicológico” causado pela situação. Acrescentou que temia pela própria vida, devido ao temperamento agressivo, violento e imprevisível do ex-namorado. Letícia descreveu Guilherme como “profundamente possessivo e ciumento”, e disse que ele não aceitava o fim do relacionamento.