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Com dinheiro de fiéis, bispo mantinha caixinha mensal de R$ 3 mil

Segundo investigação do MPGO, religioso mascarava as apropriações, alegando “ajuda de custo”. Dom José Reinaldo foi preso na Operação Caifás

atualizado

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Neivaldo Moraes/Divulgação
bispo de formosa, dom josé ronaldo
1 de 1 bispo de formosa, dom josé ronaldo - Foto: Neivaldo Moraes/Divulgação

Com dinheiro de doações e dízimos de fiéis, o bispo de Formosa, dom José Ronaldo Ribeiro, preso no âmbito da Operação Caifás, costumava manter uma caixinha mensal de R$ 3 mil. Investigações conduzidas pelo Ministério Público de Goiás (MPGO) desvendaram como o religioso supostamente se apropriava de forma indevida de recursos repassados à cúria.

Segundo os promotores, assim que os valores caíam na conta, ele usurpava uma parte. A cifra era transferida para sua conta particular ou retirada por meio de compensação de cheques. A operação era mascarada a título de “ajuda de custo”, conforme demonstraram cópias de recibos firmados pelo bispo e juntados aos autos da investigação.

Conforme o MPGO, de todo o recurso angariado pelas paróquias, os padres repassavam para a conta da cúria, em Formosa, o percentual de 10%. Eles ainda entregavam 15% da arrecadação de festas promovidas pelas casas religiosas. Em 2017, o montante total arrecadado pela igreja do município goiano foi de R$ 3,5 milhões, conforme declarado por um dos investigados.

Veja trecho do processo que corre no MPGO:

“Somos honestos”, diz irmão de bispo
Um dia após a detenção de dom José Ronaldo Ribeiro, familiares do religioso ainda não conseguem acreditar nas suspeitas de que o ex-pároco da igreja Nossa Senhora Imaculada Conceição, em Sobradinho, possa estar envolvido com uma associação criminosa. O grupo do qual dom Ronaldo faria parte é acusado de desviar mais de R$ 2 milhões de dízimos, taxas e dinheiro de eventos da instituição católica localizada na região do Entorno do Distrito Federal. 

A mãe de dom Ronaldo, dona Ilda, e Nélio Ribeiro, irmão dele, moram a 3km da igreja. A reportagem esteve na casa da família e conversou com Nélio. Ilda, que estava descansando, foi aconselhada a não dar entrevista.

Juiz nenhum vai ter que falar para o meu irmão se ele fez alguma coisa errada.

Nélio Ribeiro, irmão de dom José Ronaldo

Nélio disse que ele e os outros sete irmãos – um falecido – estão assustados com as acusações. Ele acredita, no entanto, na integridade de dom José Ronaldo. “Confiar, a gente confia. Na realidade, fizeram uma ‘cama de gato’ [armação] para ele. Nós somos muito honestos, então, quando acontece alguma coisa assim, a gente se assusta”, afirma Nélio. Ele conta também que a própria igreja supostamente investigou dom Ronaldo, mas, por falta de provas, teria arquivado o processo.

Veja o depoimento de Nélio, irmão do bispo dom Ronaldo

“Desde o ano passado, o pessoal [da Igreja Católica] foi atrás [dele], mas não encontrou nada e arquivou [o processo]. Essa investigação não aconteceu agora, estourou agora. Como meu irmão honesto, ele apertou várias pessoas que estavam muito soltas, daí colocaram esse tipo de coisa [denúncia] para cima dele”, suspeita Nélio.

 

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Comunidade assustada
A prisão do pároco surpreendeu os fiéis da Igreja Nossa Senhora Imaculada Conceição, em Sobradinho, onde o religioso trabalhou por 22 anos.

O padre espanhol Manuel Perez Candela é o atual pároco da igreja. Ele mostrou-se atônito com as denúncias. “Fomos pegos de surpresa. Ninguém esperava isso. Até que se prove o contrário, ele é inocente. Que investiguem”, disse.

Na manhã dessa terça-feira (20/3), o aposentado Deusvaldo Lago, 65 anos, demonstrou indignação com o caso. “Tem de pagar, se for verdade. Que o expulsem e também sua turma. Ronaldo tinha excelente conceito aqui, era um dos mais famosos e atendia todo mundo o tempo todo. Vamos ver o que as investigações vão apontar”, ponderou Deusvaldo. Ao todo, foram nove presos na operação, incluindo padres e o bispo.

Os funcionários da igreja não quiseram comentar a prisão do ex-pároco. Em poucas palavras e sem se identificar, falaram que dom José era um grande líder. Segundo eles, a detenção pegou os fiéis de surpresa. As notícias logo se espalharam nos grupos de WhatsApp da comunidade, onde muitos questionaram a veracidade das investigações e outros lamentaram o possível envolvimento de dom Ronaldo.

Nessa terça (20), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nota sobre o escândalo, manifestando solidariedade com o presbitério e os fiéis da diocese.

Operação Caifás
A Operação Caifás foi deflagrada com o objetivo de desarticular uma associação criminosa que atuava desviando recursos de igrejas católicas do Entorno do Distrito Federal, incluindo Formosa e Planaltina de Goiás.

O prejuízo estimado ultrapassa R$ 2 milhões. Os fundos teriam sido utilizados, segundo interceptações telefônicas, para comprar fazenda de gado e casas lotéricas. Tudo para fins particulares.

O bispo de Formosa, dom José Ronaldo, quatro padres e um monsenhor foram presos. Os recursos eram provenientes de dízimos, doações, taxas oriundas de batismos e casamentos, além de arrecadações vindas dos fiéis para a realização de festas religiosas. Ao todo, os policiais cumpriram 13 mandados de prisão e 10 de busca.

Foram apreendidas caminhonetes da cúria de Formosa em nome de terceiros, além de grande quantia de dinheiro em espécie – o valor ainda não foi divulgado. A operação foi batizada de Caifás, em referência ao nome da pessoa que encaminhou Cristo para o julgamento.

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