metropoles.com

100 mil famílias ocupam irregularmente imóveis da Codhab. GDF apura

Atual gestão identificou uma série de problemas, como servidores que embolsariam verba pública e loja que não paga aluguel há 17 anos

atualizado

Compartilhar notícia

JP Rodrigues/Metrópoles
Apartamento na SQS 404 da Codhab
1 de 1 Apartamento na SQS 404 da Codhab - Foto: JP Rodrigues/Metrópoles

Companhia de Desenvolvimento Habitacional do DF (Codhab) investiga irregularidades em imóveis da empresa pública espalhados pela capital. Os problemas vão desde a ocupação de lotes por 17 anos sem o pagamento de qualquer taxa e o suposto envolvimento de servidores na cobrança de aluguel com apropriação de dinheiro público a desvio de finalidade em habitações de interesse social. A estimativa é que ao menos 100 mil famílias ocupem irregularmente centenas de imóveis ou terrenos da companhia.

A estatal tem como finalidade o fomento de políticas habitacionais e reúne um patrimônio que inclui lotes, prédios e apartamentos. No entanto, a própria companhia não sabe o valor dos bens que possui, devido à falta de controle dos dados vinda de gestões passadas.

Todas as informações estão em papel, armazenadas em caixas amarelas, com volumes espalhados pelo prédio que abriga a empresa pública, no Setor Comercial Sul. Não há como cruzar dados, por exemplo, para saber se um imóvel está desocupado, se o aluguel é pago ou se pode ser vendido.

Ao assumir a direção da empresa, em janeiro deste ano, a nova gestão iniciou uma série de ações para melhorar o controle patrimonial. Nos primeiros 90 dias, por meio da Gerência de Fiscalização, a Codhab encontrou 70 imóveis com desvio de finalidade somente no Paranoá Parque e no Jardins Mangueiral. Outras denúncias, que ainda serão apuradas, dão conta de que esse número pode subir para 500.

Os desvios de finalidade se aplicam a todos os imóveis vendidos para pessoas de baixa renda, como no Programa Morar Bem, que descumpriram as cláusulas contratuais. Pelas regras estabelecidas, os proprietários não podem vender, alugar ou transferir o domínio da residência no período de 10 anos, mas há diversos casos de irregularidade. Em sites de venda na internet, por exemplo, encontram-se facilmente ofertas de imóveis nessas regiões.

PT-DF/Divulgação
Paranoá Parque: imóveis integram políticas habitacionais

 

PCDF investiga servidores
A Codhab também pagou condomínio e Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) de um apartamento fechado na SQS 405, área nobre de Brasília. O imóvel estava cedido a um grupo de arquitetos africanos, que permaneceram no local por dois anos devido a um convênio com o governo.

Eles haviam deixado a unidade há seis meses, mas não foi comunicada a vacância do apartamento. Assim, a Codhab não pôde alugar nem vender a propriedade. Agora, a estatal venderá o imóvel.

Na 404 Sul (foto em destaque), outra situação é investigada pela Polícia Civil, por meio da Coordenação Especial de Combate à Corrupção, ao Crime Organizado e aos Crimes contra a Administração Pública (Cecor). Nesse caso, a suspeita é que servidores estivessem recebendo, de forma ilícita, o aluguel do apartamento.

Segundo os fiscais apuraram, uma senhora morava no local e repassava o dinheiro em espécie a dois funcionários da empresa. A inquilina chegou a tentar regularizar o imóvel, orçado em R$ 600 mil, alegando “interesse social”.

Ela morou seis anos na propriedade nessas condições. Em 13 de março de 2018, pediu à Codhab que fizesse o processo por “estar separada, ter três filhos e não ter para onde ir”. A moradora disse ainda que a documentação traria “a paz que precisa” e concluiu: “Espero em Deus a compreensão desta secretaria”.

A Codhab iniciou então o processo de reintegração de posse, pegou as chaves e também colocará o apartamento à venda.

Veja fotos:

0

 

Além desses dois exemplos, quatro unidades no Plano Piloto estão na mesma situação. Alguns desses apartamentos eram da Câmara dos Deputados, foram repassados à extinta Sociedade de Habitação de Interesse Social (Shis) e hoje são propriedades da Codhab ocupadas irregularmente. Todos encontram-se em processo de reintegração de posse. Eles estão localizados na SQN 408, SQN 414, SQS 308 e SQS 315. Juntos, devem render à Codhab cerca de R$ 3,6 milhões.

Frustração de receita
O descontrole de anos anteriores é tão grande que a Codhab deixou de arrecadar aluguel de três lotes em Ceilândia por 17 anos. A área é explorada comercialmente pela loja Arte Cor, na QNP 19. O dono, Antônio Marcos Alves, abriu a empresa no local há quase duas décadas e nunca pagou aluguel.

A reportagem procurou o empresário, mas um funcionário disse que ele está viajando, encontra-se inacessível e só retorna ao DF em 10 de maio.

À Codhab, Antônio informou ter procurado a empresa para regularizar a situação, em 2005. Segundo o empresário, a orientação recebida foi a de aguardar uma licitação para que ele pudesse comprar o terreno.

Somente neste caso, a Codhab deixou de receber 17 anos de aluguel por três lotes e ainda fica com patrimônio imobilizado. Esse dinheiro poderia ser revertido em processos de regularização fundiária ou em moradias populares.

Veja a loja:

0

 

O Supermercado Guarapari, na QNP 14 de Ceilândia, também faz uso de duas lojas da Codhab sem pagar os custos. Nesse caso, além de terem derrubado as paredes à revelia da companhia, um depósito foi construído. Essa situação deve ser investigada pela Polícia Civil, pois o proprietário do estabelecimento informou à Codhab ter pago R$ 40 mil pela ocupação das salas. A empresa quer saber quem recebeu esse dinheiro, como foi a negociação e por que não há qualquer documentação da transação.

Ao Metrópoles, o dono do Supermercado Guarapari, Renato Palácio, informou que “está averiguando o caso com seus advogados e dará mais informações na próxima semana”.

Veja o imóvel e o depósito:

0

 

Codhab intensifica fiscalização
De acordo com o diretor Imobiliário da Codhab, Marcus Palomo, as ações vão continuar ao longo da gestão e visam apurar desvios de finalidade em imóveis de interesse social, além de identificar e avaliar o patrimônio da empresa.

“Só assim poderemos definir a estratégia da companhia de destinação do patrimônio. Hoje, boa parte não atende aos fins para os quais a companhia foi criada institucionalmente, a exemplo de imóveis comerciais como salas, supermercados, lanchonetes e depósitos”, afirmou.

Segundo Palomo, esses locais poderiam gerar rendimento para a empresa ou terem sido vendidos para aplicação desses aportes em ações de interesse da Codhab, como o investimento nas habitações de interesse social.

Modernização
O presidente da Codhab, o ex-distrital Wellington Luiz (MDB), afirmou que uma das metas de sua gestão é “trazer a empresa para o século 21” e, por meio da informação, coibir fraudes e esquemas de corrupção.

Já há uma força-tarefa incumbida de identificar e avaliar todo o patrimônio da companhia. O próximo passo é tentar informatizar os processos. “Um dos grandes desafios é modernizar também o acesso ao cidadão. As pessoas querem se sentir acolhidas na Codhab. A transparência faz parte das diretrizes estabelecidas pelo governador Ibaneis Rocha”, disse.

De acordo com Wellington também está sendo fortalecida a parceria com a Polícia Civil. “A Codhab estreitou os laços com a direção da PCDF, que designou a Cecor para apurar, com o máximo rigor, denúncias que venham a constituir crimes”, completou.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comDistrito Federal

Você quer ficar por dentro das notícias do Distrito Federal e receber notificações em tempo real?